"GUIMARÃES, SETÚBAL E PORTALEGRE" (08/08/05)

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Na verde-rubra terra lusitana
entre rios de límpidas águas, castelos e urbes,
três tesouros descobri em minhas viagens ibéricas,
cada qual com seu brasão, suas glórias e jóias.
Bem situadas em pontos-chave do continente luso,
tive por elas três, fatal atração.

No coração do verde Minho,
nem Bracara Augusta nem a invicta-cidade
roubam a afonsina beleza de Guimarães
- esta a cidade-berço da nação portuguesa.
Dela para os quatro cantos do mundo
espalha-se as mileuma façanhas da nobre gente.

Dom Afonso Henriques, de Viriato legítimo herdeiro
em bravura, coragem e no ideal libertador,
soube os castelhanos heroicamente derrotar,
e de imediato revelou ao mundo a bela Guimarães.
No seu castelo - testemunha da história memorável,
em suas praças, alamedas e floridos caminhos,

sinto-me convidado a um passeio ao Éden.
Em nenhuma outra cidade lusitana tão bem me sinto.
Próximo dali, Braga, Barcelos, Ponte de Lima, Esposende, Vila do Conde,
Viana do Castelo, Valença, Santo Tirso, Famalicão, Vila das Aves,
a rodeiam fazendo desta área um Getsemani imaculado.
E feliz daqueles que neste jardim penetraram.

Lá ao sul, na foz do Rio Sado está Setúbal.
Nem a proximidade de Lisboa lhe rouba a “luz”.
Foi na bi-milenária cidade que Bocage criou
a maior parte de seus polêmicos poemas.
Um passeio por Setúbal é um mergulho no ontem.
Respira-se o mesmo ar provinciano de séculos atrás.

Sinto-me em casa nela.
A presença de imigrantes de longínquas pátrias
(da Ásia, da Europa Oriental, de África e do Brasil)
faz dela uma pérola, um caleidoscópio no luso território.
A trabalho ou a passeio, a pé ou de barco,
em Setúbal respiro poesia e remoço outros tantos dias.

Sem contar com um Bocage
ou um Afonso Henriques,
Portalegre não deixa de ter seus encantos.
Uma, que seu nome me é inspirador
E outra, que sua gente, no vestir, comer e bailar

muito com a civilização sul-riograndense se parece.
O norte-alentejano e o gaúcho são primos pela alma.
Livres, independentes, pastores, solitários, devotos de Deus
e da natureza, do campo e do gado, do céu admiradores.
Estar em Portoalegre é um reviver especialíssimo.

Gostei muito de suas ladeiras, castelos, bares e esquinas.
No seus arredores senti saudade do Rio Grande.
Posso muito bem estar ali e sentir-me na Porto Alegre minha.
No churrasco, no mate, no lenço ao pescoço, no tosco linguajar,
em tudo o Norte-Alentejo se assemelha ao nosso belo Sul azul do Brasil.

E volto a Guimarães, não há como fugir.
Todo o Minho é muito lindo e, sobretudo,
uma sugestão lhes dou: visitem-no no Outono.
Outono por ali é coisa de cinema!
Entre Vieira do Minho e a vimaranense cidade, de carro,

passando por Braga (Estrada-Velha) e os rios que jorram como maná,
alimentada a alma de odores e de um frango no churrasco com vinho verde,
ao som de Dulce Pontes, Mariza ou Rui Veloso, a sós ou a-dois,
é um dos mais belos espectáculos que pode-se viver na Terra.
Quem puder, vá conferir. Quem não puder, lamente-se pela desdita...         

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