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O dia estava meio tenso por assim dizer. Em casa Charlotte e Christen não falavam muito e até bolinha estava queita, e agora na sala de espera da entrevista o clima era tensão total por todos que estavam esperando o atendimento.

_ Caso 5.766A, visto por matrimônio por favor

A moça e chama e eu só consigo pensar se houve cinco mil entrevistas hoje ou se é só um número aleatório que eles dão pra gente. Eu e Christen nos levantamos e fomos até a sala que a moça chama e nos sentamos.

_ bem antes de qualquer coisa eu preciso lembrar que estão sobre juramento e que falso testemunho é crime. Estamos entendidas?

_ sim. Nós respondemos em conjunto

_ bom, essa é a primeira vez que vejo alguém famoso pedindo visto por matrimônio, geralmente a pessoa imigrante já tem o visto então a primeira pergunta é, vocês querem proceder com isso?

_ com certeza. Eu respondo

_ não estão fazendo isso apenas pelo visto?

_ de jeito nenhum

_ e o bebê?

_ o que tem?. Christen pergunta receosa

_ vocês trouxeram o laudo da fertilização in vitro? Devo lembrar que se esse filho for um cidadão americano ele pode ser tomado de você e entregue para o pai

_ o que? Como assim?. Christen diz nervosa

_ esse é o seu primeiro relacionamento homoafetivo então imagino que você estava com homens antes e...

_ eu estou com os papéis da fertilização e eu realmente sou seu primeiro relacionamento gay e acho que isso não influencia em nada

_ eu preciso dos papéis da fertilização e se houver qualquer chance, até a menor possível dessa criança ser um filho americano criado por um casal gay eu preciso saber

_ porque?. Christen pergunta mas eu já a corte. Às segundas intenções nas frases desta mulher me incomodava intensamente.

_ é o protocolo você ficar insinuando que uma mexicana transou com um americano e que esse filho não pode ser criado por um casal gay? Só porque é uma criança americana?

_ a senhora que está dizendo isso não sou eu

_ foi o que você deu a entender

O clima estava tenso e aquela mulher que nem havia dito seu nome digitava furiosamente no teclado de seu notebook. Homofobica e xenofobica trabalhando em um lugar que dá visto a outras pessoas não era uma combinação muito boa.

_ licença

Lucy que esteve na minha casa a umas semanas resolveu dar o ar de sua graça na sala sentando ao fundo da mesma apenas olhando a situação.

_ Lucy o que você viu em sua visita?

_ parece um casal apaixonado como em um desses amores de verão, Tobin parece ser meio dura com as coisas e Christen parece viver com calma e harmonia e elas tem um cachorro e vários planos para até mesmo mais filhos e elas se dão bem com isso. O único problema é que elas parecem um casal assustadoramente maduro, parece que se conhecem a muito mais tempo

_ entendo, e como eu não acredito em sincronia de almas ou qualquer coisa que possam inventar eu preciso de dados que comprovem o dia que se conheceram

_ tem no tinder pode ser?. Eu digo

_ Senhorita Heath, porque você não deixa Christen responder?

_ eu não tenho como provar isso senhora, eu troquei de celular

_ e você?

_ tenho

Entro no tinder que já estava meio que "adulterado" por Erik para parecer que nós nos conhecemos a mais de um ano atrás. Sete meses pelo Tinder e 4 meses pessoalmente onde a fertilização tinha sido feito antes mesmo dela "vir para cá". Entrego o celular para a moça na primeira conversa e ela olha e digita mais algumas coisas no computador.

_ fertilização

Entrego os papéis da "fertilização" de uma clínica de fertilidade também inventada do México mas o importante seria ela acreditar.

_ devo lembrar que pode ocorrer uma visita nessa clínica. Ela diz

_ mas no México?. Lucy diz._ temos jurisdição para ir lá?

Elas se encaram e percebo que Lucy tem uma expressão de dúvida no rosto e isso me fez entender que a moça que nos avaliava não queria que conseguíssemos o visto e nem mesmo gostava da gente e estava fazendo isso para nós intimidar.

_ sim nós temos

_ mas alguma coisa?. Eu pergunto

_ está com pressa? Pois saiba que isso é um processo demorada. Mas bem, vai haver mais entrevistas e quando o bebê nascer você e ele podem ser deportados por um tempo. Ou a mãe com o bebê ou o bebê sozinho

_ o que?. Eu pergunto exaltada

_ é um procedimento padrão para crianças não americanas

_ não é uma criança não americana é minha filha

_ só nos papéis, não é sua filha

Lucy faz um barulho com a garganta ao fundo da sala e a moça para de falar.

_ no estado do Oregon LGBTfobia é crime e eu sinceramente não entendo como você conseguiu esse emprego sendo assim

_ assim como senhorita Heath?

_ homofóbica e xenofóbica até porque claramente você não gosta de Christen por ela ser mexicana

_ você está se ouvindo? Eu posso negar o visto dela aqui agora e...

_ e eu posso recorrer a outro visto se eu provar que você está comentando um ato criminoso contra a gente

_ e quem será sua testemunha?

_ Lucy

Parece que finalmente ela se dá conta de que não está sozinha na sala fazendo merda e cria um pingo de consciência e se recompõe na cadeira.

_ voltem em fevereiro na primeira segunda do mês as nove

Então ela sai furiosa da sala. Olho para o lado e Christen chorava baixinho acariciando sua barriga.

_ eu posso perder ela? Elas podem mesmo tirar ela de mim?

Ela estava tremendo e seus olhos estavam puramente vermelho de tanto chorar e eu nem ao menos percebi que ela chorava ao meu lado. Talvez eu não devesse ter feito isso, de fazer ela ficar aqui pra tentar ganhar o visto e depois assumir Carina como minha filha mesmo. Acho que isso tudo foi egoísmo da minha parte, isso tudo por eu estar meio desolada no começo do nosso "relacionamento" e porque eu estava sentindo coisas por ela. E talvez tudo isso não justifica minha atitude.

_ não se preocupe querida, ela não pode fazer isso

Lucy chega e abraça Christen que agora começou a chorar de soluçar e tremer mais ainda.

_ querida você não pode chorar, vai fazer mal pro bebê se você não se acalmar então bem

Ela concorda e começa a parar o choro com o tempo e agora começava a respirar com dificuldade por causa do choro.

_ não deixa eles pegarem minha filha Tobin. Ela diz com dificuldade._ se você me ama mesmo não pode deixar isso acontecer. Você me promete?

Por mas que a filha não seja minha e nem houve um consenso em ter ela. Eu amo a Carina, ela é minha bebê agora e eu não vou deixar nada acontecer com ela, nunca.

_ eu prometo
















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