Vinte e Cinco

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— Não vai me dizer o que há na caixa? — Ragok pergunta assim que entramos em casa.

Ele sabe. Deduziu por causa das perguntas que fiz a Heir e por causa das coisas que disse a ele. Não é um tolo e já viveu mais tempo do que qualquer um que conheço. Puxo a corrente que escondi sob a camisa. Ragok parece reconhecer a joia. Sua expressão o entrega.

— Sabe alguma coisa sobre isso? — pergunto.

Ele chacoalha a cabeça. Não sei se está tentando lembrar ou esquecer de algo.

— Parece com o cristal que pegamos de Nigde.

— O que foi feito daquele cristal?

— Foi usado para desfazer a barreira que impedia a saída dos magos do palácio. — ele explica. — Ele deveria se desfazer depois disso. Mas não sei, entreguei ele a Arva, que é a líder dos magos Depois fui te ajudar a lutar contra Nigde.

Respiro fundo. O que será que pode haver de semelhança entre estes cristais? Por que Nigde quer este que aparentemente pertence a mim? E por que tem meu nome?

Mostro a ele o detalhe na trança de prata.

— O nome da deusa. Seu nome... Eu jamais vi essa joia antes. — ele sussurra.

Recebi um nome de deusa? Será que foi uma homenagem? Ou minha mãe gravou meu nome na joia com o propósito de me presentear depois? Por que tenho cada vez mais perguntas sem resposta?

Ragok está perto demais do meu rosto, mas é a curiosidade que o move. Não tenho certeza.

— Era isso que estava na caixa. Por isso fiz todas aquelas perguntas a Heir. Achei que Dihdre iria me responder até saber que ela e minha mãe foram amigas.

Ragok olha em meus olhos. Parece confuso.

— Vamos nos lavar. Estamos cansados demais e isso não ajuda. — ele propõe.

Ragok segue para se lavar em meu quarto e eu sigo para o quarto que papai e Daikin ocupam. Os dois estão dormindo profundamente, então procuro fazer o mínimo de barulho possível.

Mas quando deito em minha cama para dormir, os pensamentos e as imagens que povoaram minha cabeça nas últimas horas me atormentam.

Pego a caixa que deixei no móvel ao lado da cama. O livro. Eu ainda não sei o que há nele.

Com cuidado, abro o livro.

As folhas amareladas estão vazias. Não há nada escrito.

Levanto e vou até Ragok. Ele está de olhos fechados, mas conforme me aproximo ele os abre e se senta.

— Isso também estava na caixa. — mostro o livro a ele. — Mas não tem nada escrito.

Entrego o livro a ele e sento ao seu lado. Ragok acaricia o couro envelhecido da capa. Parece admirado.

— São tão raros! — ele sussurra.

— Livros? São raros aqui?

— Em todo mundo sublime. Quem tem jamais assume. Foram destruídos há muito tempo. É o que ouvi falar... Nigde possuía alguns, mas jamais me deixou lê-los.

— E como vocês aprendem sobre a história e os feitiços? — questiono.

Ragok conjura uma esfera de luz e abre o livro na primeira página.

— Os mais velhos ensinam as crianças. Só sabemos o que eles nos ensinam. Temos boa memória, isso ajuda. Mas normalmente não temos acesso a livros.

Será que em Kairon é igual? Como eles pretendiam me ensinar?

— Está em branco. — Ragok parece decepcionado.

Véu Negro (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora