Capítulo 11 - O FLORISTA

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— Ô, Viana, o chefe quer falar com você!

Roberto Viana acabava de escrever um relatório, quando seu parceiro Josimar deu a ele esse recado. Viana franziu a testa, fez uma cara feia e soltou um suspiro de mau humor. Não teve pressa. Terminou de escrever seu relatório, datou, assinou e, calmamente, leu o documento, conferindo se havia algum erro ou alguma omissão grave que pudesse pôr em dúvida seu relato sobre o caso daquela tarde. Depois, clicou a caneta e a guardou no bolso direito da camisa branca. Retirou os óculos, coçou os olhos cansados. Dobrou as pernas dos seus segundos olhos, levando-os em seguida para dentro do mesmo bolso onde já estavam a caneta, a metade de um pacote de bala de extraforte e um maço de cigarros aberto.

O bolso reclamou a entrada de mais um objeto. Viana, porém, deu um jeito e conseguiu encaixar os óculos no meio das outras coisas. Abriu a gaveta dentro da qual costumava guardar sua caderneta com telefones e endereços úteis e indispensáveis, um grampeador, alguns clipes, três pacotes fechados de cigarro, alguns papéis e uma pilha de relatórios que ele sempre se esquecia de entregar ao chefe. Então, como de costume, olhou alguns segundos para a gaveta aberta. Fez um bico de dúvida, uma cara de enfado, levantou os olhos e jogou lá dentro o relatório que havia acabado de escrever, ao mesmo tempo em que soltava seu suspiro característico. Passou as mãos ásperas no rosto e, depois, nos cabelos crespos.

— Aí, o chefe está esperando! disse seu amigo e parceiro Josimar, com um sorrisinho debochado no canto da boca.

— Eu sei, eu sei, resmungou Viana, enquanto decidia se colocaria ou não seu terno.

Não vestiu. Segurou o terno de qualquer maneira com a mão esquerda e foi se encontrar com o chefe. Achava ridícula e abusiva a nova ordem dada pelo delegado que dizia que todos os investigadores deveriam trabalhar de terno e gravata. Palhaçada! Em um lugar quente como o Rio de Janeiro, é um absurdo ordenar a um detetive, cujo serviço lhe exige ir para lá e para cá, o uso de uma roupa como aquela o tempo todo.

Viana deu três batidas na porta do delegado. Este mandou que ele entrasse, demonstrando na voz o mesmo descontentamento estampado em seu rosto. Assim que Viana entrou, o chefe o encarou por alguns segundos sem dizer uma só palavra e depois olhou para sua mão esquerda com ar repreensivo. Ele estava em pé, recostado na mesa. Braços cruzados. Olhar fixo em seu mais antigo detetive. Logo que descruzou os braços, o delegado deu as costas a Viana, caminhou para trás da mesa e apontou uma das cadeiras destinadas às visitas e aos subalternos.

— Senta aí, disse com voz seca. Aproveita e fecha a porta.

Viana obedeceu. Fechou a porta e sentou-se na cadeira a qual rangeu logo que sentiu o corpo do detetive liberar seu peso sobre ela. O homem não era gordo. Muito pelo contrário. Embora já estivesse com cinquenta e cinco anos, ele era o que costumam chamar de coroa enxuto, conservado. Alto, cerca de um metro e oitenta, chamava a atenção por onde passava e os colegas mais antigos gostavam de chamá-lo de Tony Tornado, embora fosse péssimo cantor e um dançarino terrível. Contudo, Viana se achava o melhor de todos os atores.

Vaidoso, acordava cedo todos os dias para ir à academia de ginástica perto de sua casa. Nos raros dias de folga, costumava sair para pedalar na companhia de seu parceiro Josimar. E, sempre que podia, não retornava do trabalho sem antes passar no clube militar, onde nadava durante cinquenta minutos, pelo menos.

— Cadê o Josimar?, perguntou o delegado.

Viana fez como se fosse se levantar da cadeira, porém, com um gesto ríspido, o delegado deu a entender que não seria necessário.

— Ô Josimar! Josimar!, o delegado gritou irritado.

Josimar abriu a porta, pressuroso.

— Estamos aguardando só o senhor, disse o chefe sem disfarçar sua impaciência.

OFICINA 666 - DOS OLHOS E DA FOICEOnde histórias criam vida. Descubra agora