Com amor, Morgan.

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  O despertador vai tocar a qualquer momento. Fiquei quase a noite inteira acordada, rolando na cama, olhando para as estrelas através da claraboiá que tem no teto do meu quarto. Não parava de pensar nos meus pais, lembrava quando não conseguia dormir e minha mãe me trazia leite quente e meu pai cantava uma musica para mim, lembrava de deixar a porta meio aberta para o Dustin entrar e dormir do meu lado para que eu não ficasse sozinha em meio a escuridão, sinto tanta falta daquele cachorro.

 Sinto saudades daquela época, acho que foi o melhor momento da minha vida, eu tinha meus pais, tinha o Dustin, tinha leite quente na cama e tinha o Hero, o verdadeiro Hero"um menino doce, bonito, alegre e desajeitado e não aquele cara da casa abandonada". Ah, eu não posso dizer nada, mudei completamente depois que meus pais se foram, perdi meu cabelo para o câncer, comecei a usar drogas, não sei mais me socializar, minha alimentação é a base de fritura e parei de me importar com o mundo.

— Morgan!— ouço minha tia me chamar do andar de baixo.

 Reviro os olhos, levanto da cama grande e confortável. Começo a arruma-lá, mas logo desisto; afinal, vou deitar nela mais tarde, para que arrumar ? Me aproximo lentamente da janela de meu quarto, abrindo as cortinas para a luz passar, logo vejo a janela de Hero aberta também dando para vê-lo andar pelo quarto, sua pressa é evidente, ele corre para colocar uma blusa branca.

— Morgan!— ela me chama outra vez.

— Já levantei!— grito em resposta.— volto o olhar para o quarto de Hero mas dessa vez ele está parado enfrente a janele me olhando, ele solta um leve sorriso e acena com a mão esquerda, rapidamente me afasto da janela não o vendo mais, escuto mais um grito de minha tia.

 O barulho das portas dos armários sendo abertas e fechadas fortemente lá embaixo indica que ela está nervosa com alguma coisa. Quando entro no chuveiro, fico pensando se eu vou realmente para a escola ou se mato aula de novo. Minha vida inteira foi resumida em família e escola, mas já que perdi a família que tal perder a escola também. Passei os últimos anos da minha vida aguardando ansiosamente para vir morar com a minha tia, pensando que eu teria minha vida de volta. Mas tudo não passou de um sonho totalmente puro, não tinha como eu telá de volta, a partir do momento que algo acaba não volta mais.

Assim que entro no chuveiro, uma parte da tensão se alivia. Parada sob o jato de água quente, tento me acalmar, mas meus pensamentos não colaboram. Enquanto me enrolo na toalha, minha tia grita meu nome outra vez. Como sei que ela está nervosa, decido não reclamar. Até entendo que esteja preocupada, pois ontem eu voltei muito tarde da festa, preciso começar a dizer para onde eu vou, para que ela não se preocupe tanto assim.

 Coloco uma blusa moletom de frio e uma calça jeans larga, assim que termino de me vestir, fico mais calma, mas só até perceber que meu olho está totalmente roxo devido ao ocorrido de ontem.

— Que beleza, Morgan! Titia vai adorar o novo visual.— falo claramente para meu eu interior.

 Sento na cama para calçar os meus tênis all star de sempre, sabendo que minha tia fica mais impaciente a cada segundo que passa, logo em seguida pego a minha bolsa e dou uma última olhada no espelho.

— Morgan!

— Colé, já estou descendo, tia. Para de me chamar, por favor.— grito no meio da escada.

Minha tia está sentada à mesa me esperando, olhando para o café. O verde de sua blusa combina com seus olhos. Seus cabelos castanhos estão penteados e preso num rabo de cavalo impecável.

— Oh Deus, o que aconteceu com você?— Ela se levanta em minha direção, colocando a mão em meu rosto.

— Não foi nada, trombei em uma porta.— digo me afastando devagar.