✩ Centro da Cidade de Oymashu ✩
✩ Segunda feira, 20 de Março ✩
✩ Noite Nublada, 22h 54m 12s ✩
★ Herói Profissional - Hawks ★
— NADA POR AQUI — passei a informação pelo rádio enquanto sobrevoava a área norte dos prédios. Eu devo cubrir a parte ao norte, Endeavor o sul, All Might fica com o centro, Cohrl com o leste e os policíais o oeste.
— Nenhum movimento estranho registrado por aqui. — disse Nakashima, o investigador responsável. Ele parecia só alguns anos mais velho do que eu, mas seria falta de educação perguntar.
— A cidade está a mesma bagunça de sempre ao meu ver. — mesmo com o volume do rádio baixo, a voz de Endeavor era inevitavelmente alta.
— Haha vamos lá Endeavor, você precisa se divertir mais! — All Might também tinha uma voz alta, mas não era irritante como a de Endeavor. — A unica sombra que vi por aqui foi a da minha dúvida.
Eu ri, mas acho que fui o único entre todos. Embora não quisesse deixar Might sozinho com a piada, precisei deixar passar dessa vez. Eu não tinha tanta moral como ele entre o grupo atual, as vezes sinto que estão me olhando como se eu fosse apenas um garoto. Um garoto que deu sorte de estar aqui. No fundo da cabeça quase posso ouvir Endeavor me chamar de recruta ou novato. Elevei o vôo e pousei no terraço de um grande prédio de vidro, o unico som que eu podia ouvir era o dos carros lá em baixo e alguns corvos solitários. Posso ouvir os corvos desde que era só um estudante, mas ainda estranho sua presença na cidade.
— Eu tenho sinal verde por aqui. — era Cohrl, a voz baixa, estava sussurando. — CEÚS!
— Espera, Cohrl? Cohrl está ouvindo? Com-
Um barulho estrondoso surgiu no radio, e os ruídos de um sopro vieram logo em seguida. Senti o coração pulsar mais rapido por um estante, então a voz do doutor saiu, abafada, entrecortada, sufocante e, até mesmo, um pouco desesperada. Ele disse:
— AS SOMBRAS ESTÃO AQUI.
E uma risada feminína soou atrás dele.
— Todas as unidades para o lado leste agora! — Nakashima, All Might e Endeavor gritaram juntos no rádio transmissor.
Levei apenas alguns minutos para chegar lá, eu podia ver a exata localização de Cohrl através dos GPSs embutido nos rádios. Era uma parte afastada da cidade, proxima de um grande galpão, o ferro velho estava a alguns metros do lado esquerdo. Segundo o sinal, Cohrl estava dentro do galpão. Mas ele não se movia.
— Ele está no antigo galpão, vou entrar primeiro. — falei no rádio e desci em um beco. Os postes de luz não estavam ligados, de forma que somente a lua era meu ponto lumonoso no local.
— Não faça isso, Hawks, espere que eu e Endeavor já estamos chegando. — All Might respondeu de imediato.
— Cohrl já está colocando o plano em risco, vê se não piora as coisas você também! — resmungou Endeavor. Na minha cabeça, pude ouvir ele resmungar "garoto".
— Hawks, minhas unidades chegarão na sua posição em dez minutos, vamos cercar o galpão. Você pode agir assim que os outros heróis chegarem. — respondeu Nakashima Kyouta.
— Estou vigiando. — foi tudo que eu disse.
— É difícil vigiar no escuro, hein? — me virei abruptamente, assustado com a voz feminina atrás de mim. Dei um impulso para me afastar e voar dali, mas minhas asas pesaram como se fossem feitas de chumbo. Quando olhei para elas, minhas penas estavam pretas, tomadas por sombras. A rua, o beco, tudo em volta tinha sumido, engolido pela falta de luz.
— Você não vai escapar dessa. — falei sério, sem medo, tentando decifrar a forma que estava nas sombras. Pude ver um sorriso.
— Você também não.
Senti uma brisa gélida me rondar a face, a mulher saiu do beco tão rápido quanto apareceu, vindo em minha direção e então, me abraçou. Eu estava paralisado, encarando aquele rosto belo e sombrio tão de perto do meu, seus olhos não tinham irís, eram dois buracos de puro breu. Um de seus dedos contornou meus lábios, então sua boca se aproximou do meu ouvido e ela sussurrou:
— Traga-me Endeavor.
Quando pisquei os olhos outra vez, tudo havia sumido. As sombras, a mulher, o peso em minhas asas, a sensação gélida... não havia mais nada lá. Apenas uma voz macia e harmoniosa retumbando em meus pensamentos. "Traga-me Endeavor". Balancei a cabeça e olhei em volta, as luzes dos postes estavam funcionando novamente, de forma que eu podia ver o beco todo. Um corvo grasnou do alto de um poste, quando olhei pra ele, me encarou e vôou para longe. Em um segundo atrás esse cenário era completamente diferente, agora a unica coisa que restou dele foi minha lembrança e a voz doce que sussurrava "Traga-me Endeavor".
— Hawks! — era All Might, estava saindo do beco. Estava sozinho. — Tudo bem? Você parece um pouco pálido.
— É a luz do poste, estou bem. Onde está Endeavor?
— Bem aqui. — a voz grossa e ríspida veio na direção oposta. Quando olhei para seu rosto, a voz melodiosa sussurrou outra vez na minha cabeça. Quando encarei seus olhos azuis claros, vi uma sombra rondar rapidamente neles. Era só minha imaginação, mas me deixou um gosto amargo na boca. — Vamos entrar logo.
— Eu vou pela frente, Hawks você por cima e Endeavor fica com os fundos. — Might disse e se virou em direção ao galpão.
— Esperem... — dei alguns passos a frente e abri as asas. — Acho melhor Endeavor ir primeiro.
Ele apenas concordou sem dizer nada e foi na frente.
Não sei exatamente no que eu estava pensando.
Eu só sei que ainda ouvia, "traga-me Endeavor".
Ouvia alto e claro.
*** duas horas antes ***
✩ Centro da Cidade de Oymashu ✩✩ Segunda feira, 20 de Março ✩✩ Noite Nublada, 20h 35m 15s ✩
★ Número Nove - Nona ★
Era um cheiro esquisito e pouco grotesco, e mesmo assim bom. Talvez pela razão de sua origem, a lembrança e falta de vergonha por pensar no que tinha acabado de acontecer, o suor e a repiração ofegante, o rubor nas bochechas dele e o brilho culpado nos meus olhos, tudo completava o cenário do que havia acabado de acontecer. Do que muitos chamavam de fazer amor, e que para nós, era só a manifestação de desejos dos quais não tinhamos lógica para explicar, apenas deixavamos que acontecesse. Não sei porque usam esse termo também, não sei o que é amor, e não me importo.
— All Might chegou... — Nikko sussurrou no meu ouvido, aproveitou também para morder minha orelha.
— Então devemos nos apressar... — devolvi a mordida e me levantei. Não posso dar a ele a chance de fazer o mesmo.
— Por que só não matamos ele de uma vez? É um herói forte, não imortal. — ele suspira irritado, mas não é pelo herói, é por mim.
— Porque Cohrl não quer matá-lo, não faz parte do plano. — a água do chuveiro estava gelada, o quente faria barulho, mas eu gosto dela assim, deixa a pele mais macia. — E também, causaria o maior tumulto no mundo todo. Tudo que não precisamos, pelo bem da organização.
— Pelo bem da organização... — ele repete, indiferente.
A organização, sou parte dela, uma importante. Mas acredito que eu seja parte de uma das partes importantes, que embora saiba demais, o que sei não chega nem perto de ser tudo. As letras cravadas em meu ante-braço são o que devo seguir, quem devo ser e o que devo fazer. Quando gravei em mim aquelas letras, estava tão imersa na escuridão que não conseguia ver nem um ponto de luz ao meu redor. Eu podia sentir tudo que as trevas tocavam, cada parte da superfície de um objeto, e era tudo que eu precisava. As letras são circuladas e bem feitas, escritas com vontade independente da dor que causavam, se aquela seria minha marca de poder então seria bem feita.
A individualidade é tudo que importa nesse mundo, disse Cohrl, dominá-la o melhor que pode é indispensável. O mundo não fala abertamente porque nem todos possuem um poder, mas os que possuem, são por natureza superiores, e um dia isso será tão inegável que todos os normais perecerão a um mundo governado pelos poderosos.
Era parte do discurso dele para todos que se tornariam um Evil. E de um jeito impressionante aquelas palaras nunca deixaram minha cabeça. Elas me faziam desejar ainda mais poder e um mundo onde isso me fizesse dominar. Dominar a tudo e a todos.
— Nona. — duas batidas na porta e Nikko olhou entre a fresta. — temos que descer agora.
— Eu estava pensando e me distraí. — me enrolei na toalha e sai.
— Teria sido mais rapido se me deixasse entrar com voc-
— Não, eu já lhe disse uma vez, meus banhos são meus banhos.
★★★
O galpão é um lugar velho que ninguém visita a anos; está empoeirado, sujo e com um ar pesado de causar náuseas. Mas é exatamente por isso que ele é o lugar perfeito para o conflito que está prestes a surgir. Os tanques de água estão por toda parte do lugar, enormes chegando até o teto, gigantes inanimados esperando para serem destruídos. Ou, para destruir.
— Estão vindo, não vai demorar muito agora. — disse o doutor antes de bater em um dos tanques de água. — Eve, sabe o que fazer?
Uma onda de água se formou no tanque e tomou a forma de um corpo humano, aos poucos as gotas foram escorrendo até que surgiu uma garota com cabelos enormes e olhos fundos. Não usava roupas ao que parecia, seus ombros estavam nus e era tudo que dava para ver com ela apoiada sobre a borda do tanque.
— Absolutamente, doutor. — respondeu olhando apenas para ele, como se eu não estivesse ali, como se sequer existisse.
— Ótimo. Junte a água de todos os tanques agora e fique no fundo, não dou mais de um minuto para entrarem aqui. — Cohrl virou para mim e balançou a mão. — Vá logo para o seu lugar.
Antes que eu pudesse responder qualquer coisa como eu gostaria, Cohrl sentou no chão e bagunçou os cabelos, colocou uma máscara de desespero no rosto e ficou olhando para a porta de entrada. Trinquei o maxilar e dei um passo a frente, interrompida por uma corrente de água que passou pelos meus pés, juntando-se a outra mais a frente. Eve estava esvaziando os tanques e juntando tudo em um grande mostro no fundo do galpão.
— Nona, apague as luzes logo! — ordenou Cohrl.
Ergui as mãos a frente do corpo e uma enorme sombra se moveu ao encontro dele, engolindo a figura do homem e extinguindo sua existência no breu. Logo fiz o mesmo com as lampadas, deixando o galpão mais escuro e sombrio do que era naturalmente.
Tudo bem a tempo, uma luz surgiu nas paredes de aço aos fundos do galpão. Foram derretidas e jogadas para longe. O calor e a fúria anunciavam a chegada do convidado de honra que usou os fundos para entrar em sua própria festa. Talvez ele não saiba que é sua festa, será que o convite não foi formal o suficiente?
Endeavor entrou no galpão.
★ Narrador ★
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Akai Tenshi - Anjo Vermelho
FanfictionEla foi criada para ser a queda de todos os heróis. Com um passado orquestrado para que o ódio fosse seu maior companheiro e vingança corressem em suas veias. Sua motivação não passa de um intuído construído por homens loucos e mentirosos, desejand...