Capítulo 5 - Bela adormecida

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E tudo que fez foi olhar na minha direção

E meu coração começou a acelerar

Nervous - Shawn Mendes

 

Josh Mathews

Àquela altura Taylor e Jake provavelmente estavam fazendo mais uma rodada de bebedeira e jogatinas no bar do Moon, como de costume, mas eu não me arrependia de ter me desfeito daquele convite. Naquela noite eu estava com um humor péssimo e tudo era culpa do Ben e sua maldita perseguição.

Bufei, irritado e feliz por estar completamente sozinho naquele momento. Eu poderia desfazer meu sorriso em paz, sem que ninguém especulasse o motivo do meu mau humor. A sombra da varanda da mecânica me escondia e permitia que eu visse a noite como um todo. Em Fênix Hill até mesmo o céu era mais vivo, longe das luzes ofuscantes da cidade grande.

Reclinei-me na a cadeira e passei os dedos pelas cordas, testando-as. Foi quando a vi.

Vestida com um moletom grande demais, envolta em uma coberta e agarrada a uma taça de vinho, uma garota de cabelos longos e escuros se perdia na noite, assim como eu.

Quem era ela? Seria a nova vizinha?

Segurei as cordas do violão, observando em silêncio, como um bandido, cada um dos seus movimentos. Seus olhos pareciam perder o foco, vislumbrando algo à sua frente e de repente ela retomava os sentidos e passeava com a taça — talvez fosse um copo — pelos lábios com calma.

Eu conhecia o ângulo daquela casa. Ela não conseguiria me ver, mesmo se quisesse e por um momento eu me senti mal por observá-la daquela forma.

Parei de encará-la e voltei minha atenção para meu maior objetivo ali. Comecei a tocar o violão lentamente, mas percebi quando ela escutou o som, virando a cabeça para todos os lados, procurando-o.

Seu corpo se inclinou para frente, sua atenção presa ao som que agora escutara, então, ela relaxou mais uma vez. Ela fechou os olhos, apreciando o som e algo em mim ascendeu. Nasceu em meu peito um desejo de permanecer ali, enquanto ela escutava atenta as minhas melodias lentas, sussurradas pelo vento até seus ouvidos.

Pude compreender os músicos que eu tanto admirava.

Era prazeroso perceber que alguém sentia sua música, assim como você. Sem saber quem você era, sem ter interesse em mais nada além do som que você produzia com o coração.

Ela abriu os olhos e encheu mais uma vez o copo, enquanto ainda me buscava com os olhos. Eu tinha capturado sua atenção naquela noite linda.

Eu continuei a tocar, ela continuou a ouvir e, aos poucos, a garrafa foi ficando vazia. Notei que ela demorava cada vez mais a abrir os olhos, quando por fim, os fechou de vez e se aninhou com delicadeza no cobertor, repuxando-o até seu rosto.

Ela...

Dormiu?

Fala sério, ela dormiu mesmo?

Quem é que dorme na varanda da própria casa com uma garrafa de vinho?

Larguei o violão e bufei, de certa forma decepcionado.

Fiquei ali no escuro por quase uma hora depois daquilo, esperando o momento que ela fosse acordar e entrar em sua casa sem notar minha presença, mas quanto mais tempo se passava, mais ela parecia confortável, enrolada feito um tatu naquele pufe.

Black Bird - A Luz do Amor - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora