VII. happiness is a butterfly

46 13 35
                                    

"Uma poesia para sonhos que (talvez) nunca serão realizados."

Depois daquela noite, eu não soube mais se você um dia me quis pra sempre como você dizia. Se você realmente iria contra Deus e o mundo pra que no final de tudo você pudesse escrever na nossa história um final encantado e feliz.
Eu também nunca me importei tanto sobre o que diziam de você, por que nunca me importou o que diziam que não saísse de sua boca.
Eu estava muito machucada quando te conheci Taehyung, mas você me ensinou o amor.
Você poderia cantar pra mim uma canção de ninar e eu dormiria como se estivesse no paraíso, você seria minha felicidade.
No começo eu tentava te alcançar assim como quem quer tocar uma borboleta; mas na verdade eu não me importava se eu te alcançaria ou não, contanto que eu pudesse te admirar.
Eu só queria parar o mundo e ver você prestando atenção na aula de literatura.
Eu então finalmente te tive, e foi mais rápido do que eu esperava, e durou muito menos do que eu achei que duraria.
5 anos não foram nada. Você me jurou amor eterno.
Naquela noite, quando você me deu seu casaco pra ir pra casa depois da festa, estava chovendo forte, eu entrei naquele maldito táxi e te vi andar pra longe após você ter dito que nós dois não eramos mais compatíveis. Eu sabia que o real motivo era porque você sabia que meus pais não gostavam de você, e isso nos matava por dentro, você teve outros mil motivos. Eu sei que você fez isso pensando em nós. Eu chorei porque não queria que tudo tivesse de ser assim, trágico.
E no banco de trás do táxi eu chorei como se fosse morrer. Talvez eu realmente fosse, quando eu chegasse em casa e você não estivesse ali pra me acalmar.
Você não odiava festas, mas a festa de formatura tinha que ser logo aí, na sua casa? a gente ia fazer nosso próprio baile lembra? iríamos a praia assistir os fogos de artifício iluminarem o céu, e o resto da noite seria improvisada. Eu acho que você já nem se lembra mais...
Te vi de costas, andando na chuva, voltando pra sua casa onde a festa ainda tinha deixado rastros, copos espalhados pelo chão do jardim, as pessoas saindo com seus carros baratos, a música que não era sua preferida tocando; sua blusa branca estava encharcada e marcava suas costas, ombros e cintura; você olhou pra trás, eu vi.
Eu vi seus olhos por trás das ondas do seu cabelo molhado; eu vi você hesitando em entrar, eu vi através da chuva que você estava desabando ali mesmo, e eu não podia fazer nada.
Com sua jaqueta de couro envolvendo meu corpo, seu cheiro inconfundível de essência de baunilha e hortelã empesteava todos os cantos possíveis daquele carro, e todas as minhas lembranças de você pintando quadros nos domingos a tarde, de frente pra janela vista pro mar.
Todas as lembranças de você entrando pela janela do meu quarto de madrugada, passávamos horas escutando discos e lendo poesia, até que você ia embora e seu perfume ficava, deixando um vestígio seu, um vestígio de que você esteve ali comigo. E quando você estava ali nada mais importava. Não me importava se papai flagraria você saindo ás 5 da manhã, correndo pelo jardim de casa, pulando a cerca e olhando pra janela do meu quarto, não me importava se mamãe iria entrar no meu quarto e nos achar dormindo na mesma cama. Nunca me importou. E eu lembrei de você o caminho todo indo pra casa que agora só me trazia memórias de nós dois; todas as risadas e conversas hipotéticas.

-Jagiy, eu vou te levar pra Califórnia.

-Ah vai é? - Disse em tom irônico, achando graça em sua aleatoriedade. Dois anos antes, era sexta-feira, 5 da manhã. Eu estava deitada em seu colo, você fazia trancinhas aleatórias no meu cabelo, e eu lia um livro sobre artes, e nas pausas para observar as imagens das páginas, você dizia algo vez ou outra.- e como vamos?- eu fechei o livro e o deixei de lado, sentei na sua frente e você sorriu.

-Me encontra daqui a 4 horas, na frente da praia. Ah, leva sua polaroide. - Você disse sorrindo, o que me fez sorrir. Minutos depois você saiu pela janela, eu assisti por trás das cortinas de seda azul, você correr pelo gramado olhando pra mim ligeiramente, e sumindo por detrás das árvores do bairro.

Naquele dia você e me mostrou seu primeiro carro. Um Mustangue 79 azul turquesa, que fora de seu pai. Eu lembro que fiquei tão feliz por você...poderíamos finalmente ir a qualquer lugar agora. E fujir quando bem quiséssemos. E eu, com você, viveria a fase mágica do american dream.

-Entra aí e vamos pra Califórnia passar o dia. Trouxe a câmera? eu trouxe a minha, também trouxe uma cesta de pique-nique e uns livros. Se você quiser a gente pode passar numa papelaria e comprar uma tela pra pintar e tudo mais...ou quem sabe comprar um milkshake de morango, o seu preferido!...Ah! eu também queria passar no final do dia naqueles cinemas que você assiste do carro...como chama?....Drive-in!!! seria incrível não acha? que tal- te interrompi com um beijo jovem e feliz, eufórico, vivo.

-Vamos fazer tudo isso! - disse saltitando e entrando no carro. Liguei o rádio e tocava The Archies.

-Sugar! oh honey honey!- cantávamos alto e trocando olhares sinceros, herdeiros de sorrisos honestos.

Fomos livres, música alta e risadas estridentes.

Isso foi nós dois, sempre foi assim. Mesmo quando eu chorava você fazia daquele momento estranhamente especial, e limpava minhas lágrimas, me dava motivos pra viver, me escrevia músicas lindas, me fazia sentir preciosa, e você sabia que tinha esse efeito sobre mim. E quando você olhava pra mim, eu podia ver mil e uma constelações nos seus olhos castanhos, você me puxava pro seu universo, e eu mergulhei até me afogar na sua alma, e agora em mim permanecem resquícios seus, que eu sei (e agradeço por ter quase certeza de que) nunca irão embora.

Doía tanto lembrar de você; lembrar que lutamos tanto para o final não ser feliz. Voamos tão alto Tae... e quando eu percebi, tínhamos caído; Nós dançávamos no sétimo céu, e de repente, cortaram nossas asas, a valsa não tocava mais, anoiteceu e as estrelas caíram, e todas essas descrições poeticamente dramáticas que eu poderia tentar assimilar com o que eu senti quando meu corpo entrou em atrito com o chão frio, e eu senti todos os ossos do meu corpo quebrarem, quando despencamos do céu, do nosso paraíso particular.
Você queria tanto de mim que eu não podia lhe oferecer naquela época...
você disse que queria me ouvir cantar no banho; queria me ver de camisola de cetim saindo do chuveiro; queria pintar quadros comigo, você queria dançar comigo, queria me desenhar no campo. Queria deixar crescer o cabelo pra me impressionar.
Você queria cantar pra eu dormir, enquanto me olhava nos olhos e mexia no meu cabelo
com toda a inocência do seu sorriso em toda a grandeza dos sentimentos que compartilhávamos.
Eu não odeio o fato de nossa história parecer com aqueles livros românticos que lemos, e que acabam trágica e injustamente, pois o enredo foi perfeito.

Eu ainda te amo Tae...espero que quando você ler isso você ainda sinta um pouquinho de mim, talvez tenha até uma parte minha aí contigo. Talvez uma blusa, um livro, um bilhete, o pincel vermelho que eu vivia esquecendo no seu estojo. Se já se livrou de mim não sei, mas aqui estão palavras sinceras, que espero que te façam perceber que de mim você não se foi. E que eu ainda escrevo poesias, até mesmo para sonhos nossos, que talvez nunca serão realizados.

Flower Face; kth + youOnde histórias criam vida. Descubra agora