Capítulo 8: Aniquilação

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Os navios estão tão próximos quanto poderia ser desejado, fazendo todos em conjunto sentir frios na espinha. Dois homens saltam de um navio para o outro, escalando pelo bombordo do adversário com a intenção de atravessá-lo sem serem vistos.

O capitão do navio adversário — que levou o maior número de destruição em seu navio — leva uma aparência conservada e elegante, deixando seu chapéu de preto profundo carregar uma pena que balança ao vento. Seus dois metros de altura revelam sua identidade quando seu próprio dono decide mostrá-la, segurando o cabo de sua pistola presa ao coldre no peito, que é sua marca registrada.

Ambos os navios continuam o trajeto na mesma velocidade, deixando o caos que provocaram e viveram para trás, como algo passageiro que se dissolverá nas águas do oceano.

— Espero que ainda se lembre de mim — ele observa a expressão de Edward, recebendo sua resposta. — Que decepção. Pois bem, permita-me. Black Hearth, ao seu dispor — o homem olha para trás e analisa com afinco o desastre que deixaram para trás, como busca de novas palavras. — Ou pelo menos, eu acho que não.

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Black Hearth se aproxima ainda mais para a borda de seu navio, revelando que o que fazia aquele barulho em seu próprio convés era uma perna a menos que foi substituída por uma perna de madeira.

— Imagino que também não se lembre de minhas ações, muito marcantes por sinal.

Enquanto tosse e engole a própria saliva preparando um discurso, os dois homens que saltaram para o navio de Edward chegam ao local esperado, escalando até o convés. Um deles porta um par de pistolas prateadas e bem carregadas, o outro, uma adaga também prateada. O primeiro posiciona sua lâmina abaixo da garganta de Lauren, e o segundo, uma das pistolas em seu crânio, e a outra pistola, apontando para os demais tripulantes. Sons de mosquetes sendo carregados e espadas sendo retiradas dos cintos chamam a atenção de Edward, que vira o pescoço lentamente até Lauren enquanto Black Hearth continua seu pronunciamento, refrescando a memória de Edward.

— Lembra-se de Marie? — o nome rouba a atenção de Edward novamente, que o olha atentamente sem se pronunciar. — É uma pena. Tão delicada quanto o nome que portava — ele se debruça sobre o primeiro encosto que aparece à sua frente, seus olhares se encontrando e não ousando se desviar. — Sabe o que realmente foi uma pena? Eu não ter tido o prazer de matá-la.

Edward mantém seus olhos em Lauren, olhando-a por cima dos ombros, mas mantendo a atenção no discurso desnecessário, tendo de aturar sua mente dizendo-o para matá-lo de uma vez.

— Mas não se preocupe, eu acabei com a vida do homem que o fez. Ele era um de meus homens, e eu o matei por esse mesmo motivo. Ele me tirou o prazer.

Edward sente a expressão e o sentimento de cada um ao seu redor: Ivanovici assustado, com medo, tentando se controlar em ver todos naquela situação. O coração de Lauren palpitando, mas não assustado ou tenso, dando a impressão de já ter vivido isso antes. Sheperdd se preparando para tentar abater rapidamente os homens que fazem Lauren de refém, e Ethan se sentindo culpado por não ter entrado em cena a tempo.

— Mas eu finalmente conseguirei ter o prazer que desejava. O que acha de vê-la morrer? Aquela mulher? Bem ali? Como forma de lembrança muito breve e rápida, em troca deste navio? O que acha disso?

Diante da "proposta", os homens de Black Hearth forçam as armas contra Lauren, fazendo-a se movimentar para evitar o contato com a lâmina em seu pescoço.

— Solte-a.

Hearth sorri diante do que ouviu, mostrando seus dentes dourados, e se inclina para frente, tentando ouvir nova-mente.

— Desculpe, eu não entendi. Pode repetir?

— SOLTE-A!

Seu grito ecoa pelo local como uma bola de ferro disparada por um canhão. Não causou efeito algum em seu adversário, apenas o faz rir freneticamente e

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despreocupadamente.

— Me desculpe. Você precisa de tempo? É isso? — Ele sorri diante da própria ideia, elegendo-a ideal. — Tudo bem, eu posso contar — um relógio de bolso é retirado de seu traje, que fica diante de seus olhos. — Você tem exatamente... um minuto.

Edward Cooper volta seu olhar para Lauren, que nega para ele lentamente com a cabeça. Pensamentos aleatórios e negativos tomam a sua mente, fazendo-o fechar os olhos para organizá-los sem se importar com o tempo que corre depressa.

— Não...

Vai mesmo deixar isso acontecer?

E não fará nada a respeito?

— Você tem... trinta segundos.

O que está esperando? Acabe com ele!

Duas pessoas. Apenas uma sobreviveu, e por quê? Porque você fez algo.
Quer que Lauren seja a segunda a morrer, ou a segunda a sobreviver?

Está em suas mãos, Edward.

— Tudo bem, já chega. Acabe com a mulher.

Diante da frase, Lauren fecha os olhos, pronta, firme e forte como sempre esteve, só que, desta vez, esperando pelo pior.

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— Não!

Edward age rapidamente, retirando sua pistola de seu coldre, acertando um tiro no crânio de um dos homens, e o segundo tiro, no outro, um dos melhores tiros que já efetuou. Ele gira o corpo e mantém sua pistola a postos, mirando no capitão do navio adversário, que sentiu seu sorriso sumir instantaneamente. Edward descarrega sua pistola disparando contra o peito de Hearth, esperando com que o mesmo caia no oceano e permaneça ali o máximo de tempo possível. E assim aconteceu. Sem nenhuma palavra a ser dita por último, seu corpo caiu ao mar como qualquer corpo sem dono, pelo menos, não mais.

— Acabe com esse navio — diz Edward para Sheperdd, que agora está ao seu lado. — O mesmo não tem mais um capitão — ele se distancia do homem e caminha em direção a Lauren, de joelhos e com as mãos apoiadas no chão, se recuperando do que acaba de acontecer.

— Sim, capitão! — Sheperdd expressa um sorriso que há muito não expressava, e inicia com muito gosto a dar ordens aos homens ta tripulação que restaram. Cerca de 30 homens se foram. — PREPAREM OS CANHÕES E AS ARMAS, RECOLHAM A BANDEIRA! NÃO TENHAM NENHUM ATO DE MISERICÓRDIA. ACABEM COM ELES!

Edward Cooper se ajoelha diante de Lauren, e toma o rosto da mulher em suas mãos, surpreendendo-se pelo sorriso da mesma diante de toda aquela situação.

— Do que ri? — Pergunta.

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— É incrível como você sempre conserta as coisas.

Edward a fita diante do que ela disse e a aproxima de seu peito aconchegante como abraço, se lembrando como sempre das coisas ruins que passou e, principalmente, lembrando-se de Mark Ballard.

— Não tem ideia de como eu gostaria que isso fosse verdade — sussurra para si mesmo. — Não tem ideia...

Pela primeira vez, o mesmo fecha os olhos despreocupadamente diante de um caos e uma guerra que acaba de iniciar, tendo tempo, há muito tempo, para se aconchegar no colo de alguém em quem confia, para pensar pelo máximo de tempo possível nas coisas que carrega, refletindo como ainda consegue manter-se de pé.

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História Pirata: O Caminho para BostonOnde histórias criam vida. Descubra agora