Capítulo IV: Palavras esquecidas

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Laura e Ricardo estavam na frente do rei daquelas ruínas. A garota ensaiou falar algo, mas o som de seus lábios se emudeciam no ar daquela sala. Pedro ao observar as tentativas formou um sorriso diáfano e semiprofano. Ricardo tomou a frente e logo começou a explicar a situação que se encontravam:

-Também é um prazer te ver, Pedro. Já faz um certo tempo. – Ele falou em um tom amigável disfarçando o nojo perante as brincadeiras sádicas de Pedro. – Então... você sabe porque estamos aqui. Essa aqui é a Laura. Ela tem uma peculiaridade.

-Claro, claro porque mais você viria aqui. Uma peculiaridade.... qual?

-Ela... – A voz de Ricardo sumiu, nesse exato momento. Tão subitamente, como o raio de luz que entrava pelos buracos do telhado iluminando os pés de Pedro.

-Você é muito mal-educado, nem deixa a garota falar – Laura permaneceu calada, buscando encontrar o som em meio ao ar. – Vamos garota! Você já pode falar! Qual tua peculiaridade!

A inseguridade se misturou com o som do movimento do ar; por um singelo momento a lua e as estrelas se calaram e em meio aquele luar encoberto pelo teto destruído se ouviu a voz dela:

-Eu não morro.

-Ora e isso é um problema? Eu conheço diversas criaturas que fariam de tudo para ter esse seu "problema".

-Você não entende a dor. A dor de qualquer coisa que me atinge. É como se um pequeno choque se tornasse sei lá um caminhão passando por cima de mim.

-Hm... Acho que entendi, minha querida. – Disse se levantando de seu trono. Em pé continuou. – Pode falar, Ricardo. A situação é mais séria do que pensava.

-Mais séria? Como assim? – Disse um tanto aliviado por ter recuperado sua voz, mas um tanto apreensivo. Laura calou-se. O silêncio era sua resposta àquelas palavras.

-Maldição da Boneca. – Os olhos de Ricardo em forma de pentagrama se dilataram.

-Eaí? Qual o ritual? É só fazer um ritual né? Sempre foi assim...

-Bonecas... esse vai ser o ritual.

-Bonecas? – Interrompeu Laura. – Como assim bonecas? E outra? Por que vocês tão me ajudando assim? Vocês dois? Meus Deus por que eu tô aqui afinal?

Ela ia começar a correr, para sair daquele lugar. Ela sentia que estava em um sonho. Um sonho real. Que realidade estranha era aquela que se encontrava: dois sujeitos que lhe eram desconhecidos lhe tentavam salvar a vida.

-Ei- Ricardo a segurou pelo braço de forma extremamente firme- nós temos o nosso motivo para ajudar. E se você soubesse não ia ter nem um pouco de orgulho dele. Aquele ali, só precisa que alguém lembre dele. Se lembram dele, ele vive. Por isso ele ajuda, garante a sua memória e aí ele tem mais tempo de vida. – Pedro sorria pelo canto da boca enquanto ouvia Ricardo falar – E eu... eu tenho minhas razões. E, então, se tu quiser se curar desse negócio aí, é bom que você ouça o que o Pedro vai falar e faz o ritual.

Ela pareceu concordar silenciosamente, como se toda a realidade se reduzisse a somente àquela sala e àqueles três seres que estavam nela. Como se o mundo dela estivesse ali. Pedro tomando a frente, rindo, disse:

-Bom. Após essas palavras encantadoras do Ricardo e aí se decidiu?

Ela fez um gesto afirmativo com a cabeça e Pedro prosseguiu, ele se encaminhou para o trono onde disse palavras incompreensíveis aos ouvidos mortais. Surgiram, então, ao lado do trono, duas enormes bonecas marionetes sem rostos e com braços finos feitos de uma madeira escura que se misturava com a escuridão daquele lugar.

À espera do fimOnde histórias criam vida. Descubra agora