A data que constava no bilhete era do mesmo ano em que Marcus havia nascido.
Julia ficou muito tempo em silêncio, sem conseguir acreditar no que via. Mas de repente tudo fazia sentido. O conde fora um bom pai para Anne: a tratava bem, nunca havia encostado um dedo nela, a deixava ficar em seu escritório enquanto trabalhava, conversava, se interessava pela educação dela, e algumas vezes até a levou junto em suas viagens de negócios.
No entanto, para Marcus, o filho mais velho e herdeiro do título, ele sempre reservou seu pior lado. Negligenciou-o no início, mas a medida em que ele foi crescendo a indiferença foi se transformando em algo mais negativo, em um espécie de raiva latente que se manifestava e tornava-se explosiva todas as vezes que Marcus cometia um pequeno erro.
Com o passar do tempo, qualquer deslize era suficiente para fazer com que o conde o espancasse. E nunca foram agressões leves, voltadas para correção, como os pais usualmente faziam e que ainda assim Julia não era a favor. Não. Marcus ficava com sequelas das surras que levava do pai durante dias. Um comportamento que agora Julia conseguia saber a motivação: Marcus não era filho do conde.
O significado daquele bilhete também explicava o fato de a condessa, mesmo amando Marcus, nunca se intrometer na relação problemática que ele tinha com o pai. Ela provavelmente se sentia culpada por ter sido infiel e dado a luz à uma criança ilegítima.
Com os olhos úmidos das lágrimas não derramadas, ela se ajoelhou no tapete, a frente de Marcus. Ele estava fitando o chão, mas quando Julia se aproximou, pousando a mão sobre o joelho masculino, ele levantou a cabeça e a olhou.
– Ele não era meu pai – murmurou, a voz rouca, como se não tivesse sido usada há algum tempo.
Julia apenas balançou a cabeça, engolindo o choro. Odiava vê-lo assim.
– Eu sinto muito, Marcus. Eu... realmente não sei...
– Você acha que ele está morto?
Ela o fitou.
– Meu pai. O verdadeiro – ele explicou.
– Eu... aqui ele respondeu que aceitava o duelo proposto pelo conde – ponderou ela, olhando para o bilhete amarelado e amassado que tinha nas mãos. – Mas não podemos saber se eles duelaram até a morte ou se até o primeiro derramamento de sangue. E não há identificação no bilhete.
– Se ele estiver vivo não fará nenhuma diferença. Em vinte e seis anos nunca me procurou. É melhor considerá-lo morto.
– Não fale isso. Você não sabe o que aconteceu, não sabe as motivações dele. Muito provavelmente, o conde deve tê-lo ameaçado. Somente... somente a condessa poderá esclarecer tudo. Você precisa conversar com ela.
– Não sei se consigo. No momento estou com tanta raiva dela quanto dele.
– Você precisa ouvi-la, Marcus. Seu pai nunca foi o melhor dos maridos e isso é um grande eufemismo. Eu tenho certeza de que ela não faria o que fez se soubesse das consequências.
– Se soubesse que fodendo ela poderia engravidar? – ele explodiu, levantando-se abruptamente e dando as costas a Julia. – Ela não poderia ser tão tapada assim.
Suspirando, Julia se levantou e tentou, novamente, se aproximar dele.
– Ela pode tê-lo amado, você não sabe. E foi escolha de seu pai permanecer casado com ela, ele poderia ter entrado com um processo de divórcio. É provável que não tenha feito isso apenas porque não quis comprometer seu ego admitindo que foi traído e que sua esposa carregava o filho de outro.
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A Melhor Amiga do Conde
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