CAPÍTULO 1 - DYLAN

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Não é o melhor dos empregos, mas confesso que não tenho lá muitas opções. Meu futuro como advogado está um tanto quanto longe de começar e não posso perder uma oportunidade dessa, além de que nem precisei me esforçar. Ser secretário não era meu objetivo. Nunca foi. Mas me adequei muito bem no papel como estagiario e passei longos dias nessa função. Quem diria? 

Hoje, assim como nesses últimos três meses, estava sem ter o que fazer novamente. Deitado no sofá da pequena sala do meu apê, quando o celular tocou. Olho sem pega-lo e vejo o nome de Willson, meu antigo chefe. Fiz uma forcinha para-me esticar e alcançar o celular na pequena mesa no centro da sala. Abaixo o volume da televisão até o volume 10, onde não escuto mais o jogo de futebol que assistia sem muito interesse.

– Alô? – Pergunto curioso. Estava um pouco irritado, ele havia me prometido um novo emprego desde que saí da empresa.

– Dylan? Tudo bem? – Perguntou como sempre carismático, mas dessa vez parecia está animado.

– Bem, obrigado, e o senhor? A empresa irá para Rússia mesmo? – Era uma corporação de advocacia que estava criando tanto sucesso, que a vendaram para outro país interessado. Fui até convidado a me mudar para lá para continuar como secretario do chefe, mas estava ainda terminando minha pós em advocacia e tive que negar, além dos meus problemas com o frio.

– Bem, ela irá sim. Consegui um valor ótimo. – Falou, satisfeito. - Mas não liguei para isso, vim lhe avisar que lhe recomendei para um amigo, ele gostou de seu currículo e decidiu lhe entrevistar.

— Como? – Perguntei atordoado, saltando do sofá marrom de couro falso. – Mas nem sei o que eles fazem, nem nada!

O velho ri parecendo ainda mais satisfeito e convencido.

— Acho que lhe elogiei tanto que vão te dar uma oportunidade.

— Nossa! Muito obrigado, senhor! Não sei como lhe agradecer! – Esbravejei, enquanto colocava a mão no rosto quase sem saber o que falar. O velho Willson foi sempre muito legal comigo, mas não sabia que estava falando sério quando me prometeu um emprego.

— Não precisa Dylan! Vou lhe dar o endereço e vá agora! Sem demora!



E cá estou eu, no centro da cidade, que inclusive, está movimentado como sempre. Pessoas correm apressadas para prédios diferentes e o trânsito faz barulho ao nosso lado, na principal. Olho para um prédio de mais ou menos seis andares com um tom de vermelho meio vinho e um nome grande em branco de fonte Broadway no alto: "Buttley Produções".

Antes de entrar, olho para meu reflexo no espelho de uma loja ao lado, pensando se estou apresentável. Prendi a parte de cima de meu cabelo castanho alaranjado num coque folgado, deixando a parte de baixo solta e alguns soltos na frente também, como se tivesse um franjão. Uma blusa social branca meio apertada nos braços e ombros, calça jeans escura nova e um sapa-tênis preto.

Minhas mãos suam. Estou nervoso.

Calma!

Tiro meus óculos para limpa-los e tomar tempo. Viro-me para a porta e entro no prédio.

Vou até a recepcionista que parece seria, mas ao me ver, sorrir e arruma a postura.

— Boa tarde, senhor! Como posso ajuda-lo? — Pergunta a recepcionista sorrindo.

— Vim pela vaga de emprego de secretário do senhor Charlie Buttley. – Digo, meio constrangido.

— Senhor? – Pensa um pouco – Ah! Certo! – Sorri. Não entendo o por que. – Por favor, suba até o último andar e será atendido lá!

Agradeço e vou ao elevador. Enquanto espero-o subir, olho o relógio, são três e cinquenta e oito. Como sempre tento ser o mais pontual possível, não falho, haviam marcado para as quatro. Não sei o porquê de terem marcado pra tão tarde uma entrevista. Daqui a pouco o centro ficará deserto.

A porta abre. Saio tentando descobrir pra onde vou. Há alguns cubículos com algumas pessoas sentadas em seus respectivos computadores, outros em pé conversando segurando papéis. Ninguém parece ter me notado por estarem ocupados. Estão todos muitos bem arrumados e concentrados.

Será que consigo essa vaga?

— Com licença! – Brada alguém por atrás, fazendo-me dar um pequeno pulo de susto e olhá-la. É uma mulher. Parece está impaciente, mascando um chiclete com a boca aberta. – Posso ajudá-lo?

— Ah.. Tenho uma entrevista de emprego com.. - Antes que eu pudesse terminar, interrompe-me.

— Sei! Vem comigo! – E sai.

A acompanho por um corredor largo no meio dos compartimentos de cubículos. Ela veste um blazer cinza, com uma blusa branca de desenhos e um short folgado preto, dá passos firmes com seus saltos de uns 10 centímetros. Olho para o final do corredor onde há uma porta grande preta com o nome em branco pequeno no meio escrito: "Charlie Buttley" de fonte Arial.

Não deu nem tempo para dar umas pesquisadas e saber o que realmente eles fazem ou pra quem irei trabalhar. Deveria ter mim informado, mas aquele velho me mandou vir me arrumar logo, então fiquei com medo.

Será que dá tempo de pedir para ir ao banheiro e dar uma pesquisada?

A ruiva alta de cabelo preso, que me guia, para em frente à porta, dizendo-me:

— Provavelmente irá passar a maior parte do tempo aqui. – Apontando pra um cômodo, ao lado da sala, como se fosse uma recepção, com um computador e impressora. Havia muitas pastas em estantes diversas pelas paredes e uma janela virada para rua que era a única coisa que clareava o pequeno cubículo. Parece-me um bom lugar. Enquanto olho, não percebo que ela já havia batido na porta, pedido pra entrar e tudo. – Venha! — Ordena-me.

Entro na sala envergonhado por minha distração e olho para a mulher sentada no birô grande da sala iluminada com várias janelas na parede, que está concentrada em algo que escreve.

A mão direita pede para que esperássemos, com a palma erguida a nos mostrar.

Canhota.

Sua pele é branca como jade. Cabelo moreno, meio vermelho, solto, mas pegara algumas mechas da frente e prendera juntando-as atrás da cabeça com algum tipo de liga. O corte da frente era estilo canoa, fazendo parecer que tem franja, mas apenas é meio curto na frente e está partido para o lado esquerdo. Usa óculos na ponta do nariz e tem as mãos pequenas, com unhas grandes e bem feitas. Com batom vermelho que combina com a blusa social.

Ao terminar o que fazia, baixa a mão e nos olha, erguendo bem muito a cabeça para que nos olhasse através dos óculos.

Parece uma velha.

Estrala a lingua, ao perceber. Baixa a cabeça, tira os óculos e nos olha novamente. Não é velha, é linda e jovem! Transparece ter seus 23 anos como eu e é linda demais!

— Senhora, o secretário que sr. Wilson a recomendou. – Informa a ruiva.

— Ah! Olá! – diz a morena, enquanto se levanta ainda de trás do birô e faz um gesto para apertar minha mão. Vou até ela e cumprimento-a – Sente-se, por favor. – faz um gesto para uma das cadeiras em minha frente e puxa a que estava atrás dela para mais perto da mesa que agora está entre nós. Sento-me. – é um prazer! Dylan certo? — Confirmo com a cabeça - Senhor Wilson falou muito bem de você. – Encostada na cadeira, puxa um papel em cima da mesa, que parece meu currículo, e ponhe novamente os óculos de lentes flutuantes com armação tão fina que acho que na primeira queda, quebra. – Além de ser um currículo bastante promissor. – Diz voltando a atenção para mim.

— Obrigado!.. Hum.. Senhor Wilson falou-me que era um amigo.. - Digo mal a olhando nos olhos.

Maldita timidez!

— Wilson é amigo de meu pai. Que à um tempo me deixou no controle dessa empresa. – Fala, enquantoto coloca novamente o papel no lugar de antes, e agora, desencosta da cadeira. Apoia os cotovelos sobre a mesa e me encarava.

Falamos sobre como fui elogiado por meu antigo chefe e como ele a convenceu sobre me empregar. Para meu agrado, eles precisavam urgentemente de um secretário e não havia tempo de entrevistas. Eu já estava contratado. Amanhã mesmo já começarei.

Nossa! Obrigada, senhor Wilson!

Falou de como era corrido e precisaria muito de mim. Parece que eles fazem bastantes eventos e eu teria que acompanha-la em todos.

Apertamos as mãos novamente e ela pediu para a ruiva, que a ouvir chama-la de Léa, me mostrar à empresa e como trabalhavam.

No começo ainda estava confuso, pensava que iria trabalhar para um velho barrigudo de novo, mas não, ela era absurdamente atraente e elegante. Seu nome unissex dava-lhe até um charme a mais.

No decorrer de nossa conversa não deixou transparecer nenhuma intimidade.

Totalmente profissional.

Nem um sorriso, olhar ou gesto, nada que pudesse parecer algo além de trabalho.

Linda.

Pensava bastante enquanto Léa me mostrava às pessoas e lugares sem muito interesse.

Cheguei em casa umas sete, após pegar um leve trânsito com minha moto.

Haviam me dado uns papéis e documentos da empresa, para caso eu quisesse, já dar uma adiantada. O faço.

Será um trabalho trabalhoso, mas acho que irei ter bons dias de trabalho, já que terei que seguir minha chefe atraente para todo canto que ela irá.

Durmo tarde, ansioso para meus longos dias em meu novo emprego. 

Tons de Rubro (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora