Capítulo 3

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O dia estava nublado e frio. Um dia propenso para ficar na cama, pensou Julia. Mas ao invés disso, eles precisariam pegar a estrada assim que os primeiros raios de sol aparecessem.

Ela estava no vestíbulo de entrada, terminando de abotoar a capa grossa de viagem, quando Marcus, que estava do lado de fora fazendo uma última vistoria na carruagem e nos cavalos, entrou pela porta da frente e saudou-a enquanto se dirigia ao mordomo e dava-lhe algumas instruções. O cabelo castanho dele estava úmido da fina garoa que fazia lá fora, e o orvalho também havia umedecido sua capa negra de viagem.

Ela se aprumou quando viu que ele vinha em sua direção.

– Bom dia – cumprimentou ele. Ela sorriu. – Você consegue ir na carruagem até nos distanciarmos um pouco da cidade?

– Sim. Ainda não comi nada, ficarei bem.

– Mandei preparar algumas frutas e outras coisas para você comer depois, sei que não costuma comer tão cedo.

O sorriso de Julia se ampliou.

– Você sempre teve uma ótima memória – observou ela.

– Só para o que importa – respondeu displicentemente enquanto se aproximava e pegando as pontas do capuz da capa de Julia, colocou-o sobre a cabeça dela, cobrindo parcialmente seu rosto e se certificando de não deixar nenhum fio louro de cabelo amostra. – Vamos?

Ela seguiu-o para fora e logo notou que a garoa já havia cessado. Antes de subir na carruagem ela viu que Evie estava no banco ao lado de Phillip, que conduzia o veículo.

– Por que está aí? – inquiriu Julia.

– Gosto de viajar aqui, milady. E agora na volta me sinto mais segura para ir aqui fora, já que temos um homem nos acompanhando – disse Evie. Phillip, que estava ao seu lado, olhou-lhe de esguelha, parecendo ofendido.

– Phillip nos defenderia de qualquer perigo – assegurou Julia, na tentativa de fortalecer o ego do rapaz. Evie e Marcus, este último se encontrava atrás dela, bufaram juntos, descrentes.

– Vamos logo – chamou Marcus, estendendo a mão para ajudá-la a subir na carruagem.

Julia lançou um último olhar de desculpas à Phillip e entrou no veículo. Marcus embarcou logo atrás dela.

– Achei que você fosse de cavalo – observou ela, se sentindo levemente ofegante ao ter a percepção completa do espaço apertado em que estavam.

Marcus fechou a porta e bateu no teto da carruagem, que entrou em movimento.

– Amarrei nossos cavalos na parte de trás da carruagem. Quando sairmos da cidade ou quando você começar a enjoar, nós paramos e montamos.

Ela assentiu e olhou através das janelas para as ruas desertas de Londres. Julia gostava da cidade, mas fazia muitos anos não vinha. Algumas coisas haviam mudado, mas muitas permaneciam iguais, e ela sempre apreciara os barulhos, os odores e a grande movimentação. Sentia que aquela agitação toda fazia florescer inúmeras possibilidades, mesmo que talvez fosse uma tolice pensar isso, pelo menos para ela. Todo seu futuro estava ao mesmo traçado e completamente incerto.

Na noite passada, quando não havia encontrado Marcus em casa e o mordomo sugerira que ele estava no clube, ela havia pensado em não ir até ele, e espera-lo na residência. Entretanto, não conseguira resistir à tentação de conhecer o clube sobre o qual ele já havia escrito antes para ela. Quando chegara lá, havia se sentido ao mesmo tempo fascinada e perdida naquele antro. Mas devia admitir, que apesar de ser um ambiente completamente desconhecido, ela adorara tudo no lugar. Desde a música alta até o fato de que haviam mulheres bebendo e conversando abertamente com os cavalheiros, pareciam livres, quase como iguais. Aquele certamente fora o aspecto que mais a agradara.

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