"Quando a vida acha que você precisa lembrar que no mundo ainda existem pessoas de alma perfumada."
Novembro 2016
Não há nada de especial, apenas eu e estranhos tomando bebidas quentes num coffee bar na esquina da rua Cambridge House, em *Windsor. 8:45 da noite. Chovia forte lá fora. Duas garotas cantavam ao vivo, o que embelezava o momento, deixando tudo confortável. Pessoas conversavam alto. Eu sozinha, apenas observava tudo: as risadas abafadas, os suspiros aflitos, sentia os olhares vazios das pessoas sozinhas descansando em um copo de bebida alcoólica, um piano marrom no palco se escondendo atrás das meninas; é uma noite de sexta-feira igual à todas as outras.A cena não foge do comum, a impressão que dá é que estamos todos aqui pelo mesmo motivo, pela mesma fadiga e mesmas preocupações, pensando se uma dose forte de café poderia nos manter acordados por mais algumas horas; e tudo é monótono, enfadonho. O mundo adulto que eu tanto temia havia chegado, tinha cheiro de cafeína e o gosto amargo de remédios anti-stress.
-Um café expresso por favor- peço ao moço de pele escura que atendeu minha mesa, ele anotou o pedido, sorriu mostrando seus dentes brancos, revelando uma covinha do lado esquerdo de seu rosto. Encantador, eu diria.
-A senhorita gostaria de mais algo?
-Não obrigada, só isso. - O moço saiu e me deixou sozinha com meus pensamentos novamente.
Havia sido um dia cheio, desde às 8 da manhã passando por audições e testes pra filmes, faltava um ano pra terminar a faculdade de artes cênicas, se eu conseguisse um papel, nem que não fosse o principal, significaria muito pro meu currículo.
As garotas terminam a apresentação, e acordo dos meus devaneios com o barulho das palmas, sorrisos educados e gratos à melodia, que por muitos havia passado quase que despercebida, estampavam o rosto das pessoas ao meu redor.
Logo em seguida, tímida e ligeiramente um jovem asiático sobe no palco, e toma conta do piano que até então, não havia estreado. A garçonete diz à plateia/clientes:
-Obrigada meninas!- disse olhando para as duas que saíam do palco - e trazendo agora suavidade a esta noite musical, o pianista Min Yoongi performará no piano alguns jazz standards, palmas pessoal!
Todos, eu inclusive, aplaudimos ao jovem que parece preparado, mas ainda exala um ar ansioso, com os olhos fixos na porta.
Ele posiciona as mãos, e estreia: "My Foolish heart", um jazz de Bill Evans, particularmente, meu pianista preferido. As luzes diminuem ao redor do palco, o foco está nele e em sua pele de porcelana, em suas mãos com anéis prateados. Pareço estar agora numa outra órbita, parece que o tempo passa lento, o lugar é iluminado por fracas luzes douradas.
-Senhorita, seu café expresso.-Obrigada. - me ajeito na mesa e pego a xícara branca bonita, frágil e delicada, daquelas que minha mãe jamais me deixaria usar se não fosse uma ocasião especial.
Por um minuto cogito terminar o café e ir embora, mas algo na melodia ao fundo me cativa e eu agora pareço possuir uma necessidade repentina de permanecer.
Reviro minha bolsa procurando o sketchbook* que comprei hoje mais cedo. Desenhar me faz relaxar, aliviar o estresse e a ansiedade de pensar se alguma agencia me ligaria ou não.
Tudo está perfeito: o som suave do piano, o café quente e o glacê aveludado por cima, o barulho delicado da chuva lá fora e o sentimento confortável de poder relaxar. Como fruto da ansiedade que nem a atmosfera agradável foi capaz de dissolver, olhei para a folha vazia à minha frente e um enorme bloqueio criativo invadiu o limitado campo de criatividade que possuía,não sei o que desenhar. Tomei um gole do café, dois, três, prestava atenção no som do piano, via as gotas de chuva escorrerem pela janela, o ambiente acolhedor...mas nada chama minha atenção, nada me parece particularmente autentico.
Até que o sino de entrada da porta ecoa pelos cantos do estabelecimento, aumentando o barulho do mundo lá fora, desviando toda a concentração das pessoas e até mesmo do jovem que performava, todos olham para o homem alto que adentra no estabelecimento.
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Flower Face; kth + you
عاطفيةAlgumas cartas que fiz pra ele nos dias mais dourados da minha juventude, quando assisti o sol se por lendo das poesias mais açucaradas, andei sonhando pelas estrelas e fui pega dançando com o vento, perdida na música que era tê-lo num breve verso...