Cinco

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Pili faz uma careta. Sorrio.

—  A que te espancou a vida toda? Que tentou te vender? Não quero saber nada sobre ela.

— Sobre ela só tenho a dizer que jamais serei castigada ou humilhada novamente.

Sua expressão é de pura surpresa.

— Fez alguma coisa a respeito, depois do que ela fez sobre o casamento?

Respiro fundo e concordo com um gesto.

— Mas não é dela que quero falar... Durante a discussão que tive com ela naquele dia, Bouvae confessou que envenenou minha verdadeira mãe. Ela disse que sou filha de uma fada. Talvez seja outra espécie, meu pai disse que ela não tinha asas.

Ele dá um salto da poltrona onde está e vem parar ao meu lado. Sorrio com seu entusiasmo, sabia que ele se empolgaria com minha história.

— Você é filha de uma fada? Filha de uma criatura da floresta da Montanha?

— Meu pai confirmou. Disse até que minha mãe voava.

— O que quer dizer que nem todo mundo que sobe a Montanha fica cego ou louco. As lendas não são todas verdadeiras.

Ele tem razão, mas pode haver perigo, podem não nos aceitar. Podem não me aceitar já que sou mestiça, como papai disse.

— É por isso que quero pedir sua companhia. Se sou mesmo filha de uma deles, verei alguma coisa quando subir a Montanha.

Pili abre o maior dos sorrisos. Era tudo o que ele queria.

— Quando quer ir?

— Vamos sair no fim da tarde e acampar perto da encosta. Podemos ver se dá para subir durante a noite. A subida não parece tão difícil.

— Ah, perfeito. Vou preparar tudo... Mas você perdeu o medo de ser rejeitada?

Dou de ombros. Pili está ignorando o fato, mas bem sei que Bouvae Olitha me rejeitou a vida toda, então não faz diferença agora.

— Sim, perdi todo o medo, Pili.

Subir a Montanha não é a parte mais difícil

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Subir a Montanha não é a parte mais difícil. Até que a encosta é fácil de subir, não é tão íngreme. Possui um gramado agradável aos olhos em muitos pontos e quase não é necessário escalar, há um caminho visível e confortável. O problema é que o cume parece não chegar. Já fizemos três paradas, estamos indo para a quarta e a Montanha não acaba.

— Preciso parar Pili.

Sento em uma pedra e olho para o meu vilarejo. O Xiador, onde no outono, os ventos são barulhentos.

— Acho que devíamos ter esperado amanhecer.

Ele senta ao meu lado e respira fundo. Estou feliz só em subir a Montanha no meio da noite. Ele então, está radiante.

Véu Negro (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora