Disease

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Segundo o jornal, a doença começou na Europa e se espalhou por todo o Mediterrâneo, até chegar ao mundo todo através de burlamentos nas barreiras sanitárias impostas.

Era algo novo, diferente de tudo que jamais foi visto antes.

Nos noticiários disseram que aparentemente ele funcionava como o fungo cordyceps unilateralis, que se aloja na cabeça das formigas e as parasita, de forma que se coloquem em pontos estratégicos e liberem seus esporos da melhor forma possível, quem diria que The Last of Us estaria certo. Nesse caso algo tinha mudado, antes os humanos eram imunes à ele. O vírus foi encontrado em uma carcaça numa geleira na região do Ártico, um achado científico pré-histórico, e estava sendo pesquisado junto aos pacientes de câncer e resistência a insulina, o motivo ninguém sabia.

Tudo aconteceu como uma ¨complicação clínica¨ eles disseram. Mas Sarah chamou isso de mutação e resistência genética.

As notícias iam rolando sem intervalo durante o dia de ontem por volta do primeiro horário da manhã, depois que todos os doentes já estavam nas ruas atacado pessoas saudáveis. Eles saiam como ratos de bueiros em dias de chuvas incessantes, se alastrando e devorando tudo que podiam.

Sarah estava no meio da sala de Augusto, com Sarila ao seu lado. O morro nunca antes fora tão silencioso. As notícias pararam de ser transmitidas na TV aberta definitivamente quando chegou no final da tarde de ontem, juntamente com a internet, era um mundo calado agora, estranho e assustador. Ela foi até o quarto dele, tocando seus objetos pessoais e abrindo o guarda-roupas. Ele ainda tinha cada uma das coisas do jeito que Sarah havia deixado, no fundo do armário a coleção de relógios que ela havia dado-lhe com o passar dos anos. Por qual motivo eles haviam terminamos mesmo? Parecia algo tão distante e trivial agora.

Indiferente de todas essas coisas, um fato era: os armários estavam cheios.

Comida perecível, frutas frescas, legumes, tudo ali deveria de ser comido pelo menos em uma semana ou duas, e era esse tempo que ela decidiu que ficaria por ali, até que a comida estivesse acabando. Não haviam motivos para dar a cara no meio da confusão, era melhor esperar a poeira baixar, pegar o que sobrou dos saques sem perigo de brigar com outra pessoa pelo mesmo produto.

É o que Sarah pensou, mas não é o que vai acontecer com certeza.

Como um prelúdio do fim, gritos de socorro reverberam pelo ar, e como a tola que Sarah era, correu para o muro a fim de buscar a origem daqueles pedidos. Duas pessoas de passo apressado sobem o morro, sendo seguidas por uma verdadeira multidão de doentes. A cada metro que avançavam, mais cansados um dos dois ficava e mais próximos os outros estão, eles pareciam quase indestrutíveis.

Se aquela multidão chegasse até a casa de Augusto, era óbvio que dispersariam entre toda a localidade, logo ela ficaria presa e sem comida, tendo que se arriscar por entre os doentes.

Isso está fora de cogitação em sua cabeça.

Rapidamente Sarah coloca tudo que é possível dentro de cooler's que os dois usavam para ir a praia, levando-os até o carro e dando partida. Meros segundos ela se pega presa, apegada demais ao lugar para deixá-lo, porém era infelizmente necessário. Ela morde o lábio, escolhendo tentar salvar aqueles que tentavam fugir dos doentes. O carro arranca pelo morro com a maior facilidade, percorrendo em menos de meio minuto a distância até eles. Sarila latia com as patas apoiadas ao painel do carro, se sentindo tão nervosa quanto sua dona.

Antes de destravar as portas, Sarah faz a pergunta que não quer calar.

- Vocês estão doentes? - ela os analisa brevemente, procurando por algum sinal de ferimento ou sangue seco.

- Por favor deixa a gente entrar. - o homem implora, com uma garota que mal se aguenta em pé escorada em seu ombro.

- O que ela tem? - continua questionando, o carro ainda em movimento, os doentes se aproximando cada vez mais.

- Gripe, ela só está um pouco gripada. - finalmente responde.

Mas não é só isso que a garota tem.

O peso dela por alguns segundos se torna mais do que ele parece suportar, ela tem alguns espasmos e então abre os olhos, grudando seus dentes no rosto do homem e fazendo jorrar sangue dele na janela do carro de Sarah.

Imediatamente ela acelera para longe dali, apertando os dentes uns contra os outros ao ouvir seus gritos desesperados quando os outros chegaram até eles. Suas mãos tremem mais do que nunca, ela precisava ir para algum lugar, a gasolina não duraria para sempre, e teria que ser isolado e cercado. Pensando enquanto de forma automática guia o carro para longe do centro da cidade, ela refaz um caminho que nunca gostara muito de fazer.

A casa de sua ex-sogra aparece como uma última tentativa de tentar encontrar alguém que ela conhece. Olhando bem para os lados antes de sair do carro, sem trancá-lo mas levando a chave consigo, Sarah se arrisca em sua empreitada. Ela abre o portão de acesso ao jardim, este se encontrava sem chaves, rumando para dentro do terreno. Tudo estava quieto. A porta de entrada da casa estava entreaberta, o que a deixa alerta. Caminhando para dentro do lugar tentando evitar fazer barulho, ela encontra uma bagunça no interior dos primeiros cômodos, havia sangue nos móveis e pelo chão, a levando imediatamente a começar andar de costas, chocando seu corpo contra algo.

Esse algo agarra seu braço e a faz soltar um gritinho de surpresa.

Ela se vira e vê o que antes foi a mãe de Augusto. Seus olhos estavam esbugalhados e injetados de vermelho e verde, a boca se retorcia de um lado para o outro de modo quase frenético, uma parte de seu ombro estava faltando, o que deveria de ser o motivo de sua roupa estar manchada de sangue coagulado e aparentemente velho.

Sem tempo para pensar mais, ela continua no aperto e Sarah busco algo para separá-la de si antes que pudesse ficasse doente também. Empurrando sua cabeça para longe quando ela tenta morder-lhe, Sarah roda com aquele corpo bizarramente forte pela sala. Ambas caem no chão, o peso da moribunda todo por cima do corpo saudável e a boca podre avançando mais e mais a cada tentativa de provar um pedaço seu.

Olhando ao redor Sarah vê uma almofada caída próxima delas, e esticando uma das mãos que usava para tentar afastá-la, ela consegue puxá-la para frente de si no exato segundo em que Joana conseguiria morder seu rosto. Enquanto ela avançava inutilmente contra a almofada, Sarah consegue se libertar das investidas de Joana e sair da casa, fechando a porta atrás de si para impedi-la de segui-la.

Pelo estado em que estavam suas roupas, dona Joana deveria de ter sucumbido logo no primeiro dia, e aquela mulher sempre fora fofoqueira demais e adorava estar onde o circo pegava fogo, talvez tenha tido o que merecia afinal.

- Velha filha da puta. - suspira Sarah, passando a mão na testa para limpar o suor. O sol havia aparecido e estava castigando cada ser que caminhava pela Terra hoje.

Pensando por outro lado, se Joana ficou doente no primeiro dia, o seu estoque de comida e medicamentos deveria de estar praticamente intocado. Franzindo o cenho e mal acreditando no que estava prestes à fazer, Sarah corre para dentro da casa e chama sua atenção, saindo na mesma velocidade e deitando-se embaixo do carro. Os passos lentos a levam para fora de casa, e com uma pedra em mãos, Sarah tento distraí-la para que fosse em outra direção.

Jogando a rocha para a entrada da outra rua, que ficava a menos de meio metro de onde estava, Sarah usa de toda força possível para que esta fizesse barulho ao ricochetear onde fosse possível. Para sua incredulidade aquilo incrivelmente dá certo, e o que foi um dia Joana, mãe de Augusto, cambaleia até sumir de sua vista em busca de algo que não estaria lá.

Voltando para dentro da casa com a mochila que antes tinha as coisas de Sarila, ela abre todos os armários e a despensa, colocando o máximo possível de comida enlatada e não perecível, indo até o carro uma vez para esvaziá-la para poder fazer mais uma viagem com suprimentos.

Subindo até o banheiro e abrindo o espelho de parede, Sarah retira todos os medicamentos que a mulher tinha e os joga dentro de sua mochila, e pondera durante alguns segundos ao se recordar sobre uma maleta de primeiros socorros que ficava no quarto principal da casa.

Ao tentar abrir a porta, esta recebe um baque surdo do outro lado, quase como se alguém tivesse se jogado contra ela.

- Tem alguém aí dentro? -sussurrou Sarah.

Para sempre Sarah - A zombie novel ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora