Annoying

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- Sarah.

- Tem alguém aí? – sussurro, de ouvidos colados à porta.

Depois de uma eternidade de quietude, esta se abre, revelando um casal jovem encolhido.

- Sarah! – me abraça Vicente. – Como nos encontrou?

Observo Elise durante longos segundos, me lembrando de como eu a odiava de todo rancoroso coração. Quantas vezes Augusto e eu brigamos por conta das coisas maldosas que ela dizia ao meu respeito para os quatro cantos do universo junto com dona Joana, que pelas minhas costas amava dizer que eu não era boa o suficiente para seu filho mesmo após dez anos de relacionamento, enquanto Elise e Vicente não estavam juntos há pouco menos de um ano. O irmão e ele queriam que nós duas nos déssemos bem mas só eu sei o quanto sofri pelos ataques injustiçados das duas.

- Não foi proposital. – saio de seu abraço me sentindo ligeiramente desconfortável. Nós já fomos tão próximos, tão confidentes... – Estava procurando por Augusto.

- Vocês voltaram?! – exclama animado, o que me faz remexer em meus próprios pés. – Fico muito feliz Sarah, Augusto não é o mesmo sem você, só fica deprimido pelos cantos.

Nada respondo ao tentar absorver o fato de que nós dois sofremos calados de modo orgulhoso um longe do outro, sentindo-me despedaçar aos poucos.

- Espero que fiquem bem então, eu já vou indo.

Fazendo menção de me virar, Vicente agarra meu braço.

- Pra onde vai sozinha? – franze o cenho, preocupado, ao fundo eu vejo um rolar de olhos de Elise. - Não é seguro lá fora, a mãe, ela...

- Irei procurar algum tipo de abrigo, devem ter montado um campo de quarentena em algum lugar aos arredores da cidade.

Ele vira a cabeça para ter uma conversa muda com Elise, que permanece com a mesma cara de cú azedo de sempre.

- Podemos ir com você? – pede, obviamente deveriam de estar sem carro, tornando perigoso qualquer trajeto que quisessem realizar.

O meu coração mole não irá negar ajuda a Vicente, mas para Elise tenho certeza que negaria com prazer sadista. Vasculho pelo quarto o paradeiro do kit de primeiros socorros, encontrando-o dentro do armário do banheiro da suíte.

- Se souberem da existência de mais algum desses, agora é a hora de me avisar. – mostro a caixa, balançando a alça entre os dedos.

- Ela só tinha essa, sabe muito bem disso. – Elise se pronuncia pela primeira vez em todo esse tempo.

- Se eu soubesse não estaria perguntando. – fecho a cara, voltando a face para Vicente. – Não faça eu me arrepender Vicente, você sabe muito bem o que eu penso.

Saio pela casa, chegando até o carro e alojando o kit no porta-malas. Pouco depois Elise está se sentando no banco de trás e seu namorado ao meu lado no banco da frente, não é segredo que ela desdenha dele por isso, recebendo um olhar de censura meu pelo retrovisor. 

Um bom motivo era tudo que eu precisava para deixá-la no meio do nada.

- Precisamos de gasolina, essa caminhonete bebe bastante. – observa Vicente.

- É o conforto Vicente. – dou uma risada relaxada pela primeira vez em três dias, dando partida no carro. – Um Audi não é uma das melhores opções para um passeio pelo inferno?

Trocamos risadas por algum tempo, até que a realidade nos atinge com força de verdade, emudecendo-nos. Era um carro que consumia muito combustível para se manter, logo isso não seria mais uma opção viável, precisávamos de um veículo econômico mas também espaçoso, as malas e os suprimentos precisavam ocupar apenas o porta-malas, não o interior do carro também.

Para sempre Sarah - A zombie novel ✔️Onde histórias criam vida. Descubra agora