CAPÍTULO 22 - CHARLIE

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Está sendo difícil lidar com toda essa pressão. Tenho quase certeza que perdi essa causa. Com Dylan como advogado, até sinto-me um pouco mais calma, mas estou sentido... Aquele tipo de sentimento que quase nunca falha... O que faço? Estou cansada de tanto pensar.. de tanto lutar.. Acho que com o que consegui, poderia viver muito bem em, sei lá, Los Angeles, Miami, qualquer lugar, por uns bons quatro anos... Mas e depois disso? Garantia de felicidade? Ou pelo menos de boas condições? Ah!  Tenho meu pai e as empresas dele, mas será que isso dará?

Toda vez que penso, meus olhos marejam e sinto meu lábio inferior lutar para fazer um bico. Respiro fundo e faço o tão famoso verbo de engolir o choro.

E Dylan? O que farei com ele? Não, mais certo, o que farei sem ele? Não consigo evitar e deixo uma lágrima fugitiva escorrer pelo meu rosto, só de pensar perdê-lo.

CALMA CARALHO.

Engulo mais uma vez e bato tapas leves em minhas bochechas.

Estou sentada em uma das muitas cadeiras de espera do Fórum de justiça. Há poucas pessoas, sentadas só a espera de serem chamadas.

Arfo. Se eu que tivesse organizado seríamos certamente os primeiros. Tá que eu cheguei mais cedo do que o planejado, mas isso não é desculpa. Fico emburrada sozinha. Ah que patético.

Meus pensamentos paralisam assim que vejo Dylan entrar pela porta giratória de vidro. Não que fosse novidade.

Seu cabelo está arrumado para trás, dando uma impressão mais escura do que realmente é, combinando com a cor preta do terno sobre medida. Sem óculos, usando uma gravata vermelha e com uma pasta preta, no estilo advogado americano cafajeste. Chega endireito as pernas, que antes estavam cruzadas. Até mesmo sua aparência me faz perder o fôlego e a boca entre abrir.

Com um pouco de esforço, localiza-me. Seus olhos quase fechados de tanto força-los a enxergar sem óculos. As vezes penso que ele faz de propósito. Se não consegue enxergar, então não tira a porra do óculos. Tá que também, com ou sem óculos, ele fica extremamente apetitoso, mas...

Grr!

Seus passos até mim, denunciam um volume ainda mais chamativo no meio das pernas, como um pacotinho, não... Um pacotão.

Minha gente, o que estou pensando numa hora dessa?

Droga, nem quero saber minha cara agora à pouco, por que ele já está aqui.

- Bom dia, Charlie... - Cumprimenta-me, sentando ao meu lado, enquanto enfia a mão por dentro do terno e puxa os óculos. - Desculpa à demora... - colocá-os.

Olho meu relógio de pulso, são exatamente nove horas da manhã, exatamente a hora que marcamos. Sorrio.

- Não peça desculpas, idiota. Está no horário certo. - Tento ao máximo, transparecer  tranquilidade, enquanto realmente tento está tranquila.

Ele ri curto, sem convencimento, só por ter realmente achado graça. Arruma os óculos, tentando esconder seu rosto enrubescido.

- Quê? - Pergunto despreocupada.

- Idiota... Cê nunca havia me chamado assim.. - Olha-me pelos cantos dos olhos, arqueando as sobrancelhas.

Ah, como amo quando elef faz isso.

Sorrio e desvio o rosto, para que não me veja morder a ponta do meu lábio inferior, de excitação, que logo é interrompida, ao ver Állan entrar em meu campo de visão, junto com um homem, ambos bem vestidos.

- Bom dia, Charlie. - Pergunta, assim que se aproxima, enquanto o outro fala com a mulher na bancada da entrada.

- Pensei que tinha esquecido da hora que marcou. - Olho novamente meu relógio.

- Oh, não se preocupe com detalhes. - Ri despreocupado.

Cheira claramente a creme pós barba e irônia pura.

Assim que o homem se aproxima, comprimenta a mim e a Dylan, que logo nos encontramos de pé.

- Onde está seu advogado? - Pergunta, Állan, olhando ao redor.

- Estou aqui. - Responde ríspido, Dylan.

Às vezes me surpreendo com a seriedade que Dylan coloca no rosto. Nada que me incomode, pelo contrário na verdade.

- Ah! - Parece surpreso. - Mas esse não é o seu secretário?

- Os dois. - Respondo impaciente. - Larga de enrolar e vamos ao que interessa.

Sorrir meio satisfeito.

- Sempre tão direta. Vamos. - Fala e guia-nos.

As vezes acho-o tão afeminado. Sinto só nojo de sua irônia e cinismo.

Andamos pouco e logo chegamos a uma sala de portas amadeiradas, não só a porta, toda a sala, assim como a mesa elipse e as cadeiras, tudo ainda cheirando leve a verniz.

Sento na cadeira do meio e espero Dylan sentar ao meu lado. Sem delongas. Estou nervosa e impaciente, mas não demostro.

- Vamos ao que interessa. - Pela primeira vez  no dia, vejo Állan sério e, sinceramente, não é nada agradável.

Tudo parece ir bem. Dylan apresenta critérios, provas e contradição. Para ser a primeira vez que faz isso, está perfeito. Como sempre tão organizado, centrado e decidido. Parece um advogado renomado de anos. Sua seriedade volta a me surpreender. Nem parece o menino envergonhado e vermelho do trabalho ou o homem voraz e malicioso de meu leito.

Mal escuto o que falam. Estão calmos e atentos. Olhando e lendo os papéis que ambos advogados tiram das maletas encouraçadas e mostram o conteúdo.

Állan apenas observa silencioso. Parece convencido, mas por estar calado, creio que esteja nervoso.

Estou tão perdida quanto uma criança que presencia a discussão dos pais, falando sobre divórcio, sem nem saber o que é ou que vai acontecer se isso for decretado. Apenas ouço de longe murmúrios baixos.

Tudo isso, me faz ranger por dentro. Sinto a raiva que vem do fundo da minha alma, entalar na minha garganta. Não sei se estamos indo bem ou mal. Se podemos vencer a causa ou não, mas tudo isso... Já estou farta.

Tons de Rubro (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora