09 Salva Por Um Estranho

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Dei graças aos céus por minha mãe ter ido trabalhar naquele sábado.
Caso contrário, ela iria querer saber sobre a suposta experiência de Física que eu tinha que fazer.

Foi um sábado bem estranho. Não tinha aula nem curso de Inglês para mim, nem para Nina, e portanto ficamos as duas o dia inteiro dentro de casa, como duas estranhas.

Assim que acordamos, ainda no café da manhã, tentei conversar com ela e explicar tudo, mas minhas palavras foram em vão. Ela não quis nem saber.
Me chamou de traíra mais uma vez, e para evitar outra discussão eu preferi me calar.
Aquilo me magoava muito. Eu não via razão alguma para ela estar tão chateada daquele jeito.

Primeiro porque eu tinha certeza que no fundo, bem lá no fundo, ela sabia que eu estava falando a verdade.
Eu jamais sairia à noite, do conforto da minha cama, para ir me encontrar com um cara com o qual minha prima havia ficado, ainda que por uma única vez.

Segundo porque ela não era namorada nem nada do tipo de Jeff para estar agindo daquela forma, como se fosse.

E terceiro que não havia nenhum combinado entre nós duas de que eu jamais poderia estar à sós com Jeff.

Pelo amor de Deus, eu e Jeff éramos amigos! Tipo... desde sempre! Aliás, nos conhecíamos muito antes dela chegar.
Afinal, Nina só se juntou ao nosso círculo de amizade ( eu, Jhony, Jeff e Luísa ) há dois anos, quando veio morar comigo e minha mãe e, consequentemente, foi transferida para o nosso colégio.

Na minha opinião, aquele drama todo era só amostra grátis de sua personalidade inconstante e sua gritante busca por ser o centro das atenções.

Sendo assim, passei o sábado com meu fone nos ouvidos, enquanto arrumava meu quarto, lavava meu uniforme e preparava o nosso almoço ( estrogonofe, que cada uma comeu num cômodo da casa ).

À tardinha, peguei minha bicicleta e, para dar uma aliviada naquele clima chato e tenso que pairava dentro de casa, saí para dar uma volta.

***

Quando voltei da rua, já eram mais de seis da noite e minha mãe já havia voltado do trabalho.

Fui direto para o banho e ao terminar desci, no intuito de jantar e voltar para o quarto, a fim de ler um livro e dormir.
Sim, eu não tinha grandes planos para aquele sábado à noite.

- E a experiência de Física, deu certo, filha? - Minha mãe perguntou, enquanto estávamos as três sentadas à mesa, comendo.

- Ahn... deu, deu sim - respondi sem graça, cortando um pedaço de carne, sem erguer os olhos para ela.

Quando os ergui, olhei foi para Nina.
Ela me olhava de volta, com seus olhos azuis claros raivosos e a boca contorcida.

Tive que desviar o olhar, pois se a encarasse demais, ela seria capaz de dizer à minha mãe que não havia tido experiência nenhuma.

- Você também teve alguma experiência pra fazer, Nina? - Continuou minha mãe, alheia à tensão existente na mesa.

- Não - ela respondeu, apenas.

Parecia estar se controlando para não explodir.

Terminamos de comer e eu tratei de me ocupar arrumando a cozinha, enquanto que Nina seguiu para a sala, provavelmente para ver sua novela.

- Deixa isso que eu arrumo - minha mãe disse - preciso que você vá com sua prima entregar umas revistas para uma cliente minha.

Enxuguei minhas mãos em um pano de prato.

- Quem? - perguntei.

- A Gláucia. Ela me pediu essas revistas sobre decoração há dias, e só agora eu me lembrei.

Envolvidos- Primeira Temporada [ CONCLUÍDA ]Onde histórias criam vida. Descubra agora