Capítulo 1

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Julia só acordou tarde da noite. Havia várias pessoas no quarto com ela e, dentre os rostos desconhecidos, conseguiu visualizar uma menininha que parecia pouco mais nova que ela, um homem com um rosto rechonchudo que sorria e lhe mostrava uma vela pedindo para que ela seguisse a luz com os olhos, e por fim, a mulher que a salvara.

Ela olhou ao redor, para além de todas aquelas pessoas, mas ao tentar se sentar sentiu uma forte dor nas costelas e uma pontada aguda na parte de trás da cabeça.

– Cuidado, você não pode se sentar ainda – disse a voz doce do menino que a encontrou na floresta. Foi então que ela notou a presença dele. Estava sentado em uma poltrona ao lado de sua cama.

Julia tentou falar, mas a boca estava seca. Logo puseram um copo com água em suas mãos.

– O-onde está minha madrasta? E Jonas? E-eu não posso volt...

– Acalme-se criança – disse sua salvadora, aproximando-se dela e tocando gentilmente sua mão. – Sou Clare. Esta é minha filha, Anne – ela apontou para a pequena menina à sua frente, que sorriu amigavelmente. – Este é meu filho, Marcus – Julia não olhou para o rosto dele, estava envergonhada. – E este é o doutor Luke, ele cuidou de seus ferimentos. Você precisa repousar durante algum tempo, até se recuperar por completo.

– Não posso ficar, não quero que me encontrem aqui. Não posso voltar para minha casa.

– Você não voltará mais, ficará aqui conosco. Anne sempre desejou ter uma irmã para brincar, o que acha disso? – falou docemente.

– Por quê? Por que você está fazendo isso?

E naquela noite, Clare, que mais tarde Julia descobriu ser a Condessa de Westminster, explicou-lhe tudo. Disse-lhe que o seu pai, logo antes de morrer, havia feito um acordo com o conde para que ela e Marcus se casassem.

Lady Clare havia passado a temporada social em Londres e chegara no dia anterior, por isso, naquela tarde, a condessa e os dois filhos estavam indo fazer uma visita à viúva de seu pai e a ela para lhes prestarem as condolências.

Lady Clare decidiu que Julia ficaria sob sua guarda até se casar com Marcus e iria acionar os advogados de ambas as famílias para acertarem todos os detalhes.

– Minha madrasta não se importará se eu ficar aqui ou em qualquer outro lugar, eu lhe garanto milady. Posso limpar, posso lavar, posso ajudar em qualquer coisa se a senhora me deixar ficar – implorou Julia, em desespero, mesmo que jamais tenha feito qualquer uma dessas tarefas.

A condessa fitou-a com compaixão e afagou levemente seu cabelo.

– Você jamais precisará fazer nada disso, minha querida, éramos amigos de seu pai, você ficará aqui, todos nós a queremos – afirmou lady Clare.

Julia olhou a sua volta, a pequena menina de cabelos castanhos e o médico sorriam amavelmente, da mesma forma que a condessa fazia.

E o menino, Marcus, lembrou-se ela, tinha uma expressão solene em seu rosto, muito madura para alguém de 13 ou 14 anos, pensou Julia. Mas seus olhos transmitiam bondade e preocupação.

Ela notou agora que além do cobertor, ela também estava envolvida em um casaco grande, marrom, o casaco que ele usava quando encontrou-a na floresta, lembrou-se. Ela fechou mais as abas ao seu redor, aconchegando-se no calor que o tecido grosso oferecia e sorriu para o menino, para Marcus. Ele piscou, surpreso, e abriu um sorriso incerto, mas satisfeito para ela. Seu rosto se iluminou.

Julia nunca mais voltou à sua casa. Poucas semanas depois ela teve a notícia de que a propriedade, que um dia tinha sido de seu pai, foi fechada e que a madrasta e Jonas haviam se mudado para longe, talvez fora da Inglaterra. Nunca mais os viu desde então.

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