Headhunter

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Bulma sentou-se, finalmente, e olhou as horas. Era o fim do seu exaustivo plantão de 12 horas no hospital universitário de West City, e ela suspirou de cansaço. A rotina como enfermeira de pronto-socorro não era como a de uma enfermeira clínica, e ela sabia disso mais que ninguém. Passava o plantão inteiro correndo, atendendo chamados de médicos e preparando prescrições com toda atenção.

Não era como atender a uma rotina de pacientes internados: eram médicos gritando e sendo ríspidos, pacientes desconfiados e irritados, e, no verão, era bem pior: tanta gente de férias e querendo viver ao ar livre sempre gerava acidentes com uma enorme quantidade de casos complicados, de crianças que caíam nos parques a vítimas de quedas com traumas diversos, de afogamentos até garotas idiotas que se queimavam seriamente enquanto tomavam sol no quintal tentando acelerar o bronzeamento com alguma fórmula caseira estúpida.

Então, às sete da noite, com o sol ainda brilhando lá fora, ela estava pronta para tomar um gole de café ou uma água, tomar uma chuveirada, trocar de roupa e encontrar seu namorado para saírem quando a outra enfermeira do turno, uma loura bonita chamada Lunch, a chamou dizendo:

- Precisamos de você aqui.

- Mas meu turno acabou agora! – ela gemeu – não é possível que...

- O meu também acabou, vem, vem rápido.

Lunch puxou-a pelo corredor levando à enorme galeria do pronto socorro, um lugar cheio de baias onde havia leitos de espera para quem ia ser examinado ou entrar em pré-internação. Cada leito era circundado por uma cortina, e ela viu que havia um ajuntamento de mulheres, médicas, enfermeiras e auxiliares, junto à ultima baia. A sorte era que o pronto-socorro não estava tão cheio – ela pensou.

Elas chegaram diante da baia e Luch abriu o caminho, dizendo:

- Meninas, eu trouxe a Bulma para ver se ela consegue...

Aquela não era uma baia de leito, mas ali havia uma cadeira médica, onde pacientes com menos gravidade e pequenos cortes nas partes superiores do corpo recebiam suturas ou injeções. Sentado na cadeira estava um rapaz bonito, alto e musculoso, que tinha um cabelo arrepiado. Ela reparou que, sem a mínima necessidade, ele estava sem camisa e conversava com duas ou três das garotas que o cercavam.

- Mas eu tenho medo – ele disse, e seu rosto adquiriu uma expressão infantil que contrastava totalmente com o seu tórax atlético definido. Ele tinha uma das mãos enfaixadas, e a segurava junto ao corpo numa postura defensiva.

- Benzinho, é o protocolo... – disse Suno, uma enfermeira bonita e ruiva, que tinha uma seringa preparada na mão e esfregava incessantemente o braço direito dele com um algodão, enquanto ele parecia prestes a levantar e sair correndo.

"Benzinho?" – pensou Bulma, olhando para a garota, que parecia hipnotizada pelo rosto bonito do rapaz, que ela imaginou estar se aproveitando da situação porque não era possível que aquele homem enorme e forte estivesse com medo de tomar uma ridícula injeção.

- Posso saber o que está acontecendo aqui? – ela perguntou, olhando para as demais auxiliares, que engoliram em seco. Bulma era conhecida pelo seu profissionalismo e seriedade, embora fora do hospital fosse uma garota alegre e brincalhona.

- Ele tem medo de injeção – esclareceu Vikal, a outra auxiliar que cercava o rapaz. Lunch, atrás de Bulma, deu uma risadinha. Bulma encarou o rapaz, que a olhava, mudo.

- Você não tem vergonha não? Um homem desse tamanho fingindo ter medo de injeção para receber atenção de garotas?

- O quê? – ele perguntou – seu cabelo é azul. – completou, de forma totalmente aleatória. Bulma revirou os olhos.

As Paredes do AquárioOnde histórias criam vida. Descubra agora