6. A Morte Na Porta Ao Lado P.2

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31. Festa do Pijama Arruinada

MELANIE
Começou a serenar quando subimos. A garoa fina batendo de leve na janela dava um ar ainda mais mórbido para a situação. Depois do abraço que tivemos, na minha cabeça, eu podia sentir que essa era seria a última vez que fazemos isso.
Um medo crescente no meu peito sobre o que poderia estar acontecendo crescia muito rápido. Cada dia que passava sentia que me afastava ainda mais dos objetivos que o hotel tinha para mim e eu não fazia nada para mudar, também porque não queria.
Foi a mesma ordem da primeira festa do pijama que fizemos, sendo que quem estava na cama era Gavin e Isabela, Elita ficou ao lado de Gavin, no chão, eles seguravam a mão um do outro. Manuela ainda parecia abalada, peguei ela secando as lágrimas três vezes deste o abraço coletivo. Eu me aproximei dela, que se encolheu e encostou o corpo no meu, parecendo uma criança que teve um pesadelo e foi para a cama dos pais.
O relógio finalmente deu meia noite.
- Tic - fez Isabela, cobrindo o rosto.
Todos pegamos panos úmidos e cobrimos nossas bocas e narizes, Isabela deu essa idéia e era a melhor que tínhamos. Esperamos por uns dois minutos até ouvirmos o barulho de algo vazando. Apertei mais o pano contra o meu rosto. Pude ver a fumaça rosa cobrir o meu corpo e fechei os olhos para não vê-la mais.
Depois de três minutos tentando respirar o mínimo possível, conseguimos resistir ao gás. O barulho parou e a fumaça abaixou. Vi Gavin se levantando da cama quando ouvi um barulho na porta e ele logo se apressou para voltar à cama e eu virei rápido o rosto para Manuela, que estava de frente para a porta, e escondemos os panos debaixo dos lençóis.
Vi três sombras entrarem e permaneci parada. Os três seguranças passaram por cima de mim, como se eu não fosse nada.
- Não sei por que eles insistem em fazer essas festas - uma voz masculina disse, possivelmente a última pessoa que passou por mim.
- É bom - disse uma voz feminina - Porque sabemos quais estão prontos para subir de nível e quais não estão, e esse menino precisa de um tratamento logo, olha o tanto de garota aqui.
- Sortudo - disse outra voz masculina.
- Para de ser babaca! - disse a mulher.
Ouvi eles mexerem na cama e pegarem algo de lá. Olhei para Manuela e ela estava chorando muito, mas estava paralisada, não mexia um músculo. Não sei por que, mas aquilo mexeu muito comigo, como um déjà vu.
- Ele ainda tá consciente - disse a mulher - o pulso dele tá muito rápido.
- Aplicar o gás? - perguntou o primeiro homem.
- Óbvio!
Ouvi mais uma vez o barulho de gás vazando e depois sendo desligado. Os três saíram do quarto carregando o corpo de Gavin.
Assim que fecharam a porta e se passou meio minuto, Manuela começou a chorar muito, parecia que alguém tinha morrido. Abracei ela o mais forte e confortável que podia abraçar. Olhei para Elita e ela também chorava, já Isabela só estava em choque.
- Por que levaram ele? - Isabela se perguntou.
Ninguém respondeu, porque nenhuma das quarto sabia bem o que tinha acontecido. Podia ser alucinação do gás, mas era tudo tão real, e pior, era algo possível de se acontecer aqui dentro.
Elita levantou e correu para o banheiro, pude ouvir ela vomitar, Isabela saiu da cama rápido e entrou no banheiro. Eu ainda estava abraçada com Manuela, que parava de chorar aos poucos.
- Calma - disse Isabela para Elita, que tossia muito - Põe pra fora mesmo, vai fazer bem.
A voz de Isabela era calma e atenciosa, era tão bom ver que ela colocou o choque dela de lado para ajudar Elita. Manuela me apertou antes de me largar e se levantou para procurar alguns lenços de papel, que encontrou eles em uma gaveta cheia de desenhos.
Elita saiu do banheiro e pude ver o quão mal ela estava. Isabela segurava ela com cuidado e arrumava o seu cabelo.
- Eu abri os olhos - Elita disse, fraca - Quando pegaram o Gavin, eu abri os olhos e vi tudo. Vi quando eles colocaram o gás e ele...
Elita colocou a mão no joelho, parecia que iria vomitar novamente, Isabela segurou seu cabelo, mas logo depois soltou quando Elita fez um sinal de que estava tudo bem.
- Ele de repente ficou mole - Elita continuou quase chorando - Os braços caíram e eu senti vontade de segurar sua mão. Ele parecia que tinha morrido.
Agora ela não aguentou e chorou, Isabela a abraçou e a consolou.
- Ele não morreu - Isabela disse - Não podem fazer isso com a gente. O que falariam amanhã?
Manuela soltou um pequeno grito. Todas ficamos em silêncio enquanto ela se virava aos poucos. Ela segurava um papel, mas não parecia que tinha a ver com o barulho que fez.
- Podem falar que os pais dele vieram buscá-lo - ela disse e caiu no chão chorando, mas fui rápida e a segurei.
Manuela chorava tanto que ficamos bastante tempo alí para fazê-la se acalmar. Nesse meio tempo Elita pegou o papel que Manuela tirou da gaveta de Gavin.
- Leslie tá bem - Isabela disse, segurando o rosto da irmã - Cordélia é uma boa pessoa, ela não mentiria.
- E se ela mentiu pra nos proteger? - Manuela perguntou, que já estava mais calma.
Olhei para Isabela e pelo seu rosto, ela também pensou o mesmo que eu. Que era tudo muito possível.
Pensar que alguém poderia ter jeito algo de ruim com Leslie me deixa muito mal, pois alguém tão doce, talvez inocente, não merecia um destino assim, principalmente em um lugar desses.
- Gente - Elita nos chamou, e quando olhamos para ela, virou o pedaço de papel - É do Gavin.
No desenho, um título e data.
"Sonho número 4"; "7/7".
O desenha era o monstro de Lavanda. Só ele, com sua enorme língua. Todo o desenho era roxo, a tinta usada, a caneta para finalizar.
- Isso foi feito antes dele saber da história da Manuela? - disse Elita, assustada.
- Temos que encontrar ele agora! - disse Isabela, que se levantou e foi pegar o seu casaco.
Todas nos arrumamos o mais rápido possível. Elita até pegou a sua faca e escondeu no bolso. Assim que chegamos perto da porta, paramos.
- Por que não fizemos nada antes deles levarem ele? - Isabela se perguntou, baixinho.
- Não estávamos preparadas pra algo assim, não se julgue - disse Manuela, tocando o ombro da irmã.
- Espero que eu tenha quebrado isso direito - diz Elita para si mesma e puxa a maçaneta da porta e ela se abre.
Olhamos para os dois lados do corredor.
- Sem monstro! - disse Isabela, saindo do quarto - Vamos o mais rápido possível.
- Mas pra onde? - Elita pergunta.
Paro um pouco para pensar.
- O sétimo andar! - falo um pouco alto demais.
- Por que você acha que ele tá lá? - Manuela pergunta.
- É o único lugar que não mora ninguém - digo.
- Ela tem razão - Isabela diz - Vamos de escadas, rápido!
E correndo para o outro corredor, mas tentando não fazer muito barulho. Chegamos nas escadas e corremos até os cinco últimos degraus, que de lá fomos mais lentas. Eu abri a porta para o corredor com calma, e não tinha nenhum monstro ou segurança.
Andando mais um pouco pelo corredor, senti um arrepio na minha espinha e o meu estômago revirou. A qualquer momento alguém poderia nos pegar, não sabíamos o que poderia estar nos esperando naquele andar, já que ele tecnicamente era para estar vazio.
Cada uma de nós verificou uma das portas, colocando o ouvido nela e tentando identificar o que havia do outro lado. O primeiro corredor estava vazio, nenhum barulho, nenhuma pista.
No segundo corredor, suor frio desceu pelo meu rosto e pelas minhas costas, causando mais um arrepio. Ficamos alí paradas por alguns segundos com medo de prosseguir, mas demos os primeiros passos e verificamos as portas, já era a terceira porta que eu estava olhando e nada, até que Manuela solta mais um de seus gritos baixos, que Elita logo se pôs a calar ela, Manuela apontou para a porta e Elita tirou a mão de sua boca.
Manuela movimentou os lábios e consegui entender o que queria disser.
- Tem algo aqui.
Elita pegou sua faca e mexeu em alguns fios do leitor de digital junto com Manuela e elas conseguiram desativar depois de alguns segundos. Manuela abriu a porta de leve enquanto Isabela segurava a minha mão com força e eu retribuía o ato.
Manuela olhou dentro e depois olhou para a gente de um jeito estranho, entrei pela pequena abertura que deu na porta, para não chamar tanta atenção. Cada uma entrou de cada vez, e eu fui a primeira a entrar depois de Manuela. Esse quarto claramente não era para nenhum hóspede. Era enorme, cheios de ladrilhos brancos, carrinhos de metal pelo lugar. Era frio e tinha um cheiro insuportável de dentista, com um toque de ferida aberta, que só pude identificar esse cheiro quando lembrei da minha infância e seus machucados. Havia um grande corredor na nossa frente, e só o barulho do ar condicionado e de metais se batendo deixavam aquele lugar menos silencioso.
Manuela era a que mais parecia incomodada com o lugar. Ela parecia ter medo de andar pelo corredor escuro que dava para alguma sala, segurou a mão da irmã e andamos corredor adentro, tentando não fazer nenhum barulho. As batidas do meu coração eram tão fortes que podia ouvir elas. Eu tremia, tremia tanto que tive que segurar as minhas mãos e pousar elas no meu peito para ver se parava.
Abrimos uma porta de vai e vem com cautela e entramos na sala, que era mais fria que a entrada e tinha a aparência de um lugar esterilizado. Nos escondemos atrás de alguns carrinhos de metal e um carrinho de limpeza e ficamos olhando de lá. Elita colocou a mão na boca para não gritar ao ver Gavin em uma cadeira de cirurgia. Ele parecia acordado, mas não reagia. Duas pessoas, que pareciam médicos, entraram por outra porta e foram direto até Gavin.
- Verifica se ele já abriu o olho - disse a mulher para o homem.
O homem verificou, pegou uma lanterna e apontou com ela acessa nos olhos de Gavin.
- Olhos abertos e funcionando normalmente - disse o homem.
- Verifique a pressão - ordenou novamente a mulher.
Olhei para as meninas e Isabela balançou a cabeça, indicando que não fazia ideia do que estava acontecendo.
Enquanto o homem verificava a pressão no braço de Gavin, a mulher pegou um carrinho de metal e puxou para mais perto de si e pegou um bisturi que tinha sido tirado de um saquinho plástico.
- Pressão ideal - disse o homem, se levantando e colocando a máscara no rosto.
- Vou fazer o corte agora - disse a mulher, também colocando a máscara - Já vai chamar Catarina com o chefe, e prepare o cicatrizante.
- Pode deixar - o homem disse antes de deixar a sala de cirurgia.
Não sabia como reagir, ela tinha várias coisas pontudas ao seu lado e não demorou meio minuto e o homem voltou com um vidro em mãos e o colocou sob a mesa de metal.
A mulher se abaixou e fez um pequeno traço de caneta preta na nuca de Gavin, depois de verificar em que local deveria desenhar. Depois disso, preparou o bisturi e o posicionou na nuca do garoto e a penetrou. Manuela colocou a mão na cabeça e Elita não queria ver aquilo e tapava os olhos, já eu não conseguia parar de olhar, queria saber até onde iriam.
Ela fez um pequeno corte. Em nenhum momento Gavin se mexeu ou expressou dor. Assim que ouviram passos se aproximando da porta, ela se afastou e colocou os braços para trás. Meu coração parou naquela hora, eu congelei, poderia ser enterrada, pois era como se eu já estivesse morta. Tentei segurar a minha respiração pesada. Elita olhou e teve a mesma reação, já Isabela começou a chorar, Manuela se negava a assistir aquilo.
O monstro de Lavanda entrou atrás de uma garota, provavelmente essa era a Catarina. Os três naquela sala pareciam tranquilos com o monstro compartilhando a sua presença.
- Bem vindo - disse a mulher que fez o corte - Já pode se posicionar.
O monstro, como se sendo orientado pela mulher, andou mais a frente e se posicionou atrás de Gavin, ele se abaixou e esperou o comando.
- Três - contou o homem, olhando o seu relógio - dois...
O que eles estavam contando?
- Um.
Assim que aquela palavra foi dita, o monstro soltou sua enorme língua e a enviou no buraco da nuca de Gavin, indo bem fundo, o barulho invadiu a minha mente. Gavin levantou a cabeça, mas continuava sem expressão.
Eu quis vomitar, já as outras três, choravam, mesmo que Manuela não visse nada, pois cobria os olhos.
Catarina pegou uma cadeira e se sentou na frente de Gavin, com uma prancheta.
- Ok, Gavin - ela diz, cruzando as pernas e pegando uma caneta - Está pronto?
Gavin não respondeu e os três na sala riram como se aquilo fosse uma piada.
- Você teve algum problema nos últimos tempos? - Catarina perguntou.
- Eu... - Gavin falou, de forma monótona, que nem parecia ele falando - Bebi demais.
- Você continua bebendo? Por que bebe?
- Para tentar esquecer o que eu sinto.
- Ah sim, então peço que você continue, beba até esquecer quem você é, pode fazer isso por mim?
- Sim.
Sinto o carrinho de limpeza tremer, olho para o lado e vejo que Elita estava tremendo de raiva, ela chora, seu rosto está vermelho. Ela não resiste e se levanta, pega a sua faca e a joga em cima de Catarina, que acertou bem em seu ombro. Ela gritava de dor, caiu da cadeira, derrubando tudo que tinha em mãos.
Os outros dois médicos correram em nossa direção, mas Isabela jogou o carrinho de limpeza em cima da mulher, que a derrubou, e eu jogo o carrinho pequeno de metal em cima do homem, que dificulta a sua passagem, mas logo joga o carrinho para o lado, mas deu tempo suficiente para Manuela se preparar e se jogar em uma voadora em cima do homem, que caiu e bateu com a cabeça com força no chão, fazendo um barulho horrível de algo quebrando. Elita se jogou em cima de Catarina e pegou a sua faca. Sangue jorrou por todo lado e Catarina gritou ainda mais, tentando tapar o machucado com as mãos.
O monstro saiu de Gavin e soltou um barulho estranho para a gente.
- Nem vem, filho da puta! - Manuela gritou, jogou um carinho em cima do monstro, que caiu.
Isabela pegou Gavin e colocou o braço dele envolta de seu ombro e o levantou da cadeira. A médica que cortou Gavin tentou impedir aquilo, mas Elita, gritando alto, a empurrou até a parede e gravou a faca em sua mão e depois a retirou.
- FI-CA! - Elita gritou e a mulher se abaixou, com uma mão na outra, chorando de dor.
As meninas correram para a saída, mas eu vejo o frasco que foi nomeado como o cicatrizante em cima da mesa e corri para pegá-lo, pois sabia que seria importante.
Mas assim que o pego, o monstro me joga para longe com um só empurrão. Sou jogada com força na parede, mas permaneci com o frasco bem firme na mão. O monstro correu até mim e eu só chutei ele, que foi um pouco para trás, mas voltou a correr em minha direção e me pegou pelo pescoço. Ele me levantou e eu não podia tocar o chão. Suas mãos ossudas apertavam o meu pescoço com força e eu sentia todo o oxigênio no meu corpo saindo dele. Sua língua foi em direção ao meu rosto, parecia que ele apreciava ao me ver morrer.
Assim que sua língua fria e molhada tocou o meu rosto, eu usei minhas últimas forças para socar as suas costelas, soquei o mais forte que podia, pois aquilo dependia para me manter viva. No quinto soco, o mais forte e o que decidiria se eu ficava viva ou não, ouvi algo quebrar e o monstro me soltou.
Caí no chão tonta e procurei o frasco que havia caído da minha mão, e os gritos de agonia do monstro não me deixavam melhor. Achei o frasco e me levantei, ainda tonta, andei alguns passos a frente e escorreguei em uma poça de sangue enorme que foi feita pela cabeça rachada do homem que Manuela derrubou, soltei um grito de susto. Só sujei a mão que segurava o frasco. Corri para o final do quarto. Saí dele e Elita já me abraçou forte, percebi que ela chorava.
- Pensei que tinha te perdido - ela disse, entre soluços.
Ela saiu do abraço e olhou para a minha mão.
- De quem é esse sangue? - ela perguntou.
- Não é meu - eu digo rápido.
Elita passa rápido a mão no meu rosto e sorri.
- A gente precisa sair daqui o mais rápido possível - disse Isabela, que ainda segurava o Gavin, que sangrava - Acho que o Gavin tá morrendo!

32. A Morte na Porta ao Lado

ISABELA
Gavin podia ser magro mais era muito pesado, segurar ele era muito difícil, principalmente por ele estar dopado. O sangue que saía da ferida aberta de sua nuca sujava todo o meu ombro e escorria pelo meu braço. Ele parecia mais fraco que antes. Assim que quase deixei ele cair, Elita colocou o outro braço dele em volta de seu ombro e me ajudou a carregar.
- Elevador! - digo, tentando me manter firme - Rápido!
Melanie ia na frente enquanto Manuela era a nossa guarda costas, olhando para a porta de onde saímos para ver se não vinha nada atrás da gente. Elita e eu nos esforçamos para sermos as mais rápidas possíveis, mas parecia bem mais fácil carregar um corpo em filmes, pois na vida real era difícil para caralho. Mesmo eu sendo forte e com a boa ajuda de Elita, era difícil de fazer esse trabalho.
Apressamos o passo quando chegamos perto do elevador, quase corríamos, e isso fez com que quase deixássemos o corpo de Gavin cair, que se esforçava para se manter acordado. Melanie apertou o botão para chamar o elevador uma vez, mas quando ele não abriu, ela começou a se desesperar e apertar vezes, vi que ela chorava de desespero.
- PORRA! - ela gritou e bateu no botão com força - Ele não tá funcionando!
- E agora? - Manuela falou rápido demais, quase não entendi pela sua voz trêmula.
Passamos alguns segundos pensando o mais rápido que podíamos quando ouvi algo abrir uma das portas com força no outro corredor. Melanie se pôs a frente da gente, junto com Manuela.
- Rápido! - disse Manuela, quase chorando, catarro descia de seu nariz - O que fazemos agora?
- PASSAGEM! PASSAGEM! - eu grito e Gavin se contorce pelo incomodo - As passagens secretas.
- Tá, mas onde? - Elita perguntou, desesperada, pois os passos do monstro estavam cada vez mais próximos.
- Não sei - digo, minha respiração estava ofegante - Não tinha escada para o sétimo andar.
- E se tiver? - Manuela pensa rápido - E se a gente não olhou direito e havia uma escada? É a nossa única opção!
Começamos e nos desesperar e a chorar, sentia a morte chegando cada vez mais perto. Manuela começou a chutar as paredes para ver se encontrava algo e Melanie andou mais um pouco a frente, lentamente.
- Melanie? - Elita chamou - Vem pra cá, tá fazendo o quê?
E como se fosse uma boneca de pano, Melanie foi levantada no ar, mole. Ela se virou para a gente, como se realmente fosse uma boneca sem esqueleto, sua cabeça chegou a inclinar para o lado. Pude ver, pela pouca luz que tínhamos, que seus olhos estavam totalmente brancos e seu semblante era neutro.
Como se controlada por uma criança, o corpo sem vida de Melanie se afastou até perto do elevador e caiu de frente a uma parede. Ela balança a cabeça e olha para gente. Seus olhos estavam normais dessa vez.
- O que aconteceu? - ela perguntou, quase que sonolenta.
- Não importa agora! - disse Elita, desesperada - Empurra essa parede!
Melanie olhou para a parede em sua frente e a empurrou, mostrando uma porta para uma sala escura. Ela entrou e chamou a gente muito rápido, Elita entrou para me ajudar a colocar Gavin dentro da sala, e assim que quase colocamos ele lá, olhei para o fim do corredor e vi que o monstro, mesmo que andando devagar por alguma dor, estava vindo em nossa direção. Meu coração disparou, eu comecei a chorar e só queria que Gavin continuasse vivo.
- Vamos! - eu gritei e Elita e Melanie puxaram Gavin para mais dentro do quarto, que deu passagem para entrar. O monstro estava metade do caminho e eu caí no chão, machucando meus joelhos e entrei o mais rápido possível dentro da sala, chorando e caindo de lado ao passar a mão para tirar o catarro que descia do meu nariz.
- NÃO! - Elita e Melanie gritaram muito alto, chorando e se jogando no chão.
Ao me virar vi Manuela de joelhos e cuspindo sangue, seu rosto sem expressão, só fazemos algum movimento para a minha direção. A mão no monstro ultrapassava o seu peito, e ele a mexia, fazendo minha irmã cuspir ainda mais sangue, que manchava o chão.
Gritei, me debati, tentei correr de joelhos até ela, que estendia a sua mão para mim como um pedido de ajuda, mas Elita me segurou. Eu gritei ainda mais, estendendo a mão, fazendo de tudo para chegar perto dela e não a deixar sozinha. Para morrer junto com ela.
O Monstro girou o seu braço, o que fez Manuela cuspir mais sangue e se debater de dor. Eu só chorei, senti uma parte de mim sendo arrancada e dilacerada, sendo atingida por mil balas e cravada com vidros.
- Manuela - minha voz já estava fraca de tanto gritar, mas não desistiria de chamar ela, mesmo que pela última vez.
Estendi a minha mão e ela estende a dela, que segura a porta, usando suas últimas forças para se jogar para trás, distanciando o monstro de nós e fechando a porta.
Eu caí, desabei, meu corpo ficou pesado e nem eu o aguentava mais. Vomitei no chão inteiro. Enquanto minhas lágrimas caíam e meus olhos pesavam, pude ver o sorriso de Manuela, toda a sua felicidade e determinação, sua força e sua vida. Todos tirados pela mesma coisa. Todos tirados no mesmo instante.
Meu coração foi tirado de mim.
Caí no chão por isso.
Queria que ele parasse de bater.
Mas a pessoa que o roubou o apertou forte o bastante para me machucar.
Fraco o suficiente para não me matar.
Covarde o bastante para fazê-lo parar de bater.
E eu juro que queria que ele me matasse junto com o meu coração.

Lavanda (Fanfic Melita)Onde histórias criam vida. Descubra agora