Eu esperava encontrar Bryan, mas nunca imaginei que seria dentro de um velório. Muito menos no velório de Dylan.
Chegamos em Illinóis no fim da tarde de sábado. Já estava escurecendo e o clima estava estranhamente carregado. Nuvens escuras cobriam o céu do pequeno vilarejo, fazendo-o ficar triste e pacato.
Ao longe vi uma singela capela, onde pude notar a movimentação de pessoas conhecidas. Todos vestiam preto em sinal de luto, porém uma camiseta em questão me chamou a atenção.
Bryan vestia sua camisa do Batman. A preferida de Dylan, que amava super heróis. Sua expressão triste me fez condoer.
Descemos do carro e fui em sua direção. Minha mãe e Samy entraram na capela em busca de Olivia e Ethan.
Parei em frente a Bryan e sem dizer uma única palavra, o abracei com toda força existente em mim. Ele desabou em meus braços chorando copiosamente. Nada do que eu falasse neste momento serviria de alívio para sua dor.
- Me desculpe, Els. - Bryan continuava abraçado ao meu corpo.
- Pelo quê?
- Apenas me desculpe, por favor.
Eu não havia entendido nada, mas aceitei seu pedido de desculpas. Talvez tenha sido pelo distanciamento, um dia eu saberia.
Ouvimos o sino da capela tocar, anunciando que a cerimônia começaria em instantes. Bryan se desvencilhou de mim, limpou seu rosto com um pequeno lenço e segurando minha mão, entrou na capela.
Haviam muitas pessoas para o velório. Em sua maioria, eram desconhecidos para mim. Alguns moradores do vilarejo, alguns parentes dos Harringtons, outros eram curiosos.
Sentamos no banco encostado no canto esquerdo do salão. Bryan encostou sua cabeça no meu ombro, enquanto eu segurava sua mão. O Sr. e a Sra. Harrington estavam ao lado do pequeno caixão branco coberto de flores coloridas e o boneco do Batman que Bryan tanto brincou.
A cerimônia durou cerca de duas horas. O enterro foi logo em seguida e assim que terminou, todos foram para suas casas.
Minha mãe, Samy, Bryan e eu fomos para a casa da família. Tudo estava fechado e escuro, o cheiro de mofo já estava tomando conta do lugar, que por sinal era muito bonito e aconchegante.
- Você precisa descansar, querido. - Minha mãe colocou o casaco sobre o sofá cinza da sala.
- Eu preciso que esse pesadelo acabe, Sra. McCain.
Bryan estava visivelmente abalado. Não era para menos, já que havia passado por um momento muito difícil.
O levei até seu quarto, onde haviam alguns brinquedos e roupas de Dylan. Juntei tudo em um cesto, deixando próximo ao guarda roupas.
Enquanto Bryan tomava banho, arrumei sua cama e arejei o ambiente. Minha mãe preparou um lanche, que foi desprezado assim que ele saiu do banheiro.
Vestindo uma calça de moletom cinza e camisa dos Lakers, Bryan deitou-se na cama puxando o cobertor até estar bem enrolado.
Eu já estava abrindo a porta quando ouvi sua voz como um sussurro.
- Els... Fique um pouco.
Me aproximei da cama em silêncio, tirei os sapatos e deitei do seu lado. Bryan acomodou-se sobre meu peito enquanto eu passava a mão por seus cabelos. Sua respiração era lenta e falha, em alguns momentos pude perceber que soluçava também.
Levantei da cama quando tive certeza de que ele havia pegado no sono. Desci as escadas e vi seus pais sentados no sofá. A Sra. Harrington estava inconsolável. Os abracei, pois era a única coisa que eu sabia fazer naquele momento.
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Ficamos três dias em Winfield. Eu esperava conhecer o lugar em um momento melhor, mas infelizmente não.
Já estávamos colocando nossas malas no carro, quando fui me despedir de Bryan. Obviamente eles voltariam para Dover em breve, era uma questão de tempo até a documentação de Dylan ficar pronta. Era o que eu acreditava.
- Vejo você em breve. - Falei abraçando Bryan.
- Els, então... - Bryan fitou o chão, ele iria falar algo importante e eu senti que iria me machucar - Nós vamos ficar aqui.
- Como assim FICAR? - eu estava surpresa, muito surpresa.
- Meu pai conseguiu um emprego, eu estou estudando e minha mãe está muito abalada. - sua mão tocou na minha - Nós vamos visitá-las sempre que possível.
- Entendo. - Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo.
Nos despedimos da família e voltamos para Dover. Era uma longa viagem de volta e eu deveria estar no Pancho's logo pela manhã.
Durante uma boa parte do caminho ficamos em silêncio, mas eu estava engasgada, precisava falar a respeito.
- Bryan disse que eles ficarão lá. - falei enquanto olhava o túnel de árvores que se formava na estrada.
- Olivia havia comentado sobre isso. Imaginei que fossem escolher ficar. - mamãe estava séria e pensativa o tempo todo desde que chegamos para o velório.
- Sentirei falta deles. Principalmente de Dylan. - notei que estávamos chorando, então decidi ficar em silêncio.
Chegamos na cidade no início da madrugada. Estávamos exaustas, ajudei minha mãe a desfazer as malas e fui para meu quarto. Chequei meu celular e vi uma mensagem de Miles.
"Como você está? :/ Me avise quando chegar em casa"
Eu estava acabada, cansada e muito triste com tudo o que aconteceu. Não tive forças para responder Miles, então peguei no sono com muita facilidade.
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Já estava amanhecendo quando minha mãe me acordou. Eu precisava trabalhar, seria bom, precisava aliviar minha cabeça. Tomei um banho quente, penteei meu cabelo mesmo sabendo que iria prende-lo assim que chegasse a lanchonete. Não tomei café, estava sem fome desde o dia anterior.
A lanchonete era bastante movimentada durante o dia, mas mais ainda ao cair da noite. Minha função era anotar pedidos, limpar as mesas, as vezes ajudar algum adolescente passando mal no banheiro, mas sempre tinha alguns minutos de descanso.
Peguei um burrito e sentei de costas para a porta de entrada. Estava tão dispersa em pensamentos que não vi Miles sentando na minha frente.
- Você está com uma carinha triste. - falou.
- Estou cansada. Desculpa não ter respondido sua mensagem, acabei pegando no sono assim que chegamos. - empurrei o prato com o lanche em sua direção - Aceita?
Miles fez um sinal negativo com a cabeça. Me olhando, segurou minha mão.
- Estou aqui por você. - um singelo sorriso surgiu em seu rosto. Retribui.
Comi meu lanche e voltei para o trabalho. Miles estava com alguns amigos, que pareciam muito animados pelas altas risadas.
Antes de ir embora ele se dirigiu ao balcão e deixou um bilhete para mim.
"Sei que está sendo difícil, mas estarei sempre aqui por você. Se quiser, pode ir na minha casa quando sair daqui. Estarei te esperando."
Era estranho ver esse carinho de Miles por mim, já que a alguns dias atrás ele parecia ser tão fechado. Mas aceitei o convite.
O movimento naquele dia havia sido muito fraco, então fomos liberados mais cedo. Lisa havia passado por lá no fim da tarde, conversamos um pouco antes dela ir para casa. Estávamos quase trabalhando juntas, já que era uma questão de tempo para ela trabalhar no Pancho's. Seria muito divertido ter minha melhor amiga trabalhando comigo.
Levei alguns tacos e guacamole para a família de Miles. Minha mãe sempre me ensinou a não ir na casa de alguém sem um presente, mesmo que fosse comida.
Toquei a campainha e me afastei da porta. Ouvi passos se aproximando e a porta abrindo lentamente, para a minha surpresa não era Miles e sim sua mãe.
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Desembarque •CONCLUÍDA - REPOSTANDO•
RomanceEleanor McCain é uma jovem comum de 16 anos que conhece Miles Elliott em uma feira de ciências na escola na qual estudavam. Foram meses de uma rápida, porém intensa amizade, até os pais de Miles decidirem mudar para outro país. 10 anos se passam e...