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O resto da semana passou muito rápido, não que eu não tivesse ficado agoniada o tempo todo. Hospital nunca foi meu forte, acho que pra ninguém é.
- Chegou o tão esperado dia... Vim assinar sua alta.
Afonso entrou no quarto e eu já estava pronta para ir pra casa.
- Graças a Deus... Não aguento mais ficar longe de casa.
Ele sorriu pra mim. Tenho escutado todos os dias em que estive aqui que sou uma pessoa forte.
- Você vai vencer. Eu tenho certeza. Boa sorte... Venha me mostrar quando estiver andando.
Sorri e assenti.
- Eu venho.
Ele se abaixou na altura da cadeira de rodas que seria minha nova morada.
- Agora vamos falar sobre sua recuperação...
Assenti e em seguida Diana segurou minha mão.
- A fisioterapeuta vai visitar você todos os dias, exceto aos finais de semana. A psicóloga vai duas vezes na semana, fica a seu critério decidir com ela os dias certos. Sobre a enfermeira...
Seu telefone tocou no mesmo segundo.
- Eu preciso atender... Me perdoe, vai ser rápido.
Ele disse já se afastando.
Assim que eu saísse dali minha vida iria mudar para sempre. Não iria ser nunca mais a mesma coisa...
- Quero vender o apartamento Diana.
Ela me olhou espantada e eu apertei sua mão.
- Eu não quero nada que me lembre Mateo.
Ela assentiu triste. Vai ser e já está sendo tão difícil... Todo esse tempo no hospital, quando sentia dores ou quando eu pensava em tudo que já mudou e ainda vai mudar pra pior na minha vida, porque eu não consigo acreditar que algo possa vir pra melhor. Perdi toda a minha independência, minha felicidade... Eu amava dirigir, correr todas as manhas na esteira, praia... Eu amava tudo o que me foi tirado.
- Vamos comprar a casa da colina. Tenho minhas economias, e vou fazer Mateo pagar boas pensões para as crianças. Vamos ter tudo o que precisamos lá. Eu não quero ter que ficar saindo...
- Mari... Você é uma pessoa pública. Expõe quadros e vende como água... Sinto muito irmã. Seu acidente saiu em todos os sites e jornais.
Fechei os olhos e as lagrimas caíram. A pena de todos aqueles que amavam minha arte vai pesar no meu psicológico. Agora é que eu não quero sair mesmo. Não quero receber aquele temido olhar repugnante de pena. A casa da colina fica num lindo lugar onde Mateo me levou para passar nossa lua de mel, uma localidade situada no estado norte-americano de Nova York, Montauk . Desde que a vi me apaixonei, só preciso que ainda esteja a venda.
Doutor Afonso voltou e respirou fundo fechando a porta.
- Liz pode ser uma criança fofa e dócil. Mas mexa com seus amiguinhos e ela avança como uma leoa.
Sorri pra ele que tinha o olhar apaixonado pela filha.
- Deve ter puxado a sua esposa, você parece tão calmo.
Seu olhar mudou e então eu já soube.
- Ela só colocou minha bonequinha no mundo. E graças a Deus não. Ela puxou foi pra minha mãe, se um dia a conhecer vai saber do que eu estou falando.
Sorriu pra mim e ergueu um dedo.
- Voltando ao assunto... Preciso que você me passe seu endereço. Faço questão de te ajudar pesquisando o melhor enfermeiro, pra te ajudar em tudo.
Sorri sabendo bem pra que ele queria meu endereço. Diana que me aguarde.
- Vou estar de mudança assim que eu chegar em casa. Te mando por SMS... Pode deixar seu celular com Diana, o meu se perdeu no acidente.
Diana me deu um leve empurrão, mas sorriu disfarçando para doutor Afonso.
- Claro que passo. Isso vai ser bom para que me conte como sua irmã tem ido Diana.
Apertei a mão da minha irmã assim que percebi que estava paralisada. Tímida apenas fora de casa.
- C-claro. Vamos nos falando.
Eles sorriram em concordância.
Sair do hospital não foi fácil. Pelo caminho, antes de chegarmos no apartamento, comprei tudo o que precisava ou que iria precisar. Todo o resto seria na nova casa. Em uma empresa de mudança, contratei 3 rapazes fortes que me ajudassem com a mudança rápida que faria. Em seguida fomos pro apartamento.
- Não sabia que você ia sair hoje...
Foi Mateo que nos recepcionou em casa. Ele ainda não foi. Ótimo.
- Ótimo que esteja em casa. Já resolvemos tudo enquanto Diana e os meninos arrumam tudo.
-Tudo o que Mariana?
Perguntou se levantando pra encostar em mim.
- Não me toque...
Disse apressada. Ele parou no mesmo segundo, mas não se afastou.
- Mari, eu estou me mudando para a Chi...
- Eu sei. Creio que já fez os papeis do divórcio, certo?
Ele assentiu e então andou até uma pasta de onde tirou algumas folhas.
Assinei assim que li tudo e então o devolvi uma via. Separação total de bens, uma boa pensão para as crianças, a guarda dos nossos filhos é totalmente minha, desde que ele tenha o direito de os visitar e falar com eles sempre que quiser.
- Perfeito. Eu estou me mudando para a casa da colina em Montauk.
Mateo sorriu assentindo.
- Me perdoe Mari... Eu não quero que você fique chateada comigo, ainda amo você...
Levantei uma mão num gesto em que ele parasse.
- Eu não estou chateada. Estou decepcionada com o homem que achei que poderia contar pelo resto da vida já que se casou comigo e me fez promessas. Pode me amar ainda... Mas ama mais o seu trabalho.
Ele apenas assentiu e se afastou se sentando no braço da poltrona que ele sempre usou para trabalhar.
- Eu tenho certeza que vai se recuperar. Você é a mulher mais forte que eu já conheci Mariana.
Assenti e movi a cadeira elétrica em direção ao quarto onde eles já tinham quase tudo que era meu em caixas de papelão. 
- Agora falta apenas as coisas das crianças.
Minha irmã sorriu vindo em minha direção.
- Esta tudo bem?
Assenti. E ela me abraçou logo depois de secar uma lagrima que eu não tinha nem notado que desceu.
- Nos vamos superar tudo juntas. Eu sinto muito Mari.
Tentei me reconfortar nos braços da minha irmã. Mas não foi fácil quando ela se afastou vi que Mateo já mostrava o quarto das crianças e tudo o que era pra encaixotar e levar.
- Ele ainda vai voltar rastejando pra você... Um babaca. Ainda não acredito que fez isso com a minha irmã. Posso dar a coça que ele merece agora com a ajuda dos três brutamontes?
Diana não tinha perdido sua mania de me fazer sorrir. Desde que eramos meninas minha irmã tinha suas artimanhas para me fazer gargalhar ao mesmo tempo que eu chorava.
- Eu amo você. Obrigada por tudo que tem feito. Mas se precisar partir...
- Mariana quer que eu grite com você?
Neguei. Ela só me chamava de Mariana quando estava uma fera.
- Ótimo. Não me faça repetir tudo o que já te falei. Não sou papagaio muito menos radio gravador.
Bateu o pé no chão e saiu pra onde os rapazes estavam arrumando tudo. Em uma hora eu já tinha uma muda de roupas para as crianças no colo e manobrava minha cadeira para fora do apartamento depois de já ter tirado tudo o que eu precisava.
- Espero que um dia possa me perdoar. Por tudo o que eu te causei...
Mateo parou na minha frente antes que eu pudesse passar pela porta.
- Quando você sai do país?
Perguntei sem nem tocar no outro assunto.
- Em 3 dias.
Assenti.
- Eu vou estar na casa da Diana, até que eu resolva tudo para nos mudar.
Se quiser ficar com as crianças...
- Eu posso pegar os dois com a minha mãe e só os devolver a você a noite?
Assenti. E o olhei no fundo dos olhos.
- Adeus Mateo.
Eu disse. E era definitivo. Nunca mais teria nada com ele. A não ser que se referisse as crianças. Fora isso eu não tinha mais nada a tratar com ele.
- Adeus Mari...
Eu guiei minha cadeira até o elevador e ao lado de Diana deixei toda a minha vida pra trás.
Não.
Ao lado de Diana eu recomeçava um novo roteiro de vida.

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