Numa chuvosa tarde de verão,
surpreendido fui, lá pelos idos de 2003
com os caprichos de Eros;
quando em Palas de Rei, Lugo, Galicia
assaltado foi meu coração
por esta graciosa figura.Maria João trazia um traço fácil e leve
Suas formas e expressões eram delicadas.
Nada de exuberantes ou excepcionais.
Mas que de alguma forma me cativaram
E mais que uma pessoa me apontara o detalhe:
nossos corpos e feições eram muito semelhantes.Não que ela tivesse algo de másculo
ou eu, de afeminado... mas fácil reconhecer-se-ia
que éramos feitos da mesma fôrma,
ainda que nossos gênios e espíritos
fossem completamente diferentes... (Castor & Pólux ???)
E ao fim e ao cabo, nos atraímos imediatamente!Escondia-me eu da realidade,
fazendo-me de “el hospitalero brasileño”
num dos muitos Albergue de Peregrinos
ao largo do Caminho de Santiago, em Espanha.
E no momento do tal “encontro”, alimentava minh’alma
de saudade e apreensões futuras.Carregava ainda meu corpo
o cansaço de 1000 kms tocados a pé
e o perfume das estradas, matas, rios, mares
e, de Vanessa Capurso, a belgo-italiana
que ajardinara a marcha e colorira os dias
na Peregrinação minha à Santiago de Compostela.E através da tempestade de verão,
após os raios e trovões, iluminava-se
o que restava do escuro dia anunciando a noite.
Veio qual estrela-cadente na companhia de Ana Paula
e Florbela – a Belinha – a jovem lusitana, Maria João.
Não resisti a tanto charme!Em menos de um mês já estávamos “colados”
E nem a trintena forçada de saudade
(pois logo fora por 30 dias aos Açores, de férias)
apagou o incêndio que explodia em nossas almas.
Recordo-me como se fosse hojedos longos e belíssimos dias vividos em O Cebreiro,
entrecortados por chispas de luz e amor,
cada vez que falávamos ao telefone ou por internet.
E quem nos vira então, apaixonados,
jamais adivinharia o pesadelo não-convidado...Por ela fui a Portugal.
Alterei os meus planos e motivações,
e, salvo uma curiosidade por poder estar junto a Cristina Ramír
na Barcelona de tantos sonhos,
nada mais me preocupava.Com sua família, conforto e carinho.
Sr Walter & Dª Mena, Zé Pedro, Freud – o cão,
seus amigos, sua avó e familiares: apoio e mais apoio.
Ajudaram-me mais do que eu merecia, para em Portugal
estabelecer-me e nova vida começar.Mas o trabalho, com viagens e reuniões a toda hora,
as incertezas de Maria João e a minha assumida
incompetência para os assuntos do coração,
contribuíram para o aborto prematuro
daquilo que poderia ser uma bela história de amor.Nada de despedidas, muitos desencontros...
discussões estéreis e agressivas, dor e decepção...
A bela Maria, cuja figura recorda-me sempre a de Meimei
- o venerável espírito encarnado entre nós brasileiros –
vai ser sempre bem guardada como a mais bela flor que já ousei ver.
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"11 Ais lusitanos" (2003/05)
PoetryPoesia relatando as incertezas de um jovem trabalhador brasileiro em Portugal, seus romances, seus questionamentos, seus desafios, suas alegrias. Visualmente não sei se agradará a leitura, pois não estou conseguindo postar na maneira original, em Ô...