Um deserto entre quatro paredes

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Nota: O caso médico descrito sem muitas tecnicidades foi o mesmo que levou um amigo meu à paraplegia aos 19 anos. 

Bulma voltou para casa, sentindo-se mentalmente exausta. Goku a havia levado para conversar com o Doutor Kamisama, um médico idoso, que ela sabia ser referência no ramo de neurologia clínica e cirúrgica. O homem estava em seu consultório excepcionalmente naquela manhã de sábado justamente para explicar a ela o que havia provocado o quadro de paraplegia em Vegeta, e quais os cuidados que ele necessitava.

- O jovem Vegeta tinha 25 anos quando deu entrada no hospital central com um quadro de dor aguda lombar e paraplegia característica de lesão grave da coluna vertebral, sem conseguir mexer as pernas, mas aparentemente com a sensibilidade do quadril preservada. Depois de muitos exames, foi descoberto um hematoma decorrente de um aneurisma da artéria aorta que havia seccionado lesionando parcialmente a medula na vértebra T-12, provocando uma lesão parcial, porém irreversível, que o levou ao quadro atual.

- Então, não foi um acidente ou uma infecção ou doença autoimune? Aneurismas seccionados são raros...

- Sim, um tremendo azar, e normalmente não são diagnosticados em jovens e nem tem esse tipo de evolução tão cedo. – Lamentou o médico – Ele chegou aqui já com o aneurisma seccionado... conseguimos preservar uma parte da função motora porque a compressão da medula não foi total, mas o máximo que pudemos fazer foi tratar a dor decorrente do quadro agudo e prepará-lo para se adaptar às sequelas irreversíveis da lesão. Mas, por incrível que possa parecer, ele deu sorte: a secção parcial da medula permitiu preservar parte de suas funções motoras e a totalidade das fisiológicas, mas infelizmente, do quadril para baixo, ele perdeu a sensibilidade.

- E como ele reagiu? – ela perguntou, porque sempre se interessava pelos pacientes como pessoas. – Ela imaginou o jovem de 25 anos, dono de uma enorme fortuna, com o mundo aos seus pés, descobrindo que estaria preso a uma cadeira de rodas pelo resto da vida.

- A princípio, como muitos pacientes, ele não acreditou que era irreversível. Veja bem, ele estava no vestiário de um clube quando veio a dor aguda, depois de uma partida de squash. Chegou ao hospital andando, mas, subitamente, sentiu as pernas fraquejando e não conseguiu mais se sustentar sobre elas. Achou que era algo temporário, uma infecção...

- E então?

- Bem... ficou um tempo internado e tudo parecia bem, mas quando precisou ir para casa, ele se isolou, e se não fosse aquele jovem que a trouxe aqui...

- O Goku?

- Sim, o Goku. Ele ajudou Vegeta a superar. Eles se conheciam desde criança, Goku estava com ele quando tudo aconteceu.

- Sim, eu entendo, agora..., mas por que ele precisa de mim, então? Ele parece adaptado, faz fisioterapia, para manter-se bem, não tem sequelas respiratórias...

O médico olhou para ela. Tirou os óculos e esfregou os olhos, como se precisasse explicar algo muito complexo.

- Bem... você esteve no loft dele, não esteve?

- Sim, eu estive.

- Você sabe que ele é construído exatamente sobre onde havia a mansão da família dele?

- Não...

- A paralisia não é a primeira tragédia na vida dele. Quando ele tinha pouco mais de 17 anos, seus pais sofreram um acidente num avião que levava Vegeta, o pai, mais seus principais executivos e suas esposas para um resort nas montanhas. Depois se soube que não havia sido um acidente.

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