Onze

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Ziul dormiu boa parte da noite e quando acordou eu ainda não havia descansado. Simplesmente não consegui dormir.

— Coma, Ziul. Deixei um pouco para você.

Ele se senta na cama e olha para o chão, como se não pudesse me olhar nos olhos.

— Obrigado pelo que fez por mim, senhora. Tenho uma dívida de vida, mas não posso comer da mesma comida que meus senhores, então peço que me deixe retornar aos meus afazeres.

Reviro os olhos e levanto da poltrona, indo até ele. Sua voz é como de criança, agora que posso ouvi-lo melhor.

— Não me deve nada. E vai comer por que perdeu muito sangue. De quem você é servo?

Faço com que se sente na cama e o sirvo da comida que deixei separada para ele. Ziul está visivelmente faminto e não protesta mais quando coloco uma fatia de fruta em sua mão. Começa a comer como se há muito não o fizesse.

— Então... De quem você é servo?

— De Ragok. Era... - ele diz de boca cheia. - A Rainha me baniu.

Estranho. Ele veio me servir comida.

— Então por que veio ao meu quarto?

— Ragok ficou com a serva que foi designada a você e me mandou servir sua comida antes de seguir para o exílio.

Coitado. Ia morrer de qualquer forma, obedecendo ou não.

— Não tenho mais serva, então. Você podia me ajudar. Não com esse tipo de serviço, claro. Mas me explicando como as coisas dos sublimes funcionam.

Ziul ainda não me olha nos olhos. Tento imaginar o que sofreu nas mãos de Ragok.

— Não posso. Sou um exilado. Se ficar, vou morrer.

Exilado. Para onde será que vão quando são exilados?

— Então vou com você. Não tenho o que fazer aqui.

Finalmente ele me olha, mas o que vejo é o mais puro terror.

— Ela te caçaria. Nós dois morreríamos. Não posso tirá-la daqui.

Respiro fundo, pensando em uma forma de ajudá-lo. Talvez pedir a Nigde. Usar as palavras certas, como Chirevo disse. Por que Ragok o mandou até mim? O garoto estava morrendo, porque Ragok o mandaria até aqui para me servir comida?

— Você sabe usar magia? Podia me ensinar! Chirevo disse como fazer e eu consegui te ajudar.

— Então vai morrer por ter feito. - ele começa a chorar. - Ela vai te matar por ter me ajudado. Preciso ir.

Nesse momento a porta da minha câmara é aberta e a própria Rainha é quem entra. Ziul se joga no chão, como fez comigo quando chegou. Nigde está me olhando e não gosto nada de receber seu olhar. Vejo o ódio de minha madrasta em seus olhos. O que me faz lembrar de Daikin e de quanto quero vê-lo.

— Este servo foi banido. O que ele faz em seus aposentos?

— Eu o ajudei, não sabia que não podia. Ele estava desfalecido.

Nigde entra na câmara e observa todos os detalhes.

— Ele deve partir. - ela decreta.

— Me afeiçoei a ele, senhora. Peço que deixe que fique comigo.

Ela volta a me olhar, como se decidisse.

— Ou posso ir com ele, já que não pertenço a este lugar.

Outro momento de seu olhar perscrutador.

— Pode ficar com o garoto, desde que eu não o veja pelo castelo.

Véu Negro (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora