Trinta e Quatro

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Nidge está admirada com a restauração que estou dando a Floresta. A cada nova árvore reerguida, a cada novo brilho emitido, ela dá pulinhos e bate palmas, se agarra as árvores e se lambusa da substância gosmenta e brilhante que as envolve.

O que me faz questionar as intenções de quem teve a coragem de punir alguém inocente, ingênua e tão cheia de vida.

Ela parece perdida, mas não se importa. Nigde está feliz por poder ver a Floresta.

Será que era isso que ela queria todo esse tempo? Voltar a inocência e viver sem preocupações e rancores?

Ela parece feliz.

Eu deveria sentir o mesmo?

Sinto a presença de Daikin sobressair como uma aura amarelada ao redor de uma protuberância de lama.

Ragok e papai estão com ele e posso finalmente respirar direito. Eles estão vivos.

Subo na protuberância de lama instável. Talvez Ragok tenha feito essa coisa para protegê-los da chuva que causei, mas tenho que admitir que para os padrões de Ragok, isso está horrível. Meus pés afunda na lama parcialmente seca. Impondo as mãos, abro um buraco na lama suspensa.

Daikin é o primeiro a me ver, mas quando desço até eles, Ragok corre para mim e me pega de surpesa com um beijo.

É diferente, mas não muito.

Quando nos conhecemos, ele parecia querer sugar minha alma e foi doloroso. Achei que não sobreviveria aquele beijo.

Seus lábios estão quentes e salgados. Não sinto dor, mas ele ainda me beija como se quisesse sugar minha alma. Rápido, forte e intenso.

Da primeira vez não retribuí. Agora estou tão faminta quanto ele. Achei que o tinha perdido.

Ainda acho que posso perdê-lo a qualquer momento.

Interrompo o beijo com o peito dolorido e sem ar. Ele enconsta a testa na minha e sorri daquele jeito perigoso. Esse sorriso povoa meus pensamentos. Tem o mais forte efeito sobre mim. E agora sei que não quero mais disfarçar o que sinto.

Percebo que ele está com as roupas úmidas e cheias de lama.

Sem me afastar, olho para Daikin, que parece cansado apesar de sorridente. Ele pisca para mim. Meu irmãozinho sapeca.

Viemi está ao lado dele. Igualmente sujo e cansado, mas de alguma forma parece feliz.

- Estão bem? - pergunto.

- Graças a Daikin! - Ragok sussurra.

É difícil me afastar dele. Mas existem coisas que precisam ser ditas.

- O que Daikin aprontou?

Meu pequenino pula em meu colo, com o maior dos sorrisos no rosto.

- Olha o que eu sei fazer! - ele grita e ergue a mão direita, num movimento muito parecido com o que faço para manipular Anśa.

Mas é exatamente isso. O movimento de mão dele desfez a cúpula mal feita de barro que os abrigava.

Dois Anśas. Duas linhas distintas de Anśa.

Meu irmão possui Anśa natural. Terra e Água. Por isso aquela proteção estava mal feita. Daikin acabou de despertar o Anśa que possui. Como sua mãe e como eu, ele possui ascendência sublime.

Eu queria ter visto.

Abraço forte meu pequeno rapazinho. Papai nos abraça também. Estão precisando de banho.

Véu Negro (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora