Veio assim, aos pouquinhos.
Já não saboreava os “frangos no churrasco”
regados a goles dionisíacos de vinho verde.
Já não prestava atenção nas belas mulheres minhotas
e, quanto aos homens, os encarava como animais
e sobrevivi ao Agosto entrando de joelhos em Setembro,meu aniversário, na ante-porta da primavera.
Foi a gota d’água: precisava fazer alguma coisa!
Sentia falta de casa, dos amigos, de Maria João,
da peregrinação à Santiago, de Fanny,
dos seres e das terras que lá do outro lado do Rio Minho
eu deixei: em Espanha.Ao meu estado emocional juntava-se o fisiológico
(a falta de sexo!). E para piorar, meio que
como conseqüência disso tudo,
os resultados ($$) não apareceram!
Minha dívida para com Célia e Martins
oscilava perigosamente, tanto financeira quanto moral.Meu relacionamento profissional
(ou a falta dele) se deteriorava.
Não conseguia dormir, o calor me sufocava,
a angústia e a auto-piedade me engoliam.
Nada mais me restava.
Era a pálida imagem, turva, de mim mesmo.Olhos perdidos na linha do oceano,
Coração que apenas com esforço, pulsava,
Já nem orar conseguia.
Não sei como demorei tanto a decidir-me.
Talvez ainda restasse em meu espírito
algo de lealdade, respeito à Liliana Pimenta...Mas logo se encheu o poço
e sem medir esforço parti,
em trem e de ônibus, rumo à Galicia.
Avistei-me com Loureiro, Rita & Cia
em Redondela, e ali, repousei de verdade
depois de mais de 6 meses...Um passeio por Pontevedra,
uma tarde em Compostela e de súbito,
vi-me em direção ao Cebreiro,
bem na divisa de Galicia com Castilla-León,
às portas de O Courel e Os Ancares.Do reencontro com Edita e o Albergue de Peregrinos
sobreviveram meus cds recuperados, a amizade renovada
e o belo entardecer naquelas montanhas.
Juntei-me anônimo a um grupo de peregrinos
e pus-me a marchar por três ou quatro dias.Fiz 40 ou mais kilômetros num dia.
Foi bom para sentir-me forte, rijo, rejuvenescido.
Com alegria e emoção dormi uma noite lá
no mítico Mosteiro de Samos, compartilhando
dos hábitos humildes destes religiosos cuja históriase confunde com a do Caminho de Santiago,
e, porque não?, com a da humanidade.
Senti-me em plenitude com a natureza, com as pessoas,
com Deus e, sobretudo, comigo mesmo...
Um outro dia mais em Espanha e logo regressei.Escapei da loucura! Tive direito a mais uma vida!
Foi importante para mim esse retorno às origens,
já que lhes asseguro: sinto-me na Galicia
como se estivesse na pátria da pátria de minhas pátrias.
E agora, como a Phoenix mítica, eu ressurgia das cinzas.
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"11 Ais lusitanos" (2003/05)
PoetryPoesia relatando as incertezas de um jovem trabalhador brasileiro em Portugal, seus romances, seus questionamentos, seus desafios, suas alegrias. Visualmente não sei se agradará a leitura, pois não estou conseguindo postar na maneira original, em Ô...