Capítulo 8 - Aquele som

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Anny Thompson

Entramos na rua Five que parecia ainda mais barulhenta desde que eu saíra. Pelo pouco que eu tinha visto, o carro azul de Ben não tinha metade da potência dos motores que frequentavam a Black Bird e eu acreditava que o meu também não.

— Você poderia morar em um lugar melhor, mais silencioso. — Ben sugeriu quando estacionou seu Subaru em frente a minha casa. — Eu mesmo encontraria fácil uma nova casa para você.

— O silêncio é dolorosamente barulhento, Ben. — Admiti. — Posso me incomodar com o barulho, mas prefiro isso ao silêncio.

No mesmo instante que coloquei os pés para fora do carro, meu olhar cruzou com os olhos de gato do vizinho. Desta vez ele me observava com cautela. Podia jurar que vira algo estranho em seu rosto que estava contorcido, como se sentisse dor. Os braços se mantinham cruzados acima do peito em uma posição ereta e atenta.

Carolyne desceu do carro atrás de mim e ergueu timidamente a mão em direção ao meu vizinho que declinou a cabeça em resposta.

Obviamente eles se conheciam, afinal, era uma cidade pequena.

Ben, diferente de Carolyne, pegou o maior número de sacolas que conseguiu carregar e subiu as escadas da varanda sem olhar para trás.

Colocamos todas as compras na bancada em minha pequena cozinha e eu prometi estreá-la em breve. Carolyne olhou curiosa para os cômodos da casa enquanto Ben sustentava um beiço enorme.

— O que está acontecendo com ele? — Sussurrei em direção a ela, atenta para que Ben não me ouvisse.

— Ele e o Josh não se dão muito bem. — Ela sussurrou de volta. — Depois eu te conto. — Prometeu.

— Precisamos voltar! — Ben se apressou.

— Tem certeza que não querem comer alguma coisa? — Ergui as mãos. — Juro que sei cozinhar, um pouco.

— Terei que recusar seu convite. — Ele caminhou em direção a porta. — Perdi o apetite. — Sussurrou.

Tanto eu quanto Carolyne trocamos olhares receosos.

— Obrigada por tudo! — Abracei os dois enquanto os observava seguir em direção ao carro novamente.

O vizinho continuava ali, parado como uma estátua, encarando Ben como se ele fosse um monstro.

O que diabos aconteceu entre eles?

Bem, eu não tinha nada com aquilo. Meus problemas bastavam para uma vida inteira, não podia me dar ao luxo de me preocupar com problemas alheios.

Fechei a porta de vidro com cautela e caminhei até a cozinha. Encontrei um mar de sacolas que não se guardariam sozinhas. Era hora de começar a me mexer.

Depois de pouco tempo, já tinha acabado de organizar toda a minha cozinha e o restante das minhas caixas de mudança. Agora tudo estava em seu devido lugar.

Joguei-me no sofá, planejando o que eu faria dali em diante. Estudando minhas possibilidades para recomeçar a minha vida.

Minha mente voava pelos últimos anos que vivi, os anos bons. Por incrível que parecesse, em certos momentos em me lembrava de David e do momento em que o conheci. Seu carinho e sua atenção eram mágicos, como um pavio em uma gigantesca fogueira. Tudo em mim reluzia ao toque dele. Meu corpo o amava, meu coração o idolatrava e talvez esse tenha sido meu maior erro.

Em algum momento entre lembrar o passado e sonhar com o futuro, eu adormeci. Quando voltei a abrir os olhos, saltei assustada sobre o sofá ao notar que havia uma lua gigantesca exposta no céu. A luz entrava pela janela e banhava a sala em um tom claro como uma lanterna. Meu coração estava acelerado.

Black Bird - A Luz do Amor - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora