Capítulo 1

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- Vamos Els! - Vinha aquela voz doce no fundo dos meus sonhos. - Els, meu amor... - aquela brisa suave do mar tocando meu corpo, fazendo-me sentir abraçada. - ELEANOR, ACORDE!!!!! - Gritou minha mãe com uma espécie de grunhido fazendo-me tremer de susto na cama. - Você está atrasada para a feira de ciências, levante dessa cama e vá se vestir logo.

Levantei ainda um pouco confusa, não conseguia lembrar meu nome, onde estava e nem o que deveria fazer. Foi então que me despertei e lembrei da maldita feira anual de ciências da Escola Bantry. Eram basicamente 5 dias onde todos os alunos tentavam fazer os melhores trabalhos da escola por pura competição, e eu como sempre, tentava me esconder atrás de um cartaz ou qualquer coisa do tipo. Mas esse ano era diferente, pois não só valia uma pontuação, como também era meu passaporte para a tão sonhada Universidade de Milão, na Itália.

Corri para me arrumar, escovei os dentes, penteei meus longos cabelos castanhos prendendo-os num rabo de cavalo alto, vesti o uniforme da escola nos tons azul e cinza e como num salto entrei correndo pela cozinha pegando o primeiro pedaço de pão que vi pela frente.

- Você parece um homem das cavernas! - disse Samy, minha irmã mais velha que estava comendo um cereal extremamente nojento em uma tigela. - Coma com calma ou irá engasgar.

- Já estou atrasada, Samy. Não posso correr o risco de perder a visita dos diretores da universidade. - falei tudo isso com a boca cheia de pão, acredito que ninguém tenha entendido nada, nem mesmo eu.

- Então pelo menos aceite uma carona do Sr. Elliott. - ouvi minha mãe na escada, quando me virei para olha-la, percebi que seus olhos tinham um pequeno ar de malicia. - O filho dele, Miles, também estuda na sua escola, creio que vocês já se viram por lá.

- Não mãe, nunca o vi. Nem sei quem é ele. - revirei os olhos e num súbito peguei minha mochila para sair, a abracei na porta e segui rumo a escola, que ficava a pelo menos 20 minutos caminhando. Coloquei meus fones de ouvido, abri minha playlist do Spotify e no modo aleatório senti a vibração da primeira música tocar, era DJ Got Us Fallin' In Love do Usher. Sempre amei dançar, mesmo não sendo boa nisso, mas aprendi a caminhar de acordo com o ritmo da música. E lá estava eu, caminhando do jeito mais doido pela rua, quando percebo um carro preto com vidros escuros parando ao meu lado. "Pronto, perdi o que nem tenho" pensei totalmente assustada até ver o vão no vidro do passageiro.

- Tenho quase certeza que você está atrasada. - sorriu o rapaz que falou comigo.

- Bom... - respirei fundo ainda com medo de ser sequestrada como nos filmes que costumava assistir - Digamos que sim.

- Entre! - exclamou o motorista - Te dou uma carona até sua escola. Meu filho também está indo para lá.

Foi então que olhei novamente e percebi que era o Sr. Elliott, meu vizinho. Senti um frio atravessar minha espinha quando notei que o "filho", era o tão falado Miles.

- Desculpa senhor, mas minha mãe não gosta que eu pegue carona sem sua permissão. - eu menti? Sim! Mas não queria pensar na possibilidade de chegar na escola com aquele garoto. Certamente iriam falar de nós e evito ser lembrada por qualquer coisa que aconteça, seja boa ou ruim.

- Tudo bem, entendo. Espero que não chegue muito atrasada na escola hoje. - ouvi a voz do Sr. Elliott, mas meus olhos estavam fixos em Miles. Seus olhos cor de mel fizeram meu coração disparar como nunca antes. Então o vidro subiu lentamente até perder-los de vista e o carro seguir andando.

"Vamos Eleanor, reaja!" Falei comigo mesma na esperança de esquecer o olhar de Miles. Puxei todo o ar existente em minha volta e segui para a escola com toda pressa.

Algumas ruas depois, encontrei Bryan - também atrasado - indo para a mesma direção. Me aproximei por trás, quando notei que sua cabeça estava em outro planeta.

- Onde está seu carro? - questionei sem exitar.

- Bom dia senhorita Eleanor, poderia tentar não me matar da próxima vez? - era incrível ouvir sua voz, mesmo sabendo que havia sido um deboche. - Meu carro foi para o conserto e justo hoje, acordei atrasado. - suspirou.

- Veja pelo lado bom, todos estamos atrasados hoje. - neste exato momento deixei claro que não sou boa em animar as pessoas.

- Você não tem noção do quanto isso me ajudou. - sua risada foi tão alta que deve ter acordado o quarteirão inteiro. - Pelo menos não ficarei no grupo da professora Amber. - mesmo conversando comigo, seus olhos seguiam fixos na rua.

- Não me lembre disso, por favor!! - coloquei as duas mãos na cabeça em sinal de pânico - Nunca vi uma pessoa tão chata como ela. Ainda bem que esse é nosso último ano. - suspirei um alivio.

- Sim. Precisamos aproveitar... - foi a primeira vez que notei um certo ar de tristeza em seus olhos.

- EI!!! - gritei segurando com carinho seu braço - só iremos sair da escola, mas ainda seremos amigos, sairemos para passear no parque, iremos rir dos pombos correndo atras das crianças pela rua. Nada, absolutamente NADA irá mudar. - parei de caminhar, o fazendo parar junto - Você é meu melhor amigo e é isso que importa. - dei um sorriso fofo e acolhedor, o qual foi imediatamente correspondido.

Bryan e eu crescemos juntos, nossas mães sempre foram muito próximas, e ficaram ainda mais depois que meu pai faleceu quando eu tinha apenas 5 anos. Não havia um final de semana em que nossas famílias não se reuniam para um almoço, uma festa ou simplesmente para conversar. Mas eu sabia que havia algo errado com Bryan, seu olhar, seu tom de voz, tinha algo estranho, algo que me deixava preocupada.

Seguimos para a escola em silêncio, que só era quebrado para comentar sobre o quanto eu estava com fome.

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- Senhorita McCain, está atrasada. - a voz da professora Amber era um pouco anasalada, então todas as vezes que ela falava comigo, eu tentava pensar em outra coisa, para não rir na sua frente.

- Sim senhora, mas já estou preparada para entrar nessa zona de guerra. - meu tom de deboche a irritou demasiadamente. - Em qual parte das trincheiras da Primeira Guerra irei ficar? - levei a mão para pegar minha garrafa com água na mochila.

- Não vejo a mínima graça nas suas piadinhas, mas respondendo sua pergunta... - seus olhos desviaram para uma planilha que estava o tempo todo em suas mãos - você ficará na mesa número 5, com Jéssica Parker e Lisa Wilson. - desta vez, foi ela quem usou tom de deboche.

- Poderia ter me deixado sozinha, eu iria adorar passar a semana inteira ouvindo os pais dos alunos contando o quanto estão orgulhosos pelo nosso "grande" trabalho. - tomei um gole d'água que desceu como fogo em minha garganta. - Ou simplesmente Lisa e eu, seria mais que suficiente para um bom trabalho.

- Eleanor.. - sua voz estava mais tensa do que de costume. - Você precisa entender que as pessoas precisam de uma chance para de aproximarem de você. Sem intenções, apenas para olharem a Eleanor que eu vejo.

Naquele momento fiquei extremamente confusa. Pensei que fosse ouvir um grande sermão de "como a escola nos beneficia fazendo feiras anuais" ou então "precisamos fazer novas amizades", mas o que ouvi me deixou pensativa. Nunca gostei de ter muito contato, meus únicos amigos são Bryan e Lisa e pelo que me lembre, foram os únicos que tive desde a pré escola. Sempre fui muito quieta e fechada para novas amizades, o que me atrapalhou muito durante os anos na escola. Mas isto iria terminar e eu sinceramente, não faço ideia de como começou...

Desembarque •CONCLUÍDA - REPOSTANDO•Onde histórias criam vida. Descubra agora