Novos rostos e velhas sombras

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                                                     ※ Sete ※

Não estamos em uma biblioteca, mas tem estantes com livros dentro da sala. Várias pontronas e almofadas coloridas. É praticamente perfeito para uma reunião com amigos, é confortavel e iluminado. Eu não chamaria isso de reunião de amigos, o que estamos fazendo agora, essas pessoas não são — e nunca vão ser — nossas amigas. Enquanto eles falam e riem, observo a personalidade de cada um, o nivel de relacionamento entre eles, o que falam, se falam, pontuando o que consigo analisar. Imagino que os outros estejam fazendo o mesmo. Oito é o único que tem um alvo mais específico, ele encara o tal de Natsume mais que qualquer outro.

— Então, de onde vocês vieram?

Perguntou a garota de orelhinhas, Aya, preciso gravar os nomes. Aya. A Garota de Orelinhas é Aya. Ela estava sentada em uma cadeira na minha frente, com as mãos nos joelhos e um sorriso amigável no rosto. Mais essa agora... estou classificando sorrisos de tanto que os vi, arhg.

— Um orfanato ao norte — Respondi, olhando para a cereja em cima do bolinho que ganhei a pouco da Rosinha — não era muito conhecido, suponho. Nunca houve visitas.

— Ohh.. ouvi dizer que em alguns orfanatos os membros se consideram uma família, e essa família costuma ter um nome, vocês também tinham isso?

— Yamamoto. — Respondeu Seis, ela mantinha o sorrisinho forçado nos lábios mesmo enquanto lambia o dedo com cobertura doce — Éramos os Yamamoto.

O que a fez responder...ah, Yamamoto, o significado desse sobrenome, se estou raciocinando direito quer dizer "aquele que vive próximo da montanha...a base da montanha", ou algo assim. Era uma relação com a localização da base, na montanha, onde viviamos, no nosso orfanato imaginário, por esse lado não era de tudo uma mentira. E, agora, temos um sobrenome. Quase como uma família. Que grande baboseira, não somos nada mais que desgraçados azarados que estão apenas esperando a oportunidade certa para matar uns aos outros. Mordi o bolinho para me impedir de rir e estragar tudo.

— Yamamoto Runa — Disse o cara que beijou a mão de Seis, quem Oito estava olhando desde que isso aconteceu — É um belo nome, bom de se pronunciar.

— Obrigada, eu acho.

Disse Seis olhando para ele com uma sobrancelha flexionada e um sorriso que puxava seus lábios mais para a direita. O que mais me deixou confusa foi ouvir ela dizer "obrigada", não usamos essas palavras, não somos educados, sequer nos importamos com isso, mas Seis estava esquisita desde que entrou nessa sala. O que é que você está planejando, L. R. N. 2-VI?

— E como vieram parar aqui?

Perguntou a garota com pérolas na cabeça, Hotaru, se não me engano, não costumo me enganar. Olhei para ela, seu olhar estava em Cinco, e o de Cinco, nela.

— Roubei as chaves e entrei em lugares que não podia entrar. — Respondeu Cinco — Peguei remédios perigosos e dei para pessoas perigosas.

— Tinha guardas que não me deixavam ir onde eu queria. — Comentou Seis, passando o dedo pela cobertura de seu bolinho — Então tive que tira-los do caminho. Pra sempre.

— Cansei de ficar preso esperando alguém vir e resolver me tirar de lá — Oito falou, olhando para baixo, mas vi seu rosto se distorcer em uma expressão de malícia — Então resolvi eu mesmo me tirar de lá, para mim, não importava o que aconteceria se tentassem me impedir, eu iria sair.

Faltava eu falar alguma coisa, e eu já sabia o que iria dizer, porque entendi a lógica por trás das respostas deles. Estavam contando o que aconteceu na montanha sem dizer exatamente como aconteceu. E não ligamos para isso, é o que eles esperam ouvir, é o que querem ouvir, o que diriam, todos aqui ja fizeram algo de muito errado, por isso estão aqui. Nós não somos diferentes nesse ponto, a questão é que não nos arrependemos mesmo.

Akai Tenshi - Anjo VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora