13 Mais Constrangimentos

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A semana se passou sem grandes acontecimentos.
Eu ia diariamente para a escola com minha prima e também para o Inglês.

Luísa se recusava a falar comigo. Porém dessa vez eu não me preocupei em tentar me explicar. Estava cansada de ser mal compreendida e ser chamada de falsa, traíra ou coisa do tipo.

Já com Jhony, eu fiz questão de falar e procurei explicar da melhor forma possível o que havia acontecido, sem magoá-lo.
Ele, compreensivo como sempre, continuou me tratando da mesma forma gentil e calorosa, o que me enchia de alegria.

***

No final de semana seguinte, eu, minha mãe e Nina, estávamos dentro do carro às nove e meia da manhã, em pleno sábado, fazendo uma leve e divertida viagem para Osasco.
Era o aniversário da minha avó e nós íamos para participar da pequena reunião que teria para comemorar.

- Quantos anos a vovó está fazendo mesmo? - perguntou Nina, sentada comigo atrás.

- Setenta e cinco - respondeu minha mãe, ao volante.

Ela estava bem bela, com um óculos de sol de marca e um macacão jeans.

Aliás, estávamos as três usando óculos de sol.
Eu e Nina também usávamos shorts jeans, com a diferença de que o short dela era bem mais curto que o meu.
Além disso, ela usava uma daquelas blusinhas de pano leve, amarrada na barriga, enquanto eu usava uma regata de alcinhas rosa.

O clima estava agradável, o som do carro estava ligado baixinho e nós tagarelávamos ao longo do caminho, para matar o tempo.

- Acho que Amber se parecerá bastante com a avó quando tiver essa idade - comentou minha mãe.

- Pra mim Amber já parece ter setenta e cinco anos, tia Marisa - falou Nina, me olhando e rindo.

- Como você é boba, Nina! - Minha mãe gargalhou.

Eu ri e até ia comentar alguma coisa para entrar na brincadeira, mas me perdi olhando para as duas.
De repente, senti um peso na consciência por não contá-las sobre a minha viagem para Nova York.

Como será que reagiriam quando finalmente soubessem?
Toda vez que pensava nisso, preferia que meu pai nunca tivesse me pedido para guardar segredo.

***

O dia em Osasco também foi bem divertido.
Almoçamos na companhia dos meus avós, os pais da minha mãe e do pai de Nina; tiramos uma soneca à tarde e, antes da pequena festa que teria, eu e Nina saímos para dar uma voltinha no bairro e tomar açaí.

Comemoramos o aniversário da minha avó só entre família, com apenas duas ou três conhecidas ali de Osasco mesmo, dentre elas, uma vizinha muito próxima da família.

Nosso presente foi um jogo de xícaras de porcelana com pequenas rosas pintadas, que a minha avó abriu na hora e adorou.

Cerca de duas horas depois, eu e Nina estávamos na sala sentadas no sofá, na companhia de alguns de nossos primos, jogando conversa fora.
Já havíamos comido e bebido, cantado os parabéns, saboreado o delicioso bolo de chocolate que uma de minhas tias fez e só nos restava bater papo mesmo.

- Montaram uma pista de skate aqui. Não fica muito longe daqui da casa da vó. Querem ir lá com a gente amanhã à tarde? - disse Diego, um primo da nossa idade.
Ele tinha a mesma pele branca demais de Nina, e o mesmo tom de castanho no cabelo.

- Sim! - Nina respondeu animada, sorrindo pra ele. - Hum... sabe quem ia adorar ir numa pista de skate, Amber?

- O Jeff? - falei.

- Isso!

- Quem é Jeff?- Caio, de quinze anos, perguntou.

- Um amigo nosso, que curte bastante skate.

- Vou amanhã lá naquela pista dar uma lição de moral naqueles babacas que acham que sabem andar de skate - falou Diego, com superioridade.

Ele tinha um ar meio insuportável.

- Dependendo de qual horário da tarde, talvez a gente já tenha voltado para São Paulo - falei para Nina.

- Qualquer coisa a gente pode ir na parte da manhã - Diego disse me encarando, com uma certa malícia no olhar.

Eu hein!

A porta da sala estava aberta e o ar que entrava já estava me deixando com um pouco de frio. Sim, eu era muito frienta. Não perdia uma oportunidade de vestir um casaco. Passei as mãos pelos braços, tentando aquecer a mim mesma.

- Mas tem uns caras lá que fazem umas manobras radicais -  comentou Caio, enquanto Diego revirava os olhos.

- Você ainda não viu nada!

Eu me levantei.

- Já volto, gente.

Nina nem reparou direito na minha saída. Estava ocupada demais flertando com Diego.

Abri a porta do quarto que eu estava dividindo com Nina.

Era um quarto bem arrumado, com duas camas de solteiro forradas com esmero, um guarda roupa embutido e uma penteadeira. Tudo muito organizado, a cara da minha avó.

Minha mala de tamanho médio estava encostada num canto no chão do quarto e eu a coloquei sobre a cama.

Abri-a e peguei uma peça, sem ter certeza de que deveria fazer aquilo.

Era a jaqueta preta de Steve.

Me lembrei, rindo, da batalha que travei comigo mesma ainda lá em casa, sem saber se colocava ou não ela dentro da mala. Por algum motivo estranho que desconheço, eu coloquei.

E agora eu estava ali, com ela nas mãos, prestes a vesti-la. Afinal, eu estava sentindo frio.

***

Saí do quarto, ouvindo o burburinho de conversas que vinha da sala.

- Onde que fica essa tal de pista de skate? - Ouvi a voz da minha avó.

- Não muito longe daqui, vó -  alguém respondeu.

Entrei na sala, percebendo que todos estavam por ali agora, inclusive minha mãe.

- Cara, eu já fui dar uma olhada - disse Diego - tá muito maneiro! Eles colocaram... caramba, que cheiro de maconha é esse???

Eu estava prestes a me sentar, mas ele olhou diretamente para mim.

- Tá vindo de você, Amber!

Fiquei estática, parada no meio da sala, enquanto todos me encaravam.

Diego se aproximou de mim.

- Caraca, tá vindo dessa jaqueta.

Engoli em seco, sentindo meu coração acelerar umas vinte batidas por segundo, enquanto ficava vermelha de constrangimento na frente de todos, inclusive da minha mãe e da minha avó.



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Obrigada por sua leitura❣
Beijinhos da Tá😘😘😘

Envolvidos- Primeira Temporada [ CONCLUÍDA ]Onde histórias criam vida. Descubra agora