Mãe aos 19

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Minha irmã Esperança não passava de uma lembrança, minha mãe se cansou de ser madrasta e a despejou na casa de sua Tia Cláudia quando eu tinha em torno de 5 anos.

Bella e Emma já  trabalhavam,ambas começaram aos 15 anos, minha mãe não aceitava "vagabunda" dentro de casa.
Era regra dar o pagamento inteiro nas mãos da mamãe.

Emma sempre foi minha melhor amiga, éramos inseparáveis, ela era meu Porto Seguro, dividíamos o mesmo quarto e a mesma cama,dormíamos apertadinhas em uma cama de solteiro.
Ela sempre  esteve presente em todas as fases da minha vida,  não perdia uma apresentações do ballet, ela também me ensinou a colocar absorvente quando menstruei pela primeira vez, me presenteava quando achava que eu merecia, me defendia nas brigas da escola,sem contar  que era ela a responsável pela limpeza da casa.

Emma também era responsável por cozinhar, e se por ventura errasse o ponto, o castigo era comer a panela inteira de arroz queimado sem poder reclamar ou vomitar.
Ela também não podia sair da cozinha até que terminasse.
Muitas vezes eu ia escondidamente na cozinha ajudá-la a comer o arroz queimado.

Emma sempre foi a mais judiada entre todas e alguns distúrbios foram desenvolvidos. Ela mentia compulsivamente,começou a roubar pertences de outras pessoas e também comprava muitas coisas e nunca pagava.
Ela também tinha dificuldade em se concentrar.
O que fez a demanda de espancamentos aumentar,
eram centenas de "roxos" espalhadas pelo corpo, fora todos os xingamentos e palavras de maldição.
Bella também tinha seus distúrbios, ela era agressiva, batia portas, dava murro em paredes, gritava e sumia por dias.
Ninguém estava bem.
Eu me sentia desprezada, humilhada, triste, rejeitada, feia e sozinha.
Me sentia incapaz de ser amada pela minha própria mãe.
Sentia ódio e rejeição.
Emma e Eu éramos cúmplices, íamos para balada escondido, pulávamos a janela e o portão de casa, andávamos sozinhas pelas ruas de madrugada, dançávamos, beijávamos vários garotos e  em todas as conversas compartilhávamos o mesmo sentimento de raiva pela nossa mãe.

Fizemos isso por diversas vezes e não tínhamos medo de ser descobertas, éramos espancadas constantemente e nosso pensamento era que já que iríamos apanhar de qualquer maneira, porque não fazer a surra valer a pena?
Nossa melhor amiga Bianca estava sempre envolvida em nossos passeios.
Bianca era uma amiga maravilhosa, confidente e muito parceira.

Em todas as festas que íamos, nos sentíamos livres e desempedidas ,também  éramos totalmente responsáveis, não bebíamos, não usávamos drogas, não transávamos e não pegávamos carona com desconhecidos.
A rotina era a mesma, os gritos, espancamentos e humilhações eram presentes no dia a dia.
Emma e Bella conseguiram entrar em uma faculdade pública super conceituada, tudo estava caminhando bem até que tudo mudou quando recebemos a notícia de que meu pai havia sido preso. Ele se envolveu em transporte de cargas ilegais .

Emma era obrigada a ir visita ló com minha mãe toda a semana no presídio.
Quando eu tinha entre 15 e 16 anos ele saiu da cadeia e ambos se divorciaram meses depois.

Não diferente de Bella e Emma, também comecei a trabalhar na adolescência, sai do ballet para ser babá e cuidar dos sobrinhos da patroa da minha mãe. O dinheiro recebido também era todo entregue a ela.

Emma a essa altura já havia perdido a virgindade, estava namorando escondido e já era uma mulher feita com 19 anos.
Ela tinha arquitetado um plano  e resolveu me contar.
Sentamos na cama e ela retirou um papel de sua bolsa.
- " Luna, eu estou grávida"
Respondi gaguejando:
- Como é que é ?
- "Preciso que você guarde segredo, mais  esta é a única solução que encontrei para deixar  de apanhar, deixar de ser humilhada, e deixar de entregar todo meu salário a ela."
- Emma você é louca, ela vai te matar!
- "Luna, quando ela descobrir que estou grávida, não há dúvidas de que ela vá me expulsar de casa, então eu vou morar com o pai da criança e finalmente paro de apanhar."
A conversa terminou ali.

Chegou o dia mais temido por mim, o dia em que mamãe Fernanda e Bella descobriram a gravidez.
Ambas instantaneamente começaram a agredir Emma, Bella dava chutes e pontapés, eu entrei no meio e a empurrei para que ela se afastasse. Ela era maior e mais forte que eu, isso de nada me impediu.
Minha mãe surtou! E perguntava a Deus aonde foi que ela tinha errado.
Emma nunca foi tão humilhada em toda vida, minha mãe e Bella diziam palavras como:
" Come aqui um pão ou um prato de comida para que essa criança não nasça desnutrida, sua vagabunda!"

Com a barriga ainda pequena minha mãe a despejou na casa do pai da criança.
Neste momento eu acabava de perder minha melhor amiga, as minhas noites nunca mais foram as mesmas ali naquele quarto, triste e sozinha.

Never be AloneOnde histórias criam vida. Descubra agora