Estrela Cadente

* Capítulo 2 - Namjoon

Não pensei muito, ou estava tão confuso que simplesmente entrei na casa. Deixei o Tampinha lá fora e entrei. Senti que algo não estava indo bem com ele, mas o que poderia dizer? A cabeça dele estava tão confusa quanto a minha.

A cada dia, via o Tampinha crescendo e se tornando do garotinho fofo num jovem lindo. No começo, ele era como meu irmãozinho caçula. Como se eu tivesse de fazer de tudo para protegê-lo dos males do mundo.

Ainda me lembro da primeira noite que ele passou no nosso primeiro apartamento. Um quarto para ser dividido por quatro garotos. Ele estava com aqueles enormes olhos pretos mais arregalados do que nunca. Lembro-me de pensar que talvez ele fosse nos dar trabalho, mas nada podia ter sido mais perfeito.

Ele se deitou na cama embaixo da minha e ligou o iPod com os fones no ouvido. Ouvi o zumbido característico de um dos meus raps. Imaginei onde ele teria arrumado aquilo. Espiei a cama de baixo e vi o rosto de bebê com um rastro de lágrimas sulcando sua pele com o brilho da luz de led do aparelho o iluminando.
Sempre me recordo daquela noite. Tão talentoso e tão frágil, mas desejando do fundo do coração ser tratado como homem e não como o mascote da turma.

No dia seguinte, acordei o menino, chamando-o de Tampinha. Ele fechava a cara, mas abria um sorriso toda vez que eu sorria.
Então, quis ser legal de verdade.

Nossa rotina não era fácil. Cada dia um preparava o café da manhã para o grupo e, para isso, a pessoa era obrigada a acordar antes das seis, já que o treinamento começava às seis e trinta em ponto. Aquela manhã seria dele, mas quis ser legal de verdade e acordei antes.

Não sou o maior cozinheiro do mundo, mas peguei emprestado o livro de receitas do Jin e fiz panquecas americanas com cobertura de chocolate para o garoto.
Quando acordou, foi até a cozinha. O cabelo todo arrepiado, a cara amassada, os olhos com uma remela ressecada me olharam confusos. O cheiro o fez abrir um sorriso imenso. A partir daquele dia, eu estava perdido. Depois de um sorriso como aquele, você passa a fazer o café da manhã para a pessoa todos os dias.

Nos dias em que ele ou eu éramos responsáveis pelo café da manhã, sempre fazíamos isso juntos. Ele foi aprendendo comigo e virou rotina, mesmo nos dias agitados de shows, quando estávamos nos hotéis, virou nosso pequeno ritual de todas as manhãs: tomar o café juntos.

Eu aprendi a conhecer seus gostos e ele os meus. Tudo muito natural. O que não vinha sendo natural nos últimos meses era saber que ele perdia o sono quase todas as noites e desconfiava que fosse por minha causa. No dia anterior, Yoongi comentou que viu Jungkook perambulando pela casa ouvindo o velho iPod com as minhas músicas. E quando foi perguntado qual era o problema, ele apenas desconversou e pronto. Nada de se expor.
Dois meses atrás, um programa sensacionalista publicou umas fotos minhas com uma suposta namorada. Fiquei muito chateado porque era mentira. Quer dizer, você não pode sair com amigos, nem tocar na mão de uma moça que já vão fazendo sua festa de casamento para o mundo todo ver.
Apesar dos caras aqui do grupo saberem que eu não me envolveria com nenhuma garota nesse momento, o Jungkook passou a ficar meio esquisito comigo.

Deixei o Tampinha lá fora, mas minha cabeça continuava com ele. Tive inclusive a ideia de chamá-lo para dormir no meu quarto para a gente poder conversar melhor, pois eu era o único que não precisava dividir o quarto com ninguém. Entrei no meu quarto, mas fiquei do lado de dentro da porta, observando se o Tampinha entrava. Mas passou uma eternidade e nada dele entrar. Comecei a me preocupar de verdade. E se ele tivesse desmaiado de sono do lado de fora? O frio não o deixaria ileso. Acabaria com sua linda voz e a apresentação ao vivo dentro de dois dias estaria totalmente arruinada.

Escancarei a porta do quarto e corri o mais rápido possível até a porta de entrada onde eu havia o deixado uns minutos antes.

Quis gritar o nome dele, mas contive meu ímpeto e meu pé escorregou na grama ao lado da casa. Tudo parecia bem. Não ouvi nada que dissesse o contrário.