Lágrimas que vencem a luta

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✩ Instituto de Readaptação A. M. ✩

✩ 7 de Março ✩

✩ Horário: 18h 16m ✩

★ Hideki Natsume ★

A LUZ DA SALA estava forte de mais e me obrigou a fechar os olhos novamente. Tive que esperar alguns segundos até enfim poder deixa-los abertos, embora eu não estivesse enxergando muita coisa além da luz artificial no teto de cor clara. Me sinto estranho, a cabeça rodando, os sons distantes, uma dor fina e agonizante percorre todo meu corpo, mas não é de tudo ruim, afinal é isso que me indica que ainda estou vivo, sem ela eu iria duvidar. Aos poucos o teto foi tomando forma, comecei a ouvir um barulho de bip, sentir o cheiro de desinfetante e luvas plásticas, coisas que indicam que estou em um quarto de hospital, leva um tempo até as lembranças se organizarem na minha mente, então me lembro o porque de eu estar aqui. Ergo a cabeça pronto para encarar um corativo no meu braço, pronto para ver ele sem minha mão, mas acabo encontrando outro alvo para encarar. Um ainda mais interessante. Ela está inclinada sobre a cama, a cabeça deitada nos braços, os cabelos esparramados sobre o lençol. Quero tocar seus fios lisos e escuros, a luz do ambiente faz seu azul brilhar em um tom mais claro, são os cabelos mais lindos que já vi. Imagino o quanto devem ser macios. Me pergunto a quanto tempo ela esta ali, deitada, me esperando acordar... estava preocupada? Se importa comigo? Talvez goste um pouco de mim. Uma de suas faces pelo menos. Meu pescoço dói, acabo resmungando ao deitar a cabeça no travesseiro de novo, mas a garota não se meche. Talvez esteja dormindo.

— O sangue é mais atraente quando está dentro das artérias. — Sua voz estava abafada, mas entendi cada palavra.

— O que? — Minha voz estava baixa e meus olhos pesados, talvez sejam traços da anestesia. — Runa...

Ela ergueu o rosto da maca, os olhos fundos direcionados para a porta a sua frente. Ela permaneceu ali, encarando a porta em silêncio, os cabelos tampando parte do rosto. Olhei para minha mão e me surpreendi ao vê-la enfaixada por gases e curativos. Eu não comsegui menxer o braço, nem o sentia, a quantidade de anestesia ali devia ser grande. Ao menos aquela dor horrenda do corte passou.

— Acha que vou poder move-la novamente?

Tentei puxar conversa com ela, mas a pergunta era mesmo para mim. Eu fazia esse questionamento consecutivamente na minha mente, querendo saber se ainda moveria minha mão direita.

— Na melhor das hipóteses você volte a sentir ela. Na pior, seus dedos necrosem e os médicos tenham que amputar novamente. — Ela apoiou o cotovelo no colchão e deitou o rosto na mão, finalmente virando o rosto para mim. Runa estava sorrindo, como se estivesse se divertindo ao pensar naquilo. — Mas vamos pensar positivo, não é, Natsume Kun?

Eu não consegui responder nada, ainda sentia raiva pelo que o Yamamoto fez, por ele ter ido tão longe. Minha vontade é de revidar, a sede de vingança me corroendo por dentro, mas sei que não posso. E nada do que eu fizesse talvez fosse o suficiente, pois ele soa como um sociopata.

— Porque esta aqui, Runa? — Olhei para ela, torcendo pra que sua resposta não fosse uma mentira — Porque veio me ver?

— Ah, isso... — Ela se inclinou mais para minha direção, seu corpo ficando sobre a maca, então ela deitou gentilmente ao meu lado, deixando praticamente metade do busto sobre mim. Minha respiração começou a mudar, ela estava muito, muito perto. — Vim para te ver é claro. Saber se estava bem. Se ia acordar direitinho. Conversar... essas coisas.

— Então estava preocupada? — Não pude evitar dar um sorriso malicioso, se a situação fosse diferente, eu passaria os braços em torno da cintura dela e a traria ainda mais para perto. Mas tudo bem, ela esta perto o bastante para que seu perfume me embragueie. — Não precisa se preocupar, não pretendo morrer antes de beija-la.

Akai Tenshi - Anjo VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora