Deixei o Jungkook no banheiro e voltei ao meu quarto para conferir como estavam as coisas com a estrela.
O quarto estava mais escuro do que o normal para aquela hora do dia. Vi que a garota se movimentou na cama e decidi conversar com ela:
— Oi, garota, — cutuquei a perna dela com a caixa dos óculos.
— Hummm, me deixa dormir...
— Olha, depois que o carro sair, você pode comer alguma coisa na cozinha. Antes disso, procura não dar bobeira pela casa. Tem seguranças do lado de fora e se virem você, teremos problemas.
— Estou sabendo.
— Ídolos da Coreia, como nós, não podem se envolver em relacionamentos. Não seria bom para ninguém.
— Não precisa se preocupar comigo, de verdade. Vou dormir bastante a hora que a casa estiver em silêncio.
Peguei a mochila que preparei mais cedo e já ia saindo do quarto, quando a voz baixa da estrela me chamou:
— Fica perto do Jungkook hoje.
— Como assim? Estamos sempre juntos.
— Eu sei, mas talvez hoje seja uma ocasião especial.Fechei a porta e dei de cara com o Jungkook parado bem na minha frente. Ele sorriu e notei as olheiras.
— A senhora Park terá bastante trabalho com você hoje. — Caminhamos lado a lado para a porta — Seus olhos não negam a falta de sono durante a noite passada.
— Desculpa... — ele abaixou a cabeça — não tenho feito de propósito.
— Cara, — virei ele de frente para mim — você já é um homem, não é um garotinho, mas se tiver alguma coisa perturbando você e quiser conversar, é só falar comigo. Eu não vou julgar.
O rosto dele ficou vermelho. Quis poder colocá-lo no meu colo, mas ele não era mais o menino assustado que entrou no grupo porque gostou da minha atitude, então apenas o abracei como em tantas outras vezes que ele sentiu falta de sua casa.
A buzina da van nos interrompeu e saí levando-o dentro do meu abraço.
No carro, nossos outros cinco companheiros já estavam sentados confortavelmente. Os fones nos ouvidos, o script a ser decorado na mão de cada um deles. Mais um programa de entretenimento para participar. Nada mais. O tema era o lançamento do novo álbum. O clipe foi o maior alvoroço. Tivemos milhares de visualizações e compartilhamentos nos primeiros minutos que foram ao ar. Isso mexia demais com a cabeça de qualquer pessoa, talvez esse fosse o problema do Jungkook, mas ele devia ter se acostumado com isso. Desde o início sempre foi a mesma coisa.
— Kookie, que cara é essa? Meu, agora que vi seus olhos! — Jimin gritou, tirando os fones do ouvido. — Não dá para aparecer na TV desse jeito!
— Claro que dá! É para isso que existem maquiadores no mundo — defendi.
— Jimin, larga de frescura! — Yoongi gritou, batendo com a pilha de papel na cabeça dele.
— Aí!!!
Todos riram e, por um instante, esqueceram do Tampinha. Revirei a mochila em busca de algo que me ajudasse e encontrei o que precisava.
— Toma aqui! — coloquei a caixinha na mão de Jungkook.
— Mas eles são especiais — ele sussurrou aproximando o corpo da frente do meu, visto que sentávamos um de frente para o outro. — não quero quebrar...
— Minha irmã ficará lisonjeada em saber que o óculos que ela me deu com o esforço do primeiro pagamento dela cobriu a sua noite mal dormida. — suspirei, vendo os postes passarem pela janela ao meu lado — ela te adora.
Ele tirou os óculos escuros da caixinha prateada e colocou no rosto. Não resisti. Peguei o celular no bolso e bati uma foto dele.
— Hei! — ele corou.
— Preciso de provas. Se eu apenas falar, ela não vai acreditar em mim.
— Por quê? Você não é confiável?
Limpei a garganta.
— Claro que sou. Você sabe...
— Tá, gente, vamos repassar as falas? — Jin interrompeu nossa conversa e voltamos para o papel de ídolos que teríamos que desempenhar.O trajeto até a emissora de TV levou pouco mais de meia hora e, quando chegamos, as falas de todos estavam decoradas. E se qualquer um de nós se esquecesse de algo, bastava partir para o improviso. Normal.
Só não contávamos com a quantidade de repórteres e fãs na porta de entrada. O programa não era ao vivo e achamos que fosse um evento sem a participação de plateia. Fizemos uma fila indiana onde um segurava a mão do outro para podermos entrar e ninguém ficar para trás. Além disso, havia seguranças por todos os lados. E, mesmo assim, a passagem foi difícil. Não queria ficar reclamando nem nada, mas o bom senso mandou lembranças. Não havia um momento de sossego para nenhum de nós. É claro que situações de ansiedade, onde não se consegue nem dormir, acabam sendo frequentes. Cada um de nós teve seus momentos de depressão. Mas essa era a primeira vez que eu via o Tampinha nesse estado. Isso acontecia muito mais com o Tae e o Yoongi.
Ele segurou meu braço com mais força que o normal e quis criar asas e sair dali voando como um passarinho, mas isso não passava de ilusão.
Foi quando me lembrei da tal estrela dormindo no meu quarto. Talvez o impossível também pudesse acontecer.
Levei Jungkook para dentro dos estúdios, sentei-o numa poltrona de espaldar alto e assentos almofadados. Foi tão bom perceber como ele confiava em mim, sem se importar com o que os outros diriam. Apenas me obedecia sem perguntas.
— A estrela me pediu para ficar de olho em você hoje.
Ele fez menção de se levantar, mas eu o impedi.
— Estou falando muito sério. Não sei se ela é quem diz que é, mas prefiro não arriscar com você.
Ele fechou a cara antes de me fitar e responder:
— Você sabe que não sou mais criança, não sabe?
Seu rosto sério e cheio de determinação algo que eu não esperava. Limpei a garganta antes de continuar:
— É óbvio que eu sei. — Virei as costas e quase derrubei o estojo de maquiagem que estava no móvel atrás de mim. Ele sorriu e pegou o objeto no ar.
— É claro que eu sei. Melhor que nenhuma outra pessoa. Mas isso não muda o fato de eu me importar e querer te proteger.
Andei pela sala pequena, girando em meu próprio eixo, tentando encontrar as palavras certas.
— Nada pode mudar o fato de que eu vou querer te proteger e lhe fazer feliz. No mês passado, você me deu um susto muito grande quando quase desmaiou no show.
Eu me agachei a seus pés e coloquei as mãos em volta de seu rosto.
— Eu não conseguiria viver se soubesse que nossas escolhas profissionais estivessem fazendo mal a você. — Apoiei as mãos em suas coxas — se você não quiser mais isso tudo aqui, é só dizer e é vida que segue, a gente vai viver de outra coisa.
Ele sorriu mais uma vez e cobriu minhas mãos com as suas.
— Enquanto nós sete estivermos juntos, pode ter certeza de que não vou desejar outra coisa para minha vida.
Ele me encarava com os o olhos mais brilhantes do universo quando uma batida na porta quebrou o encanto e meu coração acelerou.
— Está tudo bem? — Hobi quis saber e nós dois nos levantamos e vimos um a um entrar e se sentar, sendo aprontados para a participação no programa de tevê.
Jin parou ao meu lado depois que passou pelo crivo da maquiagem e esperava pelo cabeleireiro terminar o penteado do Jimin e já imaginei que dali viria alguma bomba. Ele gostava de me provocar com bastante frequência, porém seu olhar não dizia que estivesse por ali para brincadeiras.
— O empresário não está nenhum pouco feliz com vocês hoje.
Abri a boca para nos defender e ele foi logo me interrompendo:
— Não me leva a mal, mano, mas deixa eu falar enquanto os outros estão distraídos — ele se aproximou mais do meu ouvido — não dá para ter uma postura tão irresponsável como foi a de hoje, a gente poderia ter perdido muita coisa se não estivessem tão interessados com a nossa participação por aqui. Os contratos precisam ser cumpridos, caso contrário, a fama da empresa fica prejudicada e todos nós, sem exceção, vão para o buraco.
Respirei fundo e apenas concordei com a cabeça.
Tudo aconteceu rápido demais. O dia tinha asas e voava e alcançava alturas impossíveis de se acompanhar como eu gostaria. O script foi seguido a risca, mas após um tempo considerável do programa, perguntas pessoais foram feitas e não escapei da embaraçosa especulação do meu relacionamento secreto e, quando comecei a falar daquele jeito debochado, tentando desviar do assunto, percebi algo que me inquietou muito.
Jungkook olhava sério para as próprias mãos. Notei também o olhar com as lágrimas empoçadas. Será que eu via algo que não existia e todo aquele jeito diferente meio depressivo dizia respeito a mim mesmo? Quis largar tudo e correr para me postar ao seu lado, mas era loucura. Não podia. Eu era o porta-voz da equipe e eles dependiam da minha diplomacia durante esses eventos em que nos filmavam. Eu só podia responder ao que a empresa me autorizava previamente e os outros também não eram autorizados a responder qualquer coisa, falavam apenas caso eu acenasse antes. Os minutos duraram séculos e, assim que nos despedimos do palco, Jungkook foi o primeiro a sair e eu corri atrás dele, empurrando os demais.
Puxei sua mão e fiz com que ele me encarasse como homem:
— Fala logo o que está acontecendo! — inquiri.
Ele desviou o rosto para todas as direções e vi a lágrima escondida no canto do olho. A sorte foi as pessoas irem direto para os camarins comunitários onde uma bebida fresca era servida e o nosso empresário faria algum discurso de agradecimento pelo trabalho de toda a equipe.
Não precisava participar mais uma vez de toda aquela encenação e gritei por cima do ombro do Jungkook:
— Vou levar o Tampinha de volta para o carro. — Jin ergueu o polegar para mim e foi em direção ao grupo com nosso empresário. Já imaginei que ele inventaria uma desculpa para nossa ausência.
Puxei a porta do carro e fiz Jungkook entrar primeiro.
— Agora não quero mais desculpas. Fala tudo que está incomodando. Tem alguma coisa a ver comigo?
Os segundos se estendendo como horas.
Ele apenas acenou em concordância, sacudindo a cabeça de modo frenético e puxou o cinto de segurança do carro, envolvendo seu peitoral.
— Continua. Não para de falar. Eu vi como você ficou no palco. Você estava prestes a chorar. Não nega...
Ele me olhou de olhos arregalados e abriu a boca e a fechou algumas vezes, suas maçãs do rosto tornaram-se avermelhadas.
— Você não vai gostar nenhum pouco de saber o que estou pensando.
— Nada que você me disser vai me chatear. Já passamos dessa fase...
— Mesmo que tivesse a ver com o que sinto por você?
Engoli seco e me aproximei mais de seu banco que era de frente para o meu.
— Nada...
Foi quando a porta se abriu com estrondo e quatro caras vestidos de preto e máscaras entraram nos encurralando.
— O que está acontecendo? — perguntei, temendo a resposta.
— Fiquem quietos e não digam uma palavra, caso contrário, vocês irão se ferir.
Congelei na mesma hora.
Um dos caras prendeu as mãos de Jungkook com uma algema e outro apertou meu cinto de segurança depois de me algemar também. Uma mordaça foi colocada na boca de nós dois e quis gritar para proteger meu maninho, mas não poderia fazer nada de mãos atadas como me encontrava naquele momento. Tentei me desvencilhar, uma arma com silenciador, no entanto, foi um motivo muito convincente para eu me calar, pois a arma estava apontada para a cabeça de Jungkook e eu não podia correr o risco de perdê-lo e foi então que as palavras da estrela naquela manhã fizeram sentido. Eu tinha a missão de cuidar para que meu Jungkook não corresse perigo e faria isso a qualquer preço, mesmo que custasse minha própria vida.
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Estrela Cadente
FanfictionOs integrantes do BTS percebem que algo estranho está acontecendo com Jungkook. Ele não é mais o caçula descontraído de sempre. Desde que ele começou a notar seus verdadeiros sentimentos por um dos seus amigos mais queridos, ele não teve mais sosseg...