04, Ele

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– Vocês não passam de adolescentes mimados que estão aqui porque acham legal ter o status de trainee. Mas vocês não são nada.

A porta se fecha bruscamente contra o batente da mesma, o som ensurdecedor fazendo alguns de nós tamparmos nossos ouvidos e apertar nossos olhos.

Mais uma vez somos repreendidos.

Ouvir a mesma coisa me deixa desanimada. Aborrecida. Triste. E eu sei que parte dos sermões é pra mim, o mesmo erro de sempre na coreografia. Toda a pressão de dançar algo que não estou acostumada, de aprender a cantar uma nota acima do meu tom, de compartilhar o quarto com colegas estressados que brigam o tempo todo.

– Você é o problema – um dos garotos diz furioso para mim. – Por que te colocaram como centro nessa coreografia? Você subornou eles? – Se agacha ficando muito próximo do meu rosto. – Porque não faz sentido escolher uma pessoa como você – o garoto como que ruge falando em um tom grosseiro e estúpido.

Rindo e levantando em seguida, se dá como vencedor enquanto se afasta para perto de seu grupo de amigos, eles rindo insensivelmente.

– Você fala como se fosse o melhor – Ten murmura recostado no espelho, o braço descansando sobre a perna. O espelho reflete o seu suor escorrendo na parte de trás de seu pescoço, a respiração ainda acelerada pela recente movimentação.

– O que disse? – O garoto se vira com o olhar feroz.

Ten pressiona os lábios, talvez tentando se acalmar para não criar uma confusão desnecessária. No canto de sua boca um sorriso.

– Tá defendendo ela? – continua seu discurso alarmante. – Ela não consegue fazer UM passo certo! Toda hora a gente tem que voltar a droga da música.

Ele tem razão. Eu sempre erro a mesma parte todas as vezes e isso acaba prejudicando àqueles que dançam do meu lado. O passo é difícil e rápido, muitas vezes não consigo executar no mesmo tempo que os outros. Mas não é que eu esteja desperdiçando meu tempo livre não treinando, nesses dias tenho estado doente e muito cansada.

Abaixo a cabeça por alguns segundos. Mas logo meu olhar segue o movimento rápido de Ten ao se levantar, ele mostrando uma exuberante confiança em seus olhos enquanto endireita o corpo.

– A culpa é sua – diz sem nenhuma preocupação, o olhar imerso em algo no seu braço.

– Como é? – O garoto se enche de ódio, os músculos dos braços tensionados. Poderia facilmente arrancar um dente de alguém.

– É minha. – O encara. – A culpa é de todos – completa abrindo os braços e olhando para cada um na sala.

O ódio se esvai, o garoto o encara confuso balançando levemente a cabeça em negação.

– Se você notou que ela erra em uma mesma parte várias vezes, por que não tentou ajudar? – Ten se levanta, limpando as mãos de poeira por apoiá-las no chão. – Ah. – joga o rosto para o lado. – Você usa ela como desculpa do seu erro.

Colocando o peso do seu corpo na outra perna, o garoto parece inconformado enquanto dá uma risada forçada.

– Ya, você–

– Inclusive é o mesmo erro do passo que ela tem dificuldade. Que estranho.

Ele fica agitado com os olhares duvidosos e os murmurinhos de seus colegas.

Passando impacientemente as mãos sobre seus cabelos, o garoto se distancia de nós. Seus próprios amigos o condenando com o olhar.

– Em qual movimento você tem mais dificuldade? Eu posso te ajudar. – Ten caminha até mim, perguntando com um sorriso amigável. – É como as pernas vão pra trás e o braço pra frente? – Ele se agacha, nossos olhares se encontram. – Ou como a cabeça vai pra um lado e as pernas pro outro? Não é tão difícil. Eu posso te mostrar. – Estende a mão depois de se levantar.

Me apaixonando por vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora