OFICINA 666 - DOS OLHOS E DA FOICE

Capítulo 4 - O Esconderijo

— Por que você continua olhando para lá?

— Estou com medo.

— Medo? Já disse que não há mais o que temer.

— Eu sei. Mas...

— Fique tranquilo. Ninguém poderá nos encontrar aqui, porque estamos a salvo.

— Você tem certeza disso, mamãe?

— Sim, claro que eu tenho.

— Mas ele está tão perto. Seus olhos continuam a procurar a gente e parece que vai nos achar a qualquer instante.

— Não diga bobagem! Aqui estamos protegidos, seguros!

— Mas...

— Mas o que, meu filho? Eu não prometi a você que nos livraríamos dele para sempre?

— Sim, mas...

— E não foi isso o que eu fiz?

— Foi. Mas, se ele decidir atravessar o caminho, não seremos descobertos?

— Não acredito que ele tenha coragem de atravessar, meu filho. Só os fortes, os verdadeiramente fortes e corajosos o fazem.

— Como eu e você?

— Sim, como você e eu.

— Mas, por que ele olha para cá, como se soubesse que a gente não está tão longe assim? Será que ele ouve o que a gente fala?

— Não, não ouve.

— Talvez, a gente esteja falando alto demais e ele tenha nos escutado em algum momento...

— Não, meu filho, isso não é possível.

— Mas você disse que a gente ia para bem longe daqui e que não o veríamos nunca mais!

— Eu sei...

— Então, por que continuamos perto dele?

— Eu não sei...

— Ele vai descobrir a gente, mamãe, eu tenho certeza. Ele vai nos encontrar e tudo o que fizemos não adiantou nada!

— Não diga isso, meu filho! Olha para mim! Presta atenção: ele nunca irá nos encontrar aqui e o que fizemos não foi à toa! Entendeu? Diga: você entendeu que o que fizemos não foi em vão, que valeu à pena? Diga!

— (...)

— Você confia em mim, não é, filho?

— Confio. Mas, mãe, eu estou com medo, com muito medo.

— Meu filho, você não precisa mais temer coisa alguma. Lembra o que eu disse antes de partirmos?

— Sim: que ele não nos machucaria mais; que seríamos livres para sempre; que não sentiríamos mais dor ou medo ou tristeza.

— Porque ...

— Porque para onde a gente iria, os vivos não poderiam machucar os mortos.