Quando Sarah atingiu o chão, não conseguiu conter o impacto, rolando barranco abaixo até perto da margem do rio que cortava a cidade. Ao contrário dos filmes, ela não se levantou em uma cambalhota e a todo pique continuou sua busca implacável, não mesmo.
Ela havia se deitado de bruços, respirando pesadamente e com pontos pretos contornando toda a sua visão do céu azul lindo que havia acima de si.
Já era noite quando abriu os olhos novamente, em um tranco de susto, se sentando com dificuldade. Ela engatinhou até conseguir ficar perto o suficiente da água para bebê-la. Reprimindo a bile ao imaginar que tipo de germes e bactérias poderiam estar entrando em seu corpo, ela tenta se conformar com o fato de que já está completamente ferrada.
Depois de várias viagens de ida e volta da minha mão até o rio, ela finalmente sacia sua sede, tomando até mais do que deveria para inibir a fome, sua mãe chamava aquilo de barriga d'água. Fitando as margens do rio e a escadaria do outro lado que levava para a ponte, Sarah cogita nadar, calculo as chances de se afogar.
Pensando que seria melhor morrer afogada do que de fome ou canibalizada, aos poucos ela vai colocando seu corpo para dentro do rio, ficando de costas quando foi possível e iniciando a travessia. Ela iria boiar até o outro lado, não existia nem possibilidade de tentar nadar, todo o seu corpo doía demais.
Observando o céu noturno, ela torce para não ter surpresa alguma esperando-a do outro lado do rio. O trajeto a permite relaxar na medida do aceitável durante alguns minutos, parecendo tirar suas dores como um beijo gentil e bem-vindo, e a correnteza estava levando seu corpo rapidamente pois ela não estava lutando contra, apenas indo em uma linha torta até a outra margem. O frio envolviam cada vez mais o seu corpo, as águas glaciais anestesiando cada foco de dor, deslocando-os para o limbo.
Podia jurar que viu uma estrela cadente cortou o céu, então fechou os olhos e fez um pedido.
Jogando os braços para trás, bem esticados, ela tocou a lama densa da margem, virando com calma seu corpo. Quando consegue dar pé o suficiente, finalmente sai da água, tremendo os lábios e se mantendo atenta com qualquer barulho ao meu redor.
Subindo as escadas vagarosamente, ela quer evitar qualquer som. Ao chegar perto do topo da ponte, Sarah busca atentar a visão o máximo, percebendo centenas de corpos estáticos, esperando por algo que pudesse despertar seus instintos assassinos. Mordendo o lábio inferior, ela tenta bolar algo para levá-los para longe de si, mas alguém foi mais rápido.
Isso mesmo, alguém.
Um vulto veloz vinha na direção da ponte que se ligava ao portal da cidade, parando abruptamente com um deslize ruidoso quinhentos metros antes de chegar até eles. Foi o suficiente, aquele alto e sonoro deslize, fazendo todas as cabeças se viraram para a direção do som.
Com o coração batendo nos ouvidos, Sarah sente o corpo travar. Ela reconheço aquele semblante assustado em meio às sombras da noite, e sem pensar duas vezes sai de seu esconderijo, agarrando o braço da figura e arrastando-a consigo.
- Corre Julie! – grita ela. – Corre!
Julie lança o corpo para acompanhá-la, correndo com dificuldade que Sarah desconheceu. Ela era cirurgiã do corpo clínico do hospital da cidade, assim como Sarah. Durante anos ambas construíram uma amizade maravilhosa, Julie era aventureira e adorava praticar esportes.
- Para Sarah, eu não consigo mais. – ela fala, deixando-se desprender de seu aperto. – É muito tarde pra mim.
A adrenalina cortava a dor, mas não a falta de fôlego. Parando junto com ela, Sarah coloca as mãos nos joelhos para buscar ar.
- Que história é essa Julie? - ela ergue a cabeça, ofegando.
Um barulho de choro enche o ar, contrastando com os corpos mortos e cambaleantes ao fundo. O crepúsculo banhava parcialmente aquele cenário.
- Eles me pegaram Sarah, pegaram o Travis também. – lamenta-se Julia, chorosa. – Arrancaram ele dos meus braços, e e-eu não consegui deixá-lo ir, e aí eles me morderam também.
Levantando a camisa, ela mostra duas ou três marcas de dentes pelo seu tronco e braço.
Travis era o filho dela. Julie Abraham, mãe solteira perdidamente apaixonada pela vida. Vítima de violência doméstica, fugiu do ex marido abusivo ainda grávida, entrando na universidade com nada mais do que uma ordem de restrição e desejo de fazer a diferença no mundo.
Sarah se lembrava de quando a viu pela primeira vez, magra como um palito, a barriga saliente parecia uma azeitona recheada. Quando Travis nasceu, um bebê branquinho como a neve e de cabelos castanhos como o tronco de uma árvore, era Sarah quem estava lá com ela, segurando sua mão.
Tia Sarah, era assim que o menino a chamava.
Sem me dar tempo para responder, ela se dobra, vomitando algo escuro que só poderia ser sangue.
- Vai Sarah! – grita Julia, com uma voz irreconhecível, ao levantar a cabeça.
Voltando a fugir, Sarah corre apavorada até a rua de trás da próxima esquina, essa que a levou até a rua que sairia na frente de seu condomínio. Só diminuiu o passo até a hora que o carro de Augusto chegou aos seus olhos. Estacionada de qualquer jeito, a BMW azul horrível e esportiva brilhava como uma joia rara e empoeirada.
Cruzando o portão do seu bloco, o mesmo pelo qual saíra e deixara aberto, até a área comum principal, as flores antes lindas agora pisoteadas e levemente apodrecidas. Não havia sequer um deles à vista.
A porta lateral ainda aberta, como deixou.
Subindo vagarosamente as escadas, ela pensava sobre a última vez que havia usado o banheiro, sua bexiga gritava por alívio. Agora, de frente a porta do seu apartamento, Sarah suspirou ao tocar o bolso de trás da calça jeans, torcendo para encontrar a chave da casa nele.
Não estava.
Lágrimas novamente lhe sobem imediatamente os olhos magoados.
Antes de desistir e aceitar o seu destino horrível, ela se recorda da chave reserva que sempre deixou sob o tapete da porta. Cruzando os dedos, ela a busca, e quando estes tocam o metal gelado um riso de alívio escapa por sua boca.
Girando a maçaneta, Sarah adentra ao ambiente. Ele estava claro, e isso a faz pensar se havia sido assim que realmente deixou as cortinas antes de sair. Tomando cuidado ao trancar a porta novamente, ela vai de encontro a cozinha.
Haviam alguns pratos na pia, uma xícara de café na ilha e um homem de pé em frente a janela.
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Para sempre Sarah - A zombie novel ✔️
Science FictionSarah sente saudade de Augusto. Durante o fim de uma tarde de Outubro, algo inusitado a coloca em contato novamente com seu ex. Esse algo é nada menos do que pessoas doentes que atacam todos que vêem, assassinando à sangue frio os azarões que cruzam...