Capítulo 14

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Chegamos em casa naquela sexta-feira a noite com a intenção de maratonar alguns filmes, entre eles ação, romance e terror. Era meu dia de folga, um alivio, já que não veria Miles na lanchonete tentando mostrar que estava divertindo-se com os amigos. 

Minha amiga das aulas de espanhol, Brooke Fletcher, também foi para minha casa. Nos conhecemos logo que terminei o High School, nossa conexão foi tão forte que, em pouco tempo descobrimos muitas coisas em comum, e muitas diferentes também, e foi o que me encantou. Nossa amizade era leve, sem cobranças, pois tínhamos responsabilidades, uma vida para administrar. Só conseguíamos nos encontrar quando Brooke ia até a lanchonete ou quando raramente a algum lugar.

Eu estava na cozinha preparando nossa pipoca quando minha mãe silenciosamente sentou-se me observando. 

- Já conversou com Lisa? - questionou.

- Ainda não. - virei para olha-la - Estou dando um tempo para não agir por impulso.

- Pretende alguma "vingança"? 

Minha mãe não estava me incentivando à alguma vingança. Ela apenas queria saber até onde eu estava ferida.

- Existe vingança maior que o próprio tempo, mãe?

Ela sorriu. Sabia que eu estava ciente de tudo que estava acontecendo e o que iria fazer.

- Eu gostava tanto de Miles. - disse depois de um longo suspiro.

- Imagine eu... - falei colocando a pipoca em um bowl - Miles me magoou muito. De Lisa eu até esperava algo do tipo, mas dele não.

- Espere e verá que ele vai reconhecer que errou com você. 

- Esse é o problema. - suspirei - Talvez ele não tenha visto isso como um erro. Todas as vezes que ele me olha, tenho a impressão de que pensa que o erro foi meu.

- Mas foi? - fiquei surpresa com sua pergunta.

- Não.

- Então não se preocupe com o que ele pensa ou deixa de pensar, filha. - seu sorriso era acolhedor - O problema é totalmente dele. Não pare sua vida por alguém que não merece nem um minuto de seus pensamentos.

- Farei isso.

Sorri. Era isso o que eu deveria fazer. Mas primeiro deveria tirar a dúvida que estava me incomodando. Quem estava por trás disso tudo com Lisa?

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Foi uma noite divertida. Comemos pipoca, doces e no meio da madrugada pedimos pizza. Assistimos tantos filmes que chego a misturar as histórias. Fizemos até um karaokê, mesmo com as vozes horríveis para isto. Logo pela manhã Brooke foi para sua casa, Samy e eu arrumamos a casa enquanto minha mãe estava na igreja ajudando na feira anual.

No início da tarde fui para a lanchonete. Apenas Kevin estava lá, já que naquele dia seria a folga de Lisa. Estávamos no início de Abril, a primavera se aproximava, mas o movimento no Pancho's não diminuía de jeito nenhum. Era noite de música ao vivo, alguns cantores locais estavam lá para mostrar seu talento. Um deles cantou a música que me fazia lembrar Bryan, Never Be Alone, do Shawn Mendes. Tenho certeza que chorei ao ouvir "Quando sentir minha falta, feche os olhos, posso estar longe, mas nunca fui embora". Senti tanta falta de Bryan naquele momento, sabia que se ele estivesse comigo, nada daquilo estaria acontecendo. Mas seguimos rumos diferentes, e eu deveria entender isto.

Miles chegou com alguns amigos, e por uma bela ou terrível coincidência, começou a tocar Why, também do Shawn. Seus olhos me seguiam até eu ir a mesa onde ele e seus amigos estavam.

"Eu conheço uma garota, ela é como uma maldição

Nós queremos um ao outro, mas ninguém quer assumir primeiro

Tantas noites tentando encontrar alguém novo

Elas não significam nada comparados com ela, e eu sei"

- Boa noite rapazes. - eu sabia ser irritante quando queria - O que irão querer hoje?

Um dos amigos de Miles, Isaac, me olhava com uma certa malícia. Fazendo-me sentir nojo. Tentei o ignorar enquanto estava anotando os pedidos.

"Não sei por que não admito que você é tudo que eu quero"

Olhei para Miles esperando seu pedido, mas nenhuma palavra saiu pela sua boca. Sorri enquanto aguardava sua resposta, mas sua expressão fria começou a me incomodar. Então decidi sair... "se ele quiser algo, peça depois".

A música terminou e eu só conseguia pensar no quanto éramos orgulhosos para não admitir o que estávamos sentindo. Ódio, raiva, mágoa... Precisávamos dizer um ao outro. Mas isso não aconteceu. 

Durante o tempo em que Miles ficou na lanchonete, lhe peguei me olhando várias vezes. Em uma dessas, lhe lancei um olhar do tipo "Você precisa parar com isso", mas não adiantou. Comecei a evitá-lo. Se ele queria jogar, eu entraria no jogo.

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Com a primavera as portas, Samy e eu fomos aos jardins de Dover buscar algumas flores para decorar nossa casa. Suas amigas da faculdade, Lily e Zoe, nos acompanharam. Pegamos algumas gérberas, girassóis e uma em especial... tulipas vermelhas, que eram minhas preferidas.

- Samy, já está tarde. - falei apavorada quando vi a hora. - Me empresta seu celular, preciso avisar nossa mãe que vou demorar um pouco.

- Pegue. - ela desbloqueou o celular e me deu.

"Mãe, irei demorar um pouco, mas não se preocupe, estou sem bateria. Beijos, Els". Enviei. Porém algo chamou minha atenção no celular de Samy: por que ela e Lisa trocavam mensagens?

Minha curiosidade falou mais alto, eu sabia que era errado ler suas conversas, mas eu não pensei em mais nada além de querer descobrir o conteúdo da conversa das duas. Infelizmente eu descobri.

11:32am Samantha: Eu estava com a Eleanor essa semana e ela disse que acha que você e Miles estão juntos desde que o conheceram.

11:35am Lisa: Como ela sabe?

Eu não vi mais nada. Não ouvi mais nada. Até hoje não sei como consegui chegar em casa naquele dia. Meu corpo tremia, mas em momento algum chorei. Era como se eu tivesse me proibido de chorar por algo que não merecia minhas lágrimas. 

Cheguei em casa e contei o que havia descoberto para minha mãe. Pela primeira vez em toda minha vida, a vi ficar em silêncio. Não tive fome naquela noite, só conseguia pensar nas mensagens que li. Minha irmã e minha melhor amiga inventaram toda essa história para me afastar de Miles. Era ridículo. Lisa sabia muito bem que se tivesse me falado "estou gostando dele" eu teria me afastado, como já fiz antes. Mas ela - e ele também - preferiu omitir e mentir para mim.

Mas decidi que era o meu momento de agir. Eu não iria surtar ou fazer qualquer coisa do tipo. Mas se vingança nos leva a atitudes impensadas, neste caso, eu pensei muito bem no que fazer.

10:14pm Eleanor: Boa noite, podemos conversar amanhã?

10:15pm Lisa: Sim.

10:21pm Eleanor: Okay, se puder chegar mais cedo, sentamos na lanchonete mesmo.

10:21pm Lisa: Estarei lá.

Era hora de resolver o assunto com quem começou. Lisa e eu, frente a frente.

Desembarque •CONCLUÍDA - REPOSTANDO•Onde histórias criam vida. Descubra agora