[07] Choque de realidade.

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— Yoon! — Seokjin sacudiu loucamente as mãos no ar quando entrei no refeitório.

Ele já estava sentado, com duas garotas que ainda não conhecia e Yui e Hirai, da minha turma de física. Peguei o lanche disponível no buffet gratuito e comprei um suco de uva, então fui calmamente até eles.

Com uma breve olhada em volta, notei que Kento e os outros não estavam por lá. Não que eu realmente fosse me sentar com eles.

— A Yui e a Momo já me contaram que te conheceram, e essas são Tsuchiya Tao e Ishihara Satomi.

— O professor de física simpatizou muito com o Yoongi. — Yui comentou. — Tinham que ver, até arriscou fazer uma pergunta pra ele em inglês.

— Isso porque vocês não viram o professor Takuya! — Seokjin riu, mordendo o seu sanduíche. — Qualquer coisa que ele fosse falar encerrava com “certo, Yoongi?”, e ainda, quando alguém errava algo, ele pedia pro Yoongi corrigir.

— Namjoon vai ficar muito irritado. — Yui riu, me encarando. — Ele já não é mais o queridinho do Takuya.

Sorri amarelo. Antes mesmo de conhecê-lo, eu já não tinha simpatizado muito com Kim Namjoon. Não sei explicar. Então, ele gostar ou não de mim não faz tanta diferença.

— Hm — Satomi engoliu o alimento antes de falar o que quer que fosse —, fiquei sabendo pela Louise que chegaram alguns bolsistas novos esse ano. Como sempre, a diretora Komatsu não liberou os nomes.

— Pobres almas. — Hirai disse com pesar.

— Por que “pobres almas”? — perguntei.

— Ah, é, você é novato e é óbvio que Komatsu não contaria sobre isso. — Tao disse. — A Kiyotaka High School pode ser um paraíso pra muitos, mas pode ser o inferno de outros.

— E não é exagero. — Seokjin acrescentou.

— Pode parecer coisa de anime — Hirai contou, se esticando um pouco sobre a mesa para garantir que ninguém mais ouviria —, mas os estudantes com pouco dinheiro não são vistos como pessoas por aqui.

— O quê? — perguntei em um sussurro.

— Ali. — Yui apontou com a cabeça para algo atrás de mim.

Quando vi a cena, senti uma mistura de sentimentos, se destacando o medo de que me acontecesse o mesmo. Uma menina usava outra como descanso para pés, e ninguém fazia nada para interferir na situação.

— Por que ela não reage?

— Porque não adiantaria de nada. — Seokjin explicou-me. — A diretora Asui até poderia expulsar a garota que está lhe usando como objeto, mas outra pessoa virá e fará o mesmo, e a diretora não pode expulsar todo mundo. Além disso, reagir poderia prejudicá-la lá fora, considerando que a maioria aqui tem famílias muito influentes.

— O único jeito de fazer parar é sair da escola. — Yui disse, continuando a comer.

— A humilhação é tão grande a ponto de chamarem eles de “pet's”, é horrível. — Tao encerrou o assunto.

Entrei em um ataque de pânico interno, embora por fora eu conseguisse disfarçar fingindo que só estava triste pelas pobres almas azaradas — o que, de fato, era verdade, mas não era a minha maior preocupação.

— Namjoon! — Satomi ergueu a mão para chamar a atenção do garoto, que fez o mesmo percurso que eu.

Notei o olhar descaradamente torto — e rápido — que ele me enviou. Logo, porém, sorriu, sentando entre mim e Seokjin e beijando a boca do citado. Felizmente, Momo fez uma expressão de quem ia vomitar pra mim e pude concordar com ela, que riu.

— Finalmente alguém que me entende nessa mesa! — ela exclamou.

— Outro anti-romance, é? — Satomi perguntou em um tom falsamente irritado.

Namjoon não chegava a ser mais alto que o meu pai, eu acho, mas me senti pequeno quando ele me olhou de cima, mesmo que estivéssemos sentados. Não era uma sensação ruim, considerando que me senti muito fofo por ser tão pequenininho em comparação ao outro; era uma cena bonitinha — diminutivos demais, eu sei.

— Não era você quem estava com o Park e os outros hoje mais cedo? — ele perguntou. A voz dele era grossa, quase intimidadora.

— Era sim. — Respondi, abusando de minha habilidade de fingir estar bem.

— O que um cara legal como você fazia com eles? — Tao me perguntou, curiosa.

— Kento mora perto de mim, pegamos o mesmo ônibus e ele puxou assunto. — Contei, dando de ombros. — Depois, ele me apresentou aos outros. — Resolvi omitir o fato de que eu meio que havia fugido deles.

— Eles são terríveis, vai por mim. — Satomi falou com a boca cheia. Tentei me lembrar de que isso não era falta de educação por aqui.

— Engula antes de falar. — Momo a xingou de qualquer maneira.

Foi um bom primeiro intervalo, apesar de Namjoon sequer ter se interessado em perguntar o meu nome. Eu também não me interessei em fingir que não sabia qual era o nome dele — Seokjin tinha o mencionado na aula de literatura inglesa, então achei que não tinha nenhum problema nisso.

[° ° °]

Ao final da aula, eu percebi que não havia visto Jimin, Kento ou qualquer outro do grupo deles, a não ser quando os vi no lado de fora da escola, conversando. Não era algo ruim, mas agora eu não sabia se Jimin ainda iria me dar a carona — se é que ele realmente pensou nisso em algum momento.

Sentei nos degraus da escada da entrada, apoiando meus cotovelos nos joelhos e observando as pessoas indo embora. Jimin não estava entre eles.

— Até mais, Yoon! — Seokjin passou por mim nas escadarias, acenando freneticamente, mas então, do nada, parou. — Ei, como você vai fazer pra ir pra casa?

Suspirei, olhando ao redor. Nada de Jimin.

— Eu… — Comecei, pronto pra dizer que ia de ônibus de novo, mas senti uma presença atrás de mim.

— Ele vai comigo. — Era a voz do Park.

Nem tive tempo de assimilar tudo. Jimin simplesmente pegou minha mochila e no instante seguinte me estendeu a mão livre, na intenção de me ajudar a levantar.

Tímido pelo fato de Seokjin estar nos encarando fixamente, segurei a mão do acinzentado, que me puxou como se eu fosse uma pena. Só então notei Kento atrás dele.

— Tá, nós nos vemos amanhã. — Seok forçou um sorriso, mas foi visivelmente diferente dos outros, parecia estar desapontado.

— Até amanhã! — me despedi dele, que correu para o estacionamento logo em frente, para os membros de times e do grêmio estudantil.

Namjoon estava escorado na lateral de um carro cinza; definitivamente, pela expressão dele, ele não gostava de mim.

— O meu é mais bonito. — Jimin se gabou, andando tranquilamente na direção do estacionamento para os demais alunos, ainda carregando a minha mochila.

Olhei para trás e vi Seokjin com ambas as mãos no peito do mais alto, que segurava praticamente em sua bunda. Trocavam beijos, aproveitando o vazio do local.

Fiz uma careta e cruzei os braços.

— Kento, senta atrás. — Park bradou, usando um pequeno aparelho para destrancar as portas do carro a distância.

Eu não podia demonstrar, mas estava com o queixo no chão. Era uma Ferrari. Preto. Com rodas personalizadas de interior roxo. Parecia um carro do filme “Velozes e Furiosos”, um que Brian com certeza usaria.

— Uma beleza, não? — Jimin perguntou com um sorriso bobo nos lábios.

— É. — Dei de ombros e ele riu.

— Que falta de humildade, loirinho. — Abriu a porta do banco do passageiro pra mim. Kento já estava no carro.

Quando entrei naquele carro, estava entrando também em uma armadilha, e me soltar dela seria uma tarefa praticamente impossível. Não que eu fosse tentar.

devil's garden | yoonminOnde histórias criam vida. Descubra agora