Capítulo 3 - O parque de Fênix Hill

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Josh Mathews

Naquele dia especificadamente, fechei a Black Bird mais cedo que o normal. Precisava de um pouco de ar para enfrentar o que estava por vir.

Os faróis de Taylor iluminavam o chão do asfalto à nossa frente enquanto ele era seguido de perto por mim e Jake. Percorremos as ruas calmas de Fênix Hill, passando por pessoas que caminhavam sob o luar aberto que sustentava aquela noite. Nossos carros eram reconhecidos a distância e logo que passávamos as pessoas erguiam as mãos em cumprimentos e assim seguíamos, buzinando em ressonância.

O vento fresco entrava pela janela aberta, fazendo com que meus cabelos voassem como folhas secas, para todos os lados. Segui Taylor pela conhecida estrada do vale, onde um cenário rústico maravilhava cada centímetro de chão arenoso.

As árvores cobriam a estrada, criando um túnel iluminado pelas fracas luzes de postes improvisados. Algumas pedras soltas tilintavam pelo chão após serem espancadas pelas rodas dos nossos carros. A sensação de leveza pairava sobre meu peito, dando-me mais do que algum dia eu sonhara em ter. A verdadeira paz se instaurava em minha alma.

Saímos do túnel de árvores e caímos na estrada aberta novamente, avistando a poucos metros nosso destino principal.

Uma enorme roda gigante girava calma, sonolenta, revelando uma Fênix que muitos poucos conheciam. Uma cidade luz, banhada pela lua, abençoada pelo sol. Algo que só se descobria lá de cima, quando a roda parava de girar e você se pegava em um estado de transe, observando a magnitude da beleza que uma cidade do interior poderia ter.

Era belo, era incrível, mas naquela noite eu não pretendia subir na roda gigante, ou em nenhum dos brinquedos do parque. Estávamos aqui para encontrar o prefeito Monroe como em todos os anos, um mês antes da festa do pomar.

O estacionamento estava praticamente vazio, com exceção de alguns carros estacionados ao lado de duas motos. Entre eles localizei o Subaru azul metálico que eu aprendera a detestar. Meu âmago se contorceu.

— Temos companhia! — Taylor se juntou a mim e Jake na caminhada até a entrada do parque.

— Se ele falar alguma merda, arrebentamos ele aqui mesmo.

— Relaxa! — Apaziguei os ânimos. — Ele não vai se meter no nosso caminho. Toda essa história já durou tempo demais.

Seguimos em silêncio. Tentei a duros passos relaxar e focar no nosso objetivo, mas as palavras de Ben contra mim em nosso último encontro ainda ressoavam em minha mente, como se elas tivessem se agarrado a mim e se tornado parte das minhas tatuagens.

"Você não tem respeito por ninguém. Só pensa em você mesmo. Seu dinheiro não te faz melhor que eu."

Vi o ódio em seu olhar, assim como o virá em todas as vezes que por acaso nos encontrávamos naquela cidade. Ele jamais me perdoaria, mesmo se um dia eu tivesse buscado o seu perdão. Coisa que não fiz, afinal, a culpa não foi minha.

— Boa noite, senhor Todd! — Cumprimentei o porteiro que sorriu por baixo de seus enormes bigodes.

— É uma bela noite! — Com dificuldade, ele desceu de sua cadeira e abriu a portaria para que entrássemos, dispensando a necessidade de ingressos. — Como vão meninos?

Desprendi o boné preto do cinto da bermuda e o lancei sobre o cabelo, escondendo parte do rosto enquanto Jake despejava sobre o velho Todd uma breve descrição de sua vida, ou pelo menos o que houve com ela no último ano.

Todos os anos trilhávamos aquele caminho. Íamos até o parque, nos encontrávamos com o prefeito, discutíamos a festa anual do pomar enquanto Jake tagarelava com todos a sua volta e Taylor maquinava os detalhes festivos mais insignificantes possíveis. No fim, o prefeito Monroe coçava a barriga enorme e olhava em meus olhos, comprimindo o rosto afunilado que o fazia parecer com um hamster e preparava seu convite final.

Black Bird - A Luz do Amor - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora