vi. cavalos e cavalheiros

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Maize é tão boa estilista quanto a irmã, penso, vendo Aris conversando com Ciana perto de nossa carruagem. Ela está de costas, cobrindo parcialmente minha visão dele. Mas o que vejo é suficiente. A roupa é simples, mas uma escolha inteligente. Ele não está vestido de tritão, como imaginei inicialmente.

Sua fantasia é de pescador.

Aris veste uma camisa branca de linho, aberta para mostrar seu peito moreno, e uma bermuda neutra de cujo bolso escapa uma rede de pesca dourada. Seus dedos estão fechados distraidamente em volta de um tridente falso e seu cabelo parece ligeiramente úmido, como se tivesse acabado de sair do mar. Tudo nele conversa com meu traje de uma forma que não consigo explicar, mas é... irritantemente genial. Tenho um vislumbre de seu rosto e penso ter visto um cintilar azul sutil em seus olhos — uma maquiagem discreta que só faz realçar sua beleza.

E ele está mesmo bonito.

— Sirena?

Falando em gente bonita.

— Finnick — eu me viro, cruzando os braços.

— Você está...

Ser observada por ele já é naturalmente desconfortável, mas agora que sei que minha aparência está sendo analisada e que ele provavelmente vai expressar uma opinião sobre ela, estou dividida entre querer muito sair correndo e querer muito esperar a resposta...o que não faz nenhum sentido.

— ...babando.

Finnick está sorrindo. De repente estou agradecida pela maquiagem que cobre minhas bochechas, porque provavelmente estão vermelhas. Ele aponta para Ciana e Aris e seu sorriso cresce com meu desconforto.

— Eu não estava...eu só estava... — Por que estou gaguejando?

Isso é ridículo.

— Estava vendo como Aris está bonito — praticamente forço as palavras para fora, e terminar a frase com Finnick me olhando com intensidade é um completo exercício de autocontrole. — E não estava babando. — Penso nele e Daizee, babando um sobre o outro mais cedo. — Você, por outro lado, est...

— Ah, eu definitivamente estou.

Eu...o quê?

Abro minha boca para perguntar, mas é outra voz feminina que escuto antes que possa formular uma palavra:

— Está na quase na hora — diz Ciana, que se aproxima com Aris em seu encalço. A estilista dele, Maize, também está com eles. Não é difícil descobrir que é ela porque a única diferença entre ela e Daizee é a cor do cabelo: o dela é azul celeste. — Vamos logo. Melhor posicionar vocês.

Há carruagens e tributos por todos os lados, mas cada um parece estar se encaminhando aos seus devidos lugares. Me obrigo a desviar o olhar de Finnick, e quando olho para Aris ele já está me olhando.

— Ficou bem em você — diz ele, com um meio sorriso. — A fantasia, quero dizer.

Por que é que eu acho mais assustador receber atenção de caras bonitos do que entrar numa arena para matar ou morrer?

— Ah, é...obrigada — não preciso nem olhar para saber que Finnick está observando nossa pequena interação com seus verdes olhos julgadores. — A sua também.

"A sua também?" Quantos anos eu tenho, 12?

A chegada a nossa carruagem felizmente corta a conversa. Ela é linda, assim como os cavalos que a puxam. A de cada distrito é diferente; a do 4 é branca, puxada por dois grandes cavalos cor de areia que surpreendentemente não parecem se incomodar conosco, nem mesmo quando subimos na carruagem.

Eu respiro fundo. Dá para ouvir o ruído da multidão, o bater dos cascos dos cavalos, os burburinhos dos tributos nervosos. Daqui a pouco vai começar. De algum modo acho que não estava acreditando que tudo isso é real até agora. Fecho os olhos por um longo momento e tento respirar.

— Nervosa?

Bem, não estava até agora. Agora estou. Quando abro meus olhos, vejo Finnick acariciando o pescoço do cavalo à minha frente.

— Estou bem — minto, o que é evidente porque minha voz sai muito mais fina do que o normal.

— Está ótima.

Por alguma razão, olho para Aris antes de responder, mas ele está imerso em uma conversa com sua estilista.

— Eu nunca sei o que você realmente quer dizer.

Ele dá de ombros.

— O que eu digo, na maior parte do tempo.

— Isso não ajuda em nada.

— O que ajudaria?

— Não sei...um conselho? — aperto a borda da carruagem para me firmar. — Não era pra você ser meu mentor?

Finnick solta uma risadinha baixa e suave, um som que é como sentir a brisa no fim da tarde. Ele dá uma palmadinha carinhosa no cavalo e se afasta. Parece se dar bem com cavalos, por alguma razão.

— Eu sou o seu mentor, Starke — concorda ele. — Meu conselho era fazer as pessoas notarem você, mas seria impossível não notarem você hoje, então estou de mãos atadas — ele ergue as palmas das mãos como se para ilustrar seu ponto de vista.

Me sinto muito boba porque parece se passar uma eternidade sem que nenhum de nós diga nada, mas estou olhando para baixo e para ele o tempo todo. Ele me olha de volta sem nem hesitar. Não entendo onde quer chegar. Não entendo porque me importo numa situação dessas. Entendo menos ainda porque continuo me sentindo ao mesmo tempo desconfortável e alerta sempre que ele fala comigo.

— Estou dizendo que você está linda.

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⏰ Última atualização: Oct 19, 2021 ⏰

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À Deriva | f. odairOnde histórias criam vida. Descubra agora