Nadando no aquário com o grande tubarão

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Depois de três dias de aflitivo treinamento, a senhora Uranai deu-se por satisfeita e disse a Bulma que ela poderia começar sozinha na semana seguinte, pois já era sexta feira. Aquele era o único fim de semana do mês que Yamcha não teria plantão no sábado ou no domingo e eles passaram o fim de semana juntos num balneário, a uma hora da cidade. Chegaram bem cedo ao pequeno chalé que ele havia alugado e foram logo para a praia.

Estava um dia lindo, gloriosamente ensolarado. O verão já estava terminando, mas a temperatura estava agradável. Bulma sentou-se na espreguiçadeira que o hotel-chalé fornecia e ficou olhando para o mar. Yamcha perguntou:

- Pensando no novo emprego?

- O quê? – ela disse – não. Estou apenas relaxando. Estou aliviada porque finalmente vou começar a fazer alguma coisa, amor. Aquela velha me tratava igual a um autômato, tinha que ver.

- Talvez seja essa a disciplina que o paciente exige – disse Yamcha – tem gente que não gosta de gente, você sabe...

Bulma suspirou. Yamcha era um médico do tipo frio, que não se envolvia muito com seus pacientes. Ele mesmo era gente que não gostava de gente. Escolhera uma especialidade que o fazia correr de emergências mais sérias, e por isso mesmo, quando tinha os fins de semana realmente livres, preferia escapar de West City, como eles estavam fazendo naquele momento.

Foi um fim de semana exatamente como muitos que eles passavam, exceto pelo fato de que Bulma estava realmente um pouco nervosa. Yamcha percebeu isso na tarde de domingo, quando eles almoçavam e ela olhava para o lado de fora do restaurante, para o mar que se estendia azulado até encontrar com o céu no horizonte. Ele perguntou:

- O que foi?

- Nada – ela disse, mas prosseguiu – eu estou aqui olhando essa varanda e pensando no apartamento do paciente, sabe?

- Não, não sei – ele disse, ligeiramente mal-humorado – e não sei também se gosto de você com um paciente só, milionário. Parece muito "cinquenta tons de cinza" para o meu gosto.

Bulma riu e disse:

- Engraçado, porque a impressão que eu tive é que tudo dele é preto ou branco, tirando a calça de moletom que ele usa, sempre cinza – ela contou então a história das duas torres que ele havia projetado e completou– na sexta feira eu escapei um tiquinho da velha e fui olhar a piscina e o terraço... e eu levei um susto. É tudo fechado, lacrado, coberto... mesmo que as telhas sejam transparentes. Aí percebi que todo apartamento é lacrado como um aquário, Yanny, nenhuma janela abre.

- Isso parece meio insalubre... – ele disse, dando uma garfada na comida – o ar não deve se renovar...

- Tudo é controlado! Eu perguntei isso e a velha me disse, tudo, o ar que entra, a temperatura, o ar que sai, tem filtros de ar, controle de umidade... não importa se está frio ou calor do lado de fora, dentro estaremos sempre à agradável temperatura de 26ºC, como se aquele fosse um imenso aquário de um peixe só... em volta da piscina, há pedras brancas, lindas, uma cascatinha... é um ambiente luxuoso e absolutamente sem nenhuma planta ou bicho...

- Meu apartamento também não tem plantas nem bichos – ele ponderou – médicos não tem tempo para colocar ração ou molhar samambaias...

- Você não entende... o sujeito tem uma obsessão por controle! Plantas e bichos não são muito controláveis, pelo jeito.

Ele segurou o queixo dela com uma das mãos e disse, sorrindo:

- E você também não, minha flor. Pelo visto, não vai durar muito nesse emprego se esse ricaço quiser te controlar...

As Paredes do AquárioOnde histórias criam vida. Descubra agora