4. Árvore

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15. Sente seus lábios

ELITA
Seu coração parecia que ia sair do peito. Meu rosto estava tão próximo ao dela, minha mão encostada a sua e a única coisa que queria no mundo era estar alí, naquele exato momento.
Não sabia se o "gostar" dela era o mesmo que o meu, eu não podia saber disso se não perguntasse ou se não fizesse algo que comprovasse.
O brilho no olhar dela era mais forte do que os das estrelas, via que ela também estava ofegante, e quanto mais eu me aproximava, mais ofegante ela ficava. Eu me aproximei até nossos narizes se tocarem. Ela fechou olhos, esperando algo que estava louca para receber. Seu rosto ficava vermelho, me pergunto se o meu também ficou.
Eu me aproximo até que nossos lábios se toquem. Sinto a timidez que Melanie encosta nos meus lábios, sinto que ela não sabe o que fazer, fecho meus olhos e sinto suas mãos de leve no meu ombro, tocando somente os dedos. Nossos lábios se tocam gentilmente, mas sinto a respiração de Melanie bem forte. Seus lábios eram macios e tinham gosto de morango. Saio do beijo e olho no fundo dos seus olhos, que ela os abre vagarosamente, e também olha para os meus. Ela vai abrindo um leve sorriso de satisfação, como se já tivesse acabado.
Avanço mais uma vez, mas agora vou mais rápido, minhas mãos na sua cintura enquanto as delas iam no meu rosto. Agora pude sentir a sua língua com mais vontade. Melanie se deitou no chão de concreto e eu fiquei por cima dela. Podia sentir todo o calor vindo do seu corpo. Fui tirando a blusa que estava, mas antes de tirar por completo, alguém entrou no terraço, pulei para trás de uma das caixas de tubulação e puxei Melanie.
Eu ainda estava ofegante e excitada. Queria ter ido mais além do que só beijo, mas quem quer que seja, estragou a minha noite. Finalmente tive a chance de beijar uma pessoa que eu gosto e que era verdadeira comigo, e tudo isso foi jogado fora. Espero que a Melanie me dê uma segunda chance. Quando olho para ela, vejo que estava rindo de nervosismo, olhava para mim com o cabelo bagunçado e sua respiração estava voltando ao normal aos poucos.
Olhei para além da caixa, procurando quem quer que fosse enquanto ajeitava a minha blusa.
Era Lemony, o costureiro, ele estava acompanhado de duas pessoas, que não consegui ver quem era, mas era uma voz feminina e a outra masculina.
  - Vocês podem me pagar de outras formas - ele disse, em um tom que conheço muito bem.
  - A gente tava esperando que existisse mesmo - disse a voz masculina.
  - Que pervertido - disse Melanie, sussurrando.
  - Não é muito diferente do que a gente tava fazendo agora - falo no mesmo tom que ela, se aproximo e dou um selinho nela - Temos que ir.
Vamos atravessando os tubos e caixas em silêncio, tentei não fazer nenhum barulho, mas meu sapato arrastou no chão e fez um som alto. O som de beijos e coisas fazendo barulho dentro da boca de alguém parou, junto com as risadas e gemidos. Houve um silêncio.
  - Não foi nada - disse a voz feminina, ofegante.
E o som voltou. Melanie tapava a boca para não rir e eu coloquei o dedo em frente da minha pedindo silêncio. Fomos até a porta que dava para as escadas e corremos, pedimos o elevador e entramos nele. Melanie pode finalmente rir, e sua risada encheu a minha alma de paz. Me aproximei dela e a beijei segurando seu rosto, ela me abraçou e aproximou o corpo dela ao meu. Antes da porta se abrir, paramos, nos arrumamos e quando abriu, Gavin e Isabela estavam esperando na porta.
  - Ah - disse Gavin, algo que já estava acostumada com ele falar - Aí estão vocês duas.
  - Estamos aqui! - disse Melanie, saindo do elevador e sorrindo.
  - Queria te perguntar uma coisa, Melanie - disse Isabela, passando o braço pelo ombro de Melanie - Pode ir até o meu quarto?
  - Claro - e assim Melanie e Isabela entraram no elevador.
  - Boa noite, gente - Isabela disse, apertando o botão do seu andar.
  - Boa noite - Gavin e eu dizemos e antes da porta se fechar, eu pisco para a Mel.
  - Você não vai acreditaram o que aconteceu - eu disse me virando para Gavin.
Entramos no meu quarto e contei o que vi Lemony fazendo lá no terraço, só tirei a parte da Melanie, acho que não deveria contar agora, a Mel deveria concordar primeiro se contamos ou não.
Depois de contar e Gavin ficar chocado, me olho no espelho e começo a tirar a minha blusa, ficando só de sutiã. Gavin se virou de costas, acho fofo quando ele faz isso, e adoro provocar ele.
  - Pode olhar - digo, o provocando mais um pouco.
  - Não, obrigado - ele diz, rindo de forma abafada.
  - Ei - digo, mais séria - se vira.
Ele se vira aos poucos e olha para mim, seu rosto está vermelho, muito, para falar a verdade. Desço o zíper da saia e tiro ela. Gavin se vira e não olha mais. Me aproximo dele e coloco o meu queixo em seu ombro e coloca as mãos em sua cintura.
  - Você já se apaixonou? - pergunto a ele, bem baixinho em seu ouvido.
  - Muitas vezes - ele disse, olhando para mim, ele tinha tirado os óculos, ficava melhor assim - Homens... Mulheres... Mais do que só isso.
  - Se lembra de algumas delas, mais especificamente?
  - Não, não de maneira tão especifica - diz Gavin, depois de um tempo pensando.
  - Mas lembra se em algumas dessas vezes foi por mais de uma pessoas ao mesmo tempo? - eu pergunto - ou se você já se sentiu tão apaixonado que parecia que iria amar aquela pessoa pra sempre?
Não sabia por que estava perguntando aquilo, a minha cabeça só estava no automático agora. Aquelas perguntas faziam algum sentido para mim?
  - Sim... - ele respondeu - e sim. Meu coração é tão confuso, agora mesmo ele tá assim. Eu devo ter amado, de verdade, umas seis pessoas.
  - Nossa, é bastante gente.
  - Alguma delas me amava de volta? Acho que não.
  - Isso foi pesado.
  - Fazer o quê? Eu simplesmente amo - Gavin me olha quando eu me deito na cama, de frente para ele.
  - Eu... - começo a falar mais não sei como começar - Acho que você é amado por alguém... Várias pessoas.
Gavin era o meu melhor amigo aqui, me sentia leve quando ele estava por perto. Espero que ele sinta o mesmo.
Ele deita ao meu lado.
  - E também há pessoas que te amam aqui - ele disse, olhando para o teto.
Eu seguro a sua mão e ficamos em silêncio, como sempre, e eu queria que fosse para sempre.
Na manhã seguinte, Manuela e Isabela vieram no meu quarto me ajudar com as coisas do piquenique que planejamos ontem na festa. Preparei tudo ontem com Gavin e Melanie veio nos ajudar, o pior foi que o clima não ficou estranho e eu estranhei isso.
O campo vai estar ocupado, e principalmente Isabela não queria tocar o pé nele se não fosse para o trabalho, mesmo Manuela insistindo que fosse lá. Mas quatro contra uma venceu, óbvio, e fomos para o terraço.
- Se encontrarem alguma coisa estranha no chão – eu digo, entrando com uma cesta e uma toalha para pôr no chão – não encostem, pelo amor de Deus.
- E o que poderia ser? – Manuela pergunta, com um olhar malicioso.
- Pergunta pro Lemony – Melanie fala, rindo.
- Que horror – diz Gavin, ele também ri.
- Pode contar, Gavin – eu falo, estendendo a toalha no chão.
Enquanto Gavin contava, todos ajudavam na montagem do piquenique e até que ficou bem bonito. Melanie pegou algumas lavandas que podíamos pegar para decorar. Manuela e Isabela encomendaram doces com Leslie e Gavin ficou de trazer os sucos e eu comprei alguns sanduíches. Isabela também trouxe leques para todos.
Melanie contou de coisas que já aconteceram quando ela estava em turnê, como a vez que roubaram um roupão dela, que era de uma amiga. Não entendia como ela conseguia aguentar tudo isso.
Enquanto bebia o resto do suco no meu copo, Gavin e Manuela olhavam para uma das caixas de tubulação, atentamente, os dois se levantaram e foram até ela e inclinaram a cabeça, para escutar alguma coisa.
- O que foi? – Isabela perguntou para os dois.
Gavin fez “shhh” e voltou a sua atenção para a tubulação. Nos levantamos e fomos até lá e prestamos atenção no que eles estavam ouvindo. Eram sussurros, falas que não conseguia ouvir, o que eles diziam?
Manuela fungou e fez uma cara estranha.
- Cheiro de dentista – ela disse, se arrepiando toda.
Fungamos e tinha mesmo esse cheiro. Lembranças não muito boas da minha infância vieram na minha cabeça e ela doeu.
Barulho de metal soou pelos tubos e machucaram meus ouvidos.
Gavin e Manuela saíram rápido de lá e taparam os ouvidos.
- Ai – Manuela disse.
Nos reunimos, mas Manuela teve que descer para tomar o seu remédio para dor de cabeça.
- Ela não pode se esforçar muito – Isabela disse.
Gavin também desceu atrás, parecia que ele estava com medo de algo.
- Que estranho – Melanie disse.
E ficamos ali em silêncio. Deitamos na toalha e terminamos os nossos sanduíches.
O sol batendo em meu rosto. Isabela colocou a cabeça em meu colo, e Melanie, enquanto se abanava, apoiou a sua cabeça no meu ombro.
Estava tudo tão calmo, mas sentia que a qualquer momento poderia piorar. Os barulhos do metal que saíram da tubulação soaram na minha cabeça.
Lembrei de quando comecei a ser cam girl, sentia um medo de como meus pais reagiriam, não podia esconder por muito tempo, mas escondi o máximo que consegui, mas um dia não consegui segurar e o caos escorregou pelos meus dedos.
O filho de uma amiga da minha mãe me assistia, o que chegou a me assustar, já que ele tinha dezesseis anos.
Minha mãe tinha me ligado, falou calmamente para eu ir para sua casa, cheguei e ela já começou a gritar.
  - O QUE VOCÊ ESTAVA PENSANDO? - ela gritou, na hora eu não tinha entendido, tinha me pego de surpresa.
A tal amiga estava no sofá junto com o filho, ela me olhava com raiva e nojo, já o garoto me olhava como se eu fosse um pedaço de carne.
  - Você sabe... - digo, entendendo a situação.
  - É CLARO QUE EU SEI! - minha mãe continuava gritando - SABIA QUE O FILHO DA JÚLIA ASSISTE VOCÊ?
  - Primeiro, fala baixo, por favor, eu sou sua filha e mereço respeito.
  - Você não se respeita, como que quer que eu te respeite?
  - Eu me respeito sim, eu amo o meu corpo e o mostro porque eu quero.
  - VOCÊ SE TORNOU UMA VADIA, EU NÃO TE CRIEI PRA ISSO! - ela voltou a gritar e agora ela chorava.
  - Eu nem mostro tanto assim, mãe!
  - Mas foi o suficiente pra corromper o meu filho! - Júlia disse, se levantando.
  - Que tal brigar com o seu filho que estava procurando mulheres seminuas na frente de uma câmera do que com a mulher seminua na frente de uma câmera? - eu digo, e ela se cala.
  - Você se orgulha disso? - minha mãe limpa o nariz, mas ainda chorava baixo.
  - Me orgulho de quem eu sou, me orgulho do meu corpo e do meu trabalho - eu respondo.
  - Você tá feliz com o que você tá fazendo com a sua mãe?
  - Eu tô apontando uma arma pra você? Eu tô matando alguém? Me diga!
  - Você está agindo como uma vagabunda - a minha mãe se aproxima de mim - O que as pessoas vão achar de você sendo uma puta?
Não aguentei, meu coração apertou, forçando as lágrimas a saíram.
  - Eu sempre liguei tanto para o que as pessoas falavam de mim - eu digo, chorando - E agora que não ligo, você quer que eu volte a ligar? Eu me cobrava tanto pra ser alguém que não sou. Eu finalmente estou feliz, porque eu me entendo.
  - Você tá feliz fazendo isso? - minha mãe falava baixinho e não olhou para os meus olhos.
  - Estou.
  - Então seja feliz sendo uma puta fora da minha casa.
  - Mãe!
Minha mãe me deu um tapa na cara, o barulho foi alto. Meu rosto estava vermelho e ardia enquanto lágrimas caíam por ele. Estava triste, com raiva, queria gritar com ela, mas esse não era o momento.
  - Fora da minha casa - ela disse, com calma, mas podia sentir o tom de raiva na sua voz.
  - Eu só quero que você vá se foder, seu pervertido mirim - digo para o garoto ao lado da mãe.
  - E você é o quê? - a mãe dele pergunta, erguendo a cabeça, achando que me daria medo.
  - Uma mulher livre - digo, dando meia volta e saindo da casa.
Lembrar daquilo foi como um soco no meu peito, mas necessário.
Arrumamos tudo e descemos. Antes de entrar no meu quarto, fui até o quarto de Lemony e bati na porta. Ele abriu, viu que era eu e me deixou entrar.
  - As roupas estão ficando prontas, querida - ele disse - Vão ficar prontas uma semana antes do baile.
  - Ótimo - dei uma olhada no seu quarto, ele era bem diferente dos outros por causa dos tecidos estendidos por todo lugar. Lemony era um garoto indiano, só era alguns centímetros mais baixo que eu. Tinha uma pose forte e um olhar sedutor - Vou te pagar com pontos, tá bom?
  - E tem outra maneira de você me pagar? - ele se fez de sonso e eu só sorri e olhei para o outro lado.
Saí do quarto de Lemony e entrei no meu, mas não sem antes ver que Melanie estava conversando com a garota que morava no quarto ao lado dela. Mandei um beijinho e entrei no quarto.
Me apoiei na porta e mordi o lábio inferior.

16. Sobe em uma árvore

Lavanda (Fanfic Melita)Onde histórias criam vida. Descubra agora