Capítulo 10 - Uma convidada especial

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Josh Matews

A fumaça da minha xícara de café trilhava no ar um caminho infinito até o céu enquanto eu permanecia escorado na entrada da mecânica como no dia anterior.

A noite passada ainda reverberava em meu interior. Mal conseguia acreditar que tinha mesmo cantado para uma garota que até então não passava de uma total estranha.

O pior daquilo tudo era que eu tinha amado a sensação. Algo quente tomou meu peito quando vi o brilho que surgiu em seus olhos junto com aquela canção. Era o tipo de coisa que fazia qualquer esforço valer a pena, até mesmo cantar para uma desconhecida. E era em busca daquele olhar arredio que eu estava ali, em uma manhã que, se não fosse a vontade de vê-la novamente, eu ficaria escondido sob duas camadas de cobertas bem quentes pelo menos uma hora a mais do que meu horário permitia.

— Vamos no Teat hoje? — Taylor se aproximou repentinamente, arrastando-me para a realidade, convidando-me para o rock bar mais animado da cidade.

Na verdade, o único rock bar da região.

— Talvez. — A falta de ânimo em minha voz era palpável.

— Qual é... — Ele reclamou cruzando os braços. — Você não fez porra nenhuma ontem à noite e não vai fazer nada hoje também?

— Você não...

— Quer virar uma múmia velha e fedorenta? Ou pior, ficar igual a mãe do Jake vendo aquelas séries antigas e rindo como se aquilo ao menos fizesse sentido? — Não tive a chance de me explicar. — Gatos, cara. Em breve você terá quarenta gatos e uma bengala e não aproveitou a vida direito. — Taylor ergueu as mãos ao ar, exagerado como sempre.

— Eu nem gosto de gatos, vai se foder! — Dei uma risada levando a xícara aos lábios.

— Deveria gostar, em breve serão suas únicas companhias. — Suspirou como se tomasse uma decisão muito séria. — Não vamos deixar. — Ele balançou o dedo em riste em minha direção. — Ou vai por bem, ou eu arrasto essa sua bundinha até lá.

— Josh quer ficar em casa de novo? — Olhei por cima do ombro e Jake caminhava em nossa direção com o andar pacato e arrastado de sempre.

— Eu não pretendo ficar em casa. — Meus olhos não desgrudavam da casa da minha vizinha. — Tenho planos diferentes.

— E desde quando você esconde alguma merda da gente? — Jake reclamou parando a minha direita.

Ele mal havia fechado a boca quando a porta de madeira da casa da frente se abriu. Meu corpo retesou, minhas costas endireitaram como se alguém as alinhasse. Prendi a respiração quando ela desceu os três degraus da varanda e sorriu em minha direção.

Seus cabelos estavam soltos, livres pelo vento da manhã, negros como a noite mais escura, ainda assim, traziam um brilho diferente. Ela brilhava. Percebi que sorria feito um tolo quando Anny entrou em seu carro, saindo da minha visão e Jake deu uma gargalhada.

— Tá pegando a vizinha? — Taylor apoiou o braço no meu ombro.

— Claro que está. — Jake ainda ria.

— Não! — Escorracei Taylor do apoio do meu ombro.

— Tá pegando sim, filho da puta. Olha pra sua cara.— Taylor deu um soco no meu ombro. — Nem falou nada. A garota chegou não tem nem uma semana e você já marcou a merda do território.

— Não existe nada entre nós. — Admiti nervoso, ainda que não gostasse daquela realidade. — Parece que somos amigos. Ontem acabamos... — Pensei sobre o que deveria contar ou não. Aquilo viraria um inferno na minha vida.

Black Bird - A Luz do Amor - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora