Consequências

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Minha mãe não estava em casa. Havia um bilhete na geladeira.

"Querida, me desculpe mesmo. Mas terei reunião hoje. Farei o possível para chegar cedo. Qualquer problema, por favor, me ligue".

Pelo jeito vou entrar na mesma rotina de antes. Vou aproveitar que ela não está em casa para pesquisar algumas coisas sobre o que aconteceu.

Não sei por que ninguém me deixou pesquisar nada. Agora quando eu vou fazer isso, minha mãe trocou a senha do Notebook. O que ela quer que eu faça? Lógico que terei que invadi-lo. Ela ficará brava, mas eu tenho esse direito. Aaron me ensinou a descobrir senhas de inicialização há muito tempo. È fácil com o programa que ele me deu. Vou até o meu quarto e vejo se o cd ainda está no lugar que eu deixei.

Minha mãe deixou meu quarto intocável. Tudo está no lugar que eu deixei naquela manhã há quase três meses. Inclusive toda a bagunça. O cd está na caixa de coisas que eu ganhei do Aaron, junto com todos os presentes de aniversário, doces e bilhetes. Ele nunca poderá descobrir a existência dessa caixa.

Pego o cd e insiro do notebook. E depois de alguns minutos descubro que a senha da minha mãe é MARKS2VIOLA. Sério, mãe?

Com certeza ela não quer que eu saiba que a senha dela é essa.

A primeira coisa que eu faço é entrar em um buscador. Digito o nome da minha cidade.

Fico surpresa da quantidade de resultados. Clico no primeiro Link:

Cidade ainda se recupera de crise. Governo ainda esconde causas.

Faz dois meses que Newfield ,que segundo as autoridades, sofreu com a queda de um satélite. O satélite que ficou popularmente conhecido como "Cadente" atingiu uma escola de ensino médio, provocando a morte de 267 pessoas entre alunos e funcionários. Os sobreviventes entraram em coma, e o último sobrevivente acordou ontem dia 3. Ainda não temos informações sobre sua identidade.

A cidade que sofreu de intervenção militar começa a voltar a sua normalidade. Governo ainda não se posicionou.


Procuro mais e encontro sempre às mesmas respostas. Não existe mais nenhuma informação relevante. Fico frustrada. Desligo o notebook e vou procurar alguma coisa para comer.

Resolvo procurar meu antigo celular. Mas noto que tudo que estava comigo naquele dia, sumiu. Então vou tentar convencer a minha mãe a me dar um celular novo. Tomo um banho e logo caio no sono. O dia de hoje foi muito difícil.

Estou em encruzilhada. No norte está Aaron, no leste minha mãe, no oeste está à mulher que se parece comigo e no sul está Bryan e Annie. Por algum motivo eu não consigo me mover. Por algum motivo em não consigo escolher.

Sou acordado por minha mãe. Ela está sentada do lado da minha cama acariciando meu rosto.

—Me desculpa por ter te deixado sozinha, nesse dia tão difícil.

—Não se preocupe mãe. Deu tudo certo.

Ela me beija.

—Boa noite, querida.

—Boa noite.

E adormeço. Não tenho pesadelos, o que me alivia.

Mais uma manhã que passou voando. Quando me dei conta já estava na sala de aula.

Só eu Bryan e Annie. Ninguém mais, nenhum professor.

Olhei para Bryan e ele estava de olhos fechados. Acho que ele está dormindo. Annie continua impassível olhando para a parede. O silêncio está me incomodando. Não vou conseguiu ficar assim até a hora do intervalo.

Levanto-me e vou até a porta. Tento abrir. Mas ela está trancada. Nesse meio tempo Bryan acorda.

—Acho que eles não querem a gente bisbilhotando por ai.

—Mas eu não consigo mais ficar assim.

Começo a bater na porta.

—OI?? Tem alguém ai? Preciso ir ao banheiro.

Nada nenhuma resposta. Quando vou me sentar uma moça de trajes militares aparece na porta.

—A senhorita pode me acompanhar.

—Eu?

—Não é a senhorita que quer usar o toalete?

—Sim, sou eu.

Acompanho a moça até o que agora era o banheiro feminino.

Entro e vou lavar o meu rosto. Não quero usar o banheiro. Apenas queria sair daquela sala.

Ouço uma voz conhecida e me escondo em um dos boxes.

—Quero muito ver o Bryan – Ouço uma voz que se parece com a Sarah.

Fico feliz. Posso finalmente falar com as minhas amigas depois de muito tempo.

—Mas ele está naquela sala especial, não podemos ter muito contato com eles – Fala alguém que eu não consigo reconhecer.

—Por que você não fala com o Aaron, ele ainda fala com a Olivia.

—É, mas, acho que ele não faria isso. Ele me disse que está evitando o máximo contato com ela.

Eu desisti de tentar falar com elas. Na verdade eu não queria que elas vissem minhas lágrimas. Fiquei quieta e tentei não fazer nenhum barulho. Eu queria que aquelas pessoas fossem embora.

Não sei quanto tempo passou desde que elas saíram, mas a militar começou a me chamar.

—Já estou indo – Disse eu segurando um soluço.

Voltei à sala e abaixei minha cabeça. Eu queria que aquele dia terminasse logo.

Chegou à hora do intervalo, Silas veio nos buscar e nos acompanhou até a entrada do refeitório.

Todos olharam para nós quando entramos. Nos dividimos, apesar de tudo eu estava com fome. Me dirigi a fila da cantina.

Não tinha muitas opções. Acabei pegando uma salada com croutons e um suco de sabor desconhecido.

Ao voltar para a mesa, reconheci todos os rostos. De quem era a voz no banheiro? Pensei antes de sentir uma pressão em minhas costas e cair com tudo no chão.

Bati meu joelho com força, à dor foi angustiante. O molho da salada estava em toda a minha blusa. Ouvi risos e insultos. Olhei para cima e vi que todos olhavam para mim. Meu rosto ficou automaticamente vermelho, e eu tentei segurar as lágrimas. Tentei me levantar, mas a minha perna doía muito. Dei um olhar suplicante em direção a Aaron, mas ele apenas me encarava de volta, com um olhar surpreso.

—Ops. Acho que está sujinho aqui. – Falou Amber .

Por que tudo isso estava acontecendo? O que eu fiz para as pessoas me tratarem assim? Acho que perdi todos os meus amigos.

Não vejo quando ela se abaixa e me ajuda a recolher tudo. Annie a pessoa que eu menos troquei palavras está me ajudando. Sou surpreendia quando Bryan me ajuda a levantar.

—Você consegue ficar apoiada? – Ele diz

—Acho que sim.

—Annie, pegue as coisas dela. - Temos que leva-la a enfermaria.

Deixamos o refeitório sem olhar para trás.  

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