A mera obrigação profissional

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Aos poucos, Vegeta foi parando de tremer, sua respiração foi normalizando e o abraço dele se afrouxou. Antes de sair da posição do abraço, Bulma perguntou:

- Você se sente melhor?

- Sim... – ele disse, e ela o ajeitou, sentando-o no chão. Ele ficou olhando para baixo, envergonhado e ela disse:

- Não tem porque se sentir assim, Vegeta. Eu sabia da sua condição antes de trabalhar e estava pronta para lidar com ela. Vamos, eu vou te ajudar.

Ela o ajudou a sentar na cadeira de rodas e a tirar o paletó, a camisa e a gravata. Ia passar a camiseta que ele havia deixado sobre uma cadeira quando ele disse:

- Se importa em adiantar a massagem da tarde? Eu... preciso relaxar. Não quero mais trabalhar hoje.

- Claro – ela disse, solícita. – precisa de ajuda?

- Queria... – ele pareceu inseguro e ela o encarou, incentivando-o a falar – queria que você descesse comigo e me ajudasse a me preparar. Eu...

- Eu entendo. Não quer ficar sozinho depois do ataque de pânico, não é?

Ele apenas assentiu com a cabeça.

Antes de descer para o spa, Bulma juntou as peças de roupa dele, incluindo a camisa, e as deixou sobre uma cadeira. Mais tarde um criado limparia a sala de trabalho e levaria a roupa para a lavanderia. Enquanto descia atrás de Vegeta, que ia conduzindo a cadeira pela rampa sério, ainda sem camisa, Bulma pensou como aquele apartamento contribuía para a condição de Vegeta, indiretamente.

Na sua casa, se ela deixasse uma roupa no chão, uma louça na pia... bem, era trabalho acumulado. No entanto, ali, havia criados que pareciam invisíveis de tão discretos, que entravam nos cômodos quando estavam vazios e garantiam que tudo estaria sempre em perfeita ordem, que tudo estaria no lugar, limpo, asseado, perfeito.

Era uma vida inumana demais para o gosto de Bulma.

Ela viu Vegeta tirar a roupa e, pela primeira vez, ele não se importou em se cobrir com a toalha quando passou para a maca. Ela o ajudou a deitar-se de bruços e pegou a loção, que começou a passar nele com cuidado. Pela manhã, usava-se óleo, à tarde, loção. Tudo para evitar que a pele dele se ferisse ou a circulação se deteriorasse, mas, pela primeira vez, Bulma pensou se isso não era, de certa forma, uma desculpa para que ele tivesse algum contato com mãos humanas, e, quando terminou a massagem nas pernas e nádegas, ela perguntou, suavemente:

- Você teve um momento ruim... quer que eu massageie as suas costas, Vegeta?

Ele estava, como sempre, de olhos abertos e olhando para frente, então, virou o rosto na direção dela e a encarou, em silêncio antes de dizer:

- Por favor... seria realmente uma ajuda.

Bulma espalhou a loção nas costas dele e ele voltou para a posição anterior. As mãos dela percorreram seus ombros largos, e então, pela primeira vez, ela realmente reparou em como os músculos dos braços e costas eram definidos, trabalhados pelas sessões intensas de musculação que ele fazia logo após a fisioterapia que visava tentar melhorar a condição dele.

Vegeta tinha o corpo paraplégico mais bem cuidado que ela conhecera na vida, tinha que admitir, enquanto suas mãos se espalmavam sobre os músculos trapezoides dele, empurrando-os num misto de força e suavidade enquanto sentia a tensão dele diminuir. De repente, Vegeta virou a cabeça de lado, pousando-a no ombro direito e fechou os olhos, deixando escapar um suspiro aliviado. Ela prosseguiu com a massagem.

De repente, sua mente escapou para algum lugar onde ela desejou conhecer o homem que ele havia sido antes daquilo tudo. Ela tentou reprimir aquele pensamento, dizendo a si mesmo que ele era um paciente. Mas era inevitável pensar em como ele havia desmoronado, ao ponto de se fechar num apartamento lacrado, ela agora tinha certeza, para que num momento de desespero não se arrastasse até uma varanda e se jogasse do alto da torre, para esfacelar o que restava do seu corpo e torná-lo assim tão quebrado quanto o seu espírito.

As Paredes do AquárioOnde histórias criam vida. Descubra agora