Capítulo 9 - Um cantor misterioso

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Porque até as estrelas queimam

Algumas também caem sobre a terra

Temos muito a aprender

Deus sabe que somos dignos

Não, eu não desistirei

 I Won't Give Up - Jason Mraz

Anny Thompson

Desci os degraus em silêncio, evitando chamar a atenção do músico misterioso. Atravessei a rua, encolhendo-me, sendo açoitada pelo vento, que estava vigorosamente mais forte. Parei um instante, desejando ter a audição de um gato e saber qual direção deveria seguir.

Por fim, percebi que o som vinha da lateral da mecânica. Uma pontada de expectativa fez meu coração dar um salto contra a caixa torácica. Passo a passo, caminhei em direção a melodia que ficava cada vez mais alta e nítida.

Ao lado da mecânica havia uma varanda iluminada por uma luz fraca aos fundos, escondida pela lateral das paredes imponentes daquele lugar. Coloquei os dedos sobre a dobra da parede e estiquei o pescoço, como uma criança espiando enquanto brinca de pique-esconde, e então eu o vi.

Josh.

Sentado em uma cadeira de ferro sob uma grande árvore larga e folhosa, ele se concentrava no objeto negro entre seus braços. Seus olhos mantinham-se focados em um ponto imaginário no chão e mal se moviam, como se estivesse hipnotizado. Uma linha de expressão subia no meio de sua testa enquanto os lábios permaneciam comprimidos. Os dedos dançavam ágeis sobre as cordas do violão como se o instrumento fizesse parte do seu corpo. Uma veia pulsava quente em seu pescoço e alheio a minha presença, ele continuou tocando sem deixar escapar nem uma palavra sequer.

Seus lábios relaxaram um pouco e quando atingiu o ápice da música lentamente um sorriso iluminou seu rosto. Era algo tão verdadeiro, profundo e lindo que quando me dei conta, eu sorria da mesma forma.

Logo meu sorriso se desfez quando percebi o quão absurdo aquilo era.

Espionar meu vizinho era o cúmulo. Eu tinha que desaparecer dali, mas não sentia vontade de fazê-lo.

Dei um passo para trás, obrigando-me a ser um pouco mais sensata e um barulho de algo se partindo destruiu meu disfarce felino.

O som do violão parou. Apertei os olhos, ciente de que ele havia escutado o galho quebrando sob os meus pés desastrados.

— Taylor? — Ele se levantou e veio em minha direção, desejei, como mágica, tornar-me o tal do Taylor, seria menos vergonhoso.

Meu coração acelerou desesperado. Como eu explicaria aquela espionagem descarada?

— Opaaaa! — Ergui as mãos ao céu lentamente, como se a minha existência espionando das sombras fosse uma surpresa agradável.

Mas que diabos de "Opaaaa" era aquele, meu Deus?

— Anny? — O espanto em seu rosto era nítido.

Ele comprimiu os olhos que assumiram um tom platinado. Sua íris mais escura do que de costume, associada a jaqueta e calças pretas, davam a ele uma aparência de astro do rock ou de um maníaco frequentador de cemitérios. Ainda estava me decidindo qual das duas personalidades se encaixariam melhor.

— Sim! — Respondi alto demais e continuei com o braço erguido como uma idiota. — É que, a noite... a noite estava...— Tentei gesticular.

Black Bird - A Luz do Amor - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora